Significado de 2 Tessalonicenses 1:6-10

Paulo continua sua explicação sobre como Deus recompensaria aos crentes por suportarem o sofrimento: Afinal, é justo que Deus retribua com aflição aqueles que vos afligem, e dê alívio a vós que estão aflitos, e também a nós. Paulo parece estar dizendo que Deus estava orquestrando as circunstâncias de modo a permitir que cada pessoa mostrasse suas verdadeiras intenções, a fim de que todos recebessem o que lhes é devido. Neste caso, os que afligiam aos tessalonicenses seriam recompensados com aflição e os crentes que estavam sofrendo pelo nome de Cristo receberiam alívio, assim como Paulo e seus companheiros esperavam receber alívio.

Muitos lugares nas Escrituras deixam claro que a ira de Deus é derramada sobre aqueles que escolhem o pecado, permitindo-lhes alcançar o que desejam. Deus os entrega a seus próprios desejos para se tornarem escravos/viciados em suas próprias paixões (Romanos 1:24, 26, 28; Tiago 1:14-15). No caso dos perseguidores dos tessalonicenses, Deus os julgaria de maneira semelhante a como eles estavam perseguindo aos tessalonicenses. Deus retribuiria com aflição aos que afligiam aos tessalonicenses.

A justiça de Deus, na maioria das vezes, se manifesta através de uma dessas duas categorias:

1. Ele permite que as pessoas escolham obter consequências autodestrutivas; ou
2. Ele causa o mesmo mal que os abusadores desejam aos outros.

Isso se encaixa a um dos princípios de Jesus no Sermão da Montanha:

"Porque, do modo como julgais, sereis julgados; e pelo mesmo padrão de medida sereis medidos" (Mateus 7:2).

Deus pode executar a justiça a qualquer momento, mas certamente julgará a terra e tudo o que há nela após o retorno de Jesus, algo ao qual Paulo abordará com mais detalhes no capítulo 2. O alívio no julgamento que Deus trará consigo certamente virá quando o Senhor Jesus for revelado do céu com Seus poderosos anjos em fogo flamejante.

O fogo flamejante da presença de Jesus representa a Deus como Juiz do mundo. Deus é frequentemente descrito como fogo: "Porque o nosso Deus é um fogo consumidor" (Hebreus 12:29, Deuteronômio 4:24). O julgamento de Deus é frequentemente representado pelo fogo (1 Coríntios 3:10-17; Isaías 66:15-16; Hebreus 10:26-27; 2 Pedro 3:7). O fogo do julgamento de Deus consumirá aos abusadores, Seus adversários, mas não afetará a Seu povo (Hebreus 10:26-27). Para o povo de Deus, Seu fogo de julgamento queimará a todas as obras injustas para aqueles que eles se acheguem à Sua presença e recebam recompensas pelas obras realizadas enquanto viviam nesta terra (2 Coríntios 5:10). Como Paulo diz aos crentes em Corinto, falando sobre o Tribunal de Cristo:

"O trabalho de cada um se tornará evidente; pois o dia o mostrará, porque deve ser revelado pelo fogo; e o próprio fogo testará a qualidade do trabalho de cada homem. Se a obra de qualquer homem permanecer, ele receberá recompensa. Se a obra de alguém for queimada, sofrerá perda; mas ele mesmo será salvo, ainda que seja através do fogo" (1 Coríntios 3:13-15).

O fogo descrito em 1 Coríntios provavelmente seja o fogo da presença de Jesus (Daniel 7:9-10; Apocalipse 22:5).

Nesta vida, aqueles que buscam conforto e evitam a perseguição, ao invés de suportar a perseguição como testemunho fiel e corajoso de sua fidelidade, serão salvos da destruição eterna porque Deus nunca rejeita a Seus filhos. Ele sempre será sua herança (Romanos 8:17a). No entanto, essas pessoas experimentarão a destruição de parte ou de toda a recompensa da herança (Colossenses 3:23; 2 João 1:8). Eles estarão no céu, mas não entrarão no Reino e não receberão plenamente seus benefícios (nem aqui nem na nova terra).

O caminho para a maior das recompensas é seguir à vontade de Deus. Paulo deixa claro que fazer a vontade de Deus significa lutar pela nossa santificação (1 Tessalonicenses 4:3). Paulo detalha sobre a santificação em ambas as cartas aos tessalonicenses:

