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Significado de Gênesis 15:5-6

Abrão creu na promessa de Deus e, por causa de sua fé, Deus o considerou justo.

Deus tira Abrão de sua tenda e diz: “Olhe para os céus e conte as estrelas, se as puderes contar”. Deus mostra as estrelas a Abrão, indicando a abundância de seus descendentes (Deuteronômio 1:10). Em outras palavras, seus descendentes seriam inúmeros, mais do que podereiam ser contados. Não é possível alguém "contar" as estrelas, mas Deus as enumera e nomeia (Salmos 147:4; Isaías 40:26). “Assim será a tua semente.” Em Gênesis 13:16, Deus havia prometido descendentes tão numerosos quanto o pó da terra; neste versículo, Deus diz que eles seriam tão numerosos quanto as estrelas do céu.

Abrão fora recompensado por sua fé em ação. Agora, entretanto, no versículo 6, a fé de Abrão em uma promessa futura é considerada como justiça. Deus lhe promete: “Assim serão teus descendentes”, referindo-se ao número das estrelas. Abrão creu no Senhor; ele cria em seu coração que o que Deus dizia era verdade. Deus o considerou como justo a Seus olhos unicamente por causa de sua fé, simplesmente porque ele creu que Deus cumpriria Sua promessa.

Nenhuma evidência externa de fé é apresentada aqui. Não há uma exigência de ação futura. Abrão é declarado justo unicamente porque creu. Como leitores desta história, sabemos que Abrão creu na promessa de Deus porque Ele nos revela o coração de Abrão. Se não tivéssemos essa informação, não saberíamos. Porém, Deus faz de tudo para não apenas nos mostrar o coração de Abrão, mas também Sua resposta ao coração de Abrão: Ele declara Abrão justo a Seus olhos. O apóstolo Paulo cita essa promessa para mostrar a natureza da fé de Abrão: "Ele creu contra a esperança, tornando-se pai de muitas nações, de acordo com o que havia sido dito: Assim serão os teus descendentes" (Romanos 4:18). Abrão creu, apesar da realidade humana.

Na carta de Paulo aos Romanos, ele usa Gênesis 15:6 para apoiar sua afirmação de que a justiça aos olhos de Deus é apenas uma questão de fé, em contraste com as "autoridades" judaicas, que sustentavam ser necessário também seguir às leis judaicas para ser visto como justo aos olhos de Deus (Romanos 4:2-4). Paulo enfatiza que a fé de Abrão neste ponto não estava ligada a uma recompensa por obras (Romanos 4:4). Ao contrário da abertura desta passagem, onde Abrão é recompensado por suas obras (Gênesis 15:1), aqui ele é considerado justo por sua fé.

Paulo diz a mesma coisa em sua carta aos irmãos da Galácia, citando Gênesis 15:6 em Gálatas 3:6. Paulo afirma que todos aqueles que crêem como Abraão havia crido são "filhos de Abraão" (Gálatas 3:7), incluindo os gentios, que eram incircuncisos antes de crerem em Jesus, assim como Abraão era incircunciso neste ponto da história em Gênesis. Paulo ressalta ainda que ser considerado justo aos olhos de Deus não tinha nada a ver com a Lei. Neste ponto, a Lei ainda estava distante quatrocentos anos no futuro (Gálatas 3:17-18). Os escritos de Paulo ecoam a distinção entre as recompensas por atos de fé e a justificação aos olhos de Deus baseada apenas na fé. Assim, de acordo com a história de Abraão e de acordo com os escritos de Paulo, Deus considera as pessoas como justas puramente por causa de sua fé, sem relação alguma com suas ações. Porém, ele recompensa a fé em ação. Somos considerados justos por causa da nossa fé e somos recompensados quando vivemos essa fé. De acordo com o sermão de Estêvão em Atos 7, Abrão creu em Deus e foi considerado justo a Seus olhos provavelmente quando ainda estava em Ur.

Gênesis 15:6 é um dos versículos mais significativos das Escrituras. Alguns dizem que é o versículo-chave de todo o Antigo Testamento. É citado quatro vezes no Novo Testamento. Duas referências já foram anotadas (Romanos 4:3 e Gálatas 3:6). O versículo também é citado em Romanos 4:22 e Tiago 2:23. Este capítulo foi aberto abordando o medo e a preocupação de Abrão; aqui, porém, temos uma declaração firme de que Abrão permanecia firme em sua fé em Deus. Abrão creu que Deus podia fazer e realmente faria o que havia prometido. A palavra "crer" é a palavra hebraica “amã”, significando “depositar confiança”. É uma forma verbal que indica uma ação concluída, ou seja, algo que começoiu e terminou. Nada mais era necessário para que Abrão fosse justificado aos olhos de Deus. Abrão creu, no que Deus havia declarado. A transação estava finalizada.