1. Pureza sexual — servir ao invés de explorar (1 Tessalonicenses 4:3)

2. Trabalho duro: "Quem não trabalha, não come" (1 Tessalonicenses 4:11, 2 Tessalonicenses 3:10)

3. Julgar-se a si mesmo, não aos outros (1 Tessalonicenses 4:11-12, 2 Tessalonicenses 3:11-12)

Cada uma destas escolhas gera dificuldades ao vivermos neste mundo. Ao servirmos uns aos outros somos inevitavelmente "recompensados" com mais oportunidades para servir. Ao cumprirmos responsabilidades, atrairemos responsabilidades ainda maiores. Ao dizermos a verdade, atrairemos rejeição. Podemos abraçar esta vida como um campo de provas para uma grande herança, ou desperdiçá-la como Esaú desperdiçou sua herança, preferindo uma tigela de ensopado (Gênesis 25:31-34; Hebreus 12:16-17). Este quadro bíblico demonstra a importância de exercitarmos a disciplina de esperar por uma bênção maior mais tarde. Esaú apreciou seu ensopado, mas aquele foi apenas um prazer momentâneo. Anos depois, quando chegou a hora de assumir o manto de liderança em sua família, ele foi preterido, já que havia vendido seu direito de primogenitura. Da mesma forma, podemos fazer escolhas nos trarão prazer e conforto momentâneos nesta breve vida, algo como o vapor (Tiago 4:14). Se o fizermos, perderemos a recompensa de compartilhar o trono de Cristo reservado àqueles que superaram as dificuldades deste mundo como testemunhas fiéis (Apocalipse 3:21).

Quando Jesus voltar, Ele será revelado do céu. Isso é consistente com o que os anjos disseram aos discípulos depois que Jesus subiu do Monte das Oliveiras:

"Varões da Galiléia, por que estais olhando para o céu? Este Jesus, que foi levado de vós para o céu, virá da mesma maneira que O vistes subir" (Atos 1:11).

Quando Jesus voltar à terra, Ele colocará os pés no Monte das Oliveiras novamente e desta vez o Monte se dividirá em dois (Zacarias 14:4).

Quando Jesus voltar, Ele voltará com Seus poderosos anjos. A palavra “anjos” aqui significa "mensageiros". Parece referir-se aos anjos celestiais, como ocorre na maioria dos casos em que a palavra ocorre nas Escrituras. Se este for o caso, parece que os exércitos de Apocalipse 19:14 que acompanham a Jesus em Seu retorno à terra incluem os anjos celestiais. Também pode ser que este termo inclua os santos de Deus que retornam com Ele.

Quando Jesus voltar, Ele dará a retribuição àqueles que não conhecem a Deus e àqueles que não obedecem ao Evangelho de nosso Senhor Jesus. A palavra “obedecer” aqui é o termo grego "hypakouō", significando "ouvir"; assim, essas pessoas são os incrédulos que não deram ouvidos ao Evangelho de nosso Senhor Jesus, rejeitando a mensagem e o chamado para crerem Nele. Eles não receberam o dom gratuito da salvação eterna. Usando a imagem de João 3 e eles se recusaram a "olhar para a serpente no poste" e, portanto, escolheram a morte (João 3:14-15).

Essas pessoas que não crêem em Jesus pagarão a pena da destruição eterna, longe da presença do Senhor e da glória de Seu poder. O "lago de fogo" é o destino final de todo aquele que rejeita o dom gratuito de Deus para perdão de seus pecados com base na morte e ressurreição de Jesus (Apocalipse 20:15). Este é o lago de fogo ao qual a morte e o Hades serão lançados, assim como o diabo e seus anjos, juntamente com a besta e o falso profeta (Apocalipse 19:20; 20:10; 20:14).

Felizmente, Jesus pagou o preço para que evitássemos esse terrível destino. Podemos evitar o lago de fogo e escolher o céu como nosso lar eterno ao reconhecermos nossa morte espiritual eterna, proveniente do veneno do pecado, e olhamos para Jesus (João 3:14-15).

Para os crentes, o retorno de Cristo será um momento maravilhoso, especialmente à luz dos sofrimentos pelos quais eles estiverem passando. Ele virá para ser glorificado em Seus santos naquele dia e a ser maravilhado entre todos os que creram — pois nosso testemunho foi acreditado.

Paulo tentava motivar os tessalonicenses a continuarem a resistir às perseguições. Deus julgaria àqueles que os perseguiam; eles precisariam esperar, mas iria acontecer. Jesus é o fogo flamejante do julgamento. Quando retornar à terra, Jesus vem para ser glorificado. Esta glorificação será em Seus santos. Seu povo, aqueles que perseverarem fielmente, farão parte da glória de Jesus. O termo "glória" (do grego "doxa") significa algo ou essência observada verdadeiramente (1 Coríntios 15:40-41). Paulo diz algo semelhante a respeito de sua própria recompensa na presença de Jesus em sua primeira carta aos tessalonicenses:

"Pois quem é a nossa esperança, alegria ou coroa de exultação? Não sois vós, na presença de nosso Senhor Jesus em Sua vinda? Porque vós sois a nossa glória e alegria" (1 Tessalonicenses 2:19-20).

Uma das recompensas substanciais no céu será a alegria de conhecermos a outros crentes que conseguiram ser testemunhas fiéis, em particular aqueles a quem discipulamos ao longo do caminho. No caso de Jesus e Paulo, parece haver um sentimento de orgulho paternal pelas realizações espirituais de seus filhos.

Aparentemente, os crentes terão novos olhos para ver a Jesus de uma nova maneira, talvez porque tenham ressuscitado com novos corpos, pois Jesus será maravilhado entre todos os que creram. A frase “todos os que creram” indica que esta recompensa será dada a todos os crentes. Isso faz sentido, haja vista que todo crente viverá para sempre na presença de Jesus (1 Tessalonicenses 4:17).