A palavra hebraica "Chashab", às vezes, é traduzida para como “contado” ou “creditado”. Ou seja, significa “valor atribuído” a algo. Neste caso, Deus atribui à fé de Abrão o valor da justiça. A palavra "justiça" em hebraico é “tsâdaqah” e significa "conduta irrepreensível" ou alguém que está em "posição correta" diante de Deus. Em outras palavras, "comportamento irrepreensível que se ajusta a um padrão estabelecido". Muitas vezes a justiça é definida em termos de conduta moral. Esta é a experiência da justiça diante dos homens. Por exemplo, Ezequiel 18:5 diz: "Se um homem for justo [e] fizer o que é de equidade e justiça ". Em seguida, há uma lista de ações proibidas no Pentateuco (primeiros 5 livros do Antigo Testamento) das quais o homem justo deveria se abster (Ezequiel 18:6-9). Porém, aqui em Gênesis, Abrão não é descrito como alguém que "fez" justiça. A justiça praticada aqui não foi diante dos homens, pois Abrão não fez absolutamente nada. Ele simplesmente creu no que Deus havia prometido. Sua fé em crer na promessa de Deus é contada, creditada ou designada para a justiça. Não há como se alcançar justiça aos olhos de Deus pelas obras. A aceitação de Deus vem apenas através da fé. A justificação aos olhos de Deus é algo que recebemos pela fé, não algo que merecemos.

O relacionamento de Abrão com Deus era fundamentado em sua fé em Deus. Deus o contou como justo porque Abrão creu. Esta é a única forma de a humanidade ser aceita por Deus.

A aceitação de Deus é incondicional e não envolve ação alguma. Por outro lado, agradamos a Deus e alcançamos Suas recompensas quando colocamos nossa fé em ação (Hebreus 11:6). Crer em Deus e agir de acordo com essa fé é sempre o caminho para agradarmos a Deus. Caim desagradou a Deus, enquanto Abel agradou a Deus por causa de sua ação baseada na fé (Hebreus 11:4). Considere Noé, que "tornou-se herdeiro da justiça que está de acordo com a fé" por causa de sua fidelidade ao construir a arca (Hebreus 11:7).  Se, por um lado, a aceitação de Deus é concedida unicamente com base no coração, por outro lado, para agradarmos a Deus precisamos colocar nossa fé em ação. Abrão foi recompensado por ter colocado sua fé em ação. Porém,o patriarca foi declarado justo unicamente porque creu, sem nenhuma ação.

A justiça aos olhos de Deus é uma dádiva divina ao homem, não algo que ele alcança por si só. A Bíblia nos mostra isso em Efésios: "Porque pela graça sois salvos pela fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9). No entanto, para vivermos uma vida justa diante dos homens requer colocarmos nossa fé em ação. Isso é demonstrado no versículo seguinte de Efésios 2: "Porque somos obra dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, que Deus preparou de antemão para que andássemos nelas" (Efésios 2:10). Deus nos aceita e nos torna novas criaturas em Cristo incondicionalmente; recebemos esta dádiva pela fé. O propósito que temos como nova criação é fazer as boas obras que Deus preparou para andarmos nelas. O mesmo Deus que preparou essas obras nos promete grandes recompensas se as realizarmos fielmente. Este padrão é consistente de Gênesis a Apocalipse.

Nos casos de Noé e Abrão, sua fé foi creditada como justiça. Da mesma forma que Abrão, Noé encontrou graça e favor aos olhos do Senhor por causa de sua fé (Gênesis 6:8). Porém, eles também foram vistos como justos aos olhos dos homens e receberam grandes recompensas como resultado de suas obras. Noé obedeceu a Deus e construiu uma arca. Abrão obedeceu a Deus e se dispôs a sacrificar Isaque. Em cada caso, eles foram considerados justos antes de suas ações.

Deve-se notar que a fé de Abrão foi considerada como justiça antes de pessoalmente ser circuncidado como sinal da aliança com Deus, mais de 400 anos antes que a lei fosse dada a seus descendentes. Antes de Abrão ser contado como justo por seus atos ou pela obediência às leis, ele foi considerado justo por causa de sua fé. Portanto, nem a circuncisão nem a lei tiveram parte alguma na justiça de Abrão. Em última análise, todos os que pertencem a Cristo são filhos espirituais de Abrão. "Os da fé são filhos de Abraão" (Gálatas 3:7).

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