Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Tiago 1:19-21

Os crentes são libertos da queda espiritual ao rejeitarem o mal e receberem a palavra implantada, crescendo na justiça de Deus.

De várias maneiras, esta passagem é tanto uma ênfase quanto uma transição. Tiago novamente apresenta o tema essencial de sua carta, ou seja, as escolhas de perspectivas produzem consequências. Podemos escolher a perspectiva verdadeira e alcançar recompensas incríveis na vida, incluindo a coroa da vida. Ou podemos escolher o pecado e colher a triste recompensa da morte (em diferentes formas).

Tiago se refere à afirmação anterior nos versículos 17-19 de que toda as boas dádivas vêm de Deus. Não há bondade duradoura deste mundo. O que vem do mundo é o pecado e a morte. O que vem de nossos próprios desejos/cobiças é o pecado que nos leva à morte. A verdadeira vida vem de Deus. Tiago observa: Isso sabeis, meus amados irmãos. Tiago está falando com os judeus crentes em Jesus. Eles conhecem as Escrituras, eles sabem que Jesus era o Messias. Tendo sido expostos às terríveis consequências de cederem à carne e após aprenderem que toda boa dádiva vinha de Deus, os leitores agora estavam preparados para agir. A ação que Tiago oferece parece, à primeira vista, ser fora do seu tema. Tiago diz:

Mas todo homem seja pronto para ouvir, tardio para falar e tardio para irar-se; porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus.

Isso deixa a pergunta: Qual é a conexão entre ouvir, buscando evitar ser enganados pelo mundo ao seguirmos nossas cobiças e colhendo o pecado que resulta em morte? Como o ato de ouvir nos conecta com as coisas de Deus? Dar ouvidos às vozes à nossa volta não nos levaria para longe de Deus, ao invés de nos levar para mais perto de Deus?

A resposta está no versículo seguinte. Tiago ordena a seus ouvintes:

Portanto, deixando todo costume imoral e toda má conduta, aceitem com humildade a mensagem que Deus planta em vossos corações, a qual pode salvá-los.

A chave para deixarmos de lado o costume imoral e a má conduta que habitam em nosso velho homem, a carne, é substituí-los pela palavra plantada em nós. Seria como um transplante de coração. Como recebemos o plantio da palavra? Precisamos ouvir a Deus, ouvir à Sua palavra e com recebê-la humildade. Como aprendemos a ouvir a Deus, a quem não vemos? Primeiro aprendemos a ouvir às pessoas a quem conseguimos ver. Esta é a conexão com o versículo anterior, no qual Tiago instrui os irmãos a ser prontos para ouvir e tardios para falar. Ao aprendermos a ouvir aos outros, ao olharmos para suas perspectivas e avaliarmos o que é ou não verdadeiro, desenvolvemos a habilidade de ouvir a Deus, entender a sabedoria e inseri-la em nossas vidas.

Assim, agora entendemos a conexão que Tiago faz com as três coisas às quais controlamos:

  • Controlamos em quem ou no que confiamos. Tiago nos exorta a confiar em Deus, que dá sabedoria e boas dádivas a todos os que pedem com fé. Se confiarmos que a recompensa de Deus é verdadeira e melhor do que qualquer coisa que o mundo pode nos dar, estaremos no caminho certo.
  • Controlamos a perspectiva à qual escolhemos. Tiago nos exorta a escolher uma perspectiva que enxergue as circunstâncias como provações, alegrando-nos por termos a oportunidade de superá-las e amadurecer em nossa fé, o que nos leva à maiores recompensas nesta vida e na era por vir.
  • Controlamos o que fazemos. Tiago nos exorta a aprender a ouvir outras pessoas, buscando enxergar suas perspectivas, que podem ou não ser verdadeiras. Isso, por sua vez, nos treina a ouvir a Deus, a ver Sua perspectiva, que é sempre verdadeira. Devemos receber a palavra de Deus e implantá-la em nossas almas. Isso, por sua vez, nos livrará de escolher seguir às cobiças dentro de nós, os costumes imorais e as más condutas contidas em nossa velha natureza.

Os costumes imorais e as más condutas que Tiago nos exorta a abandonar é nada mais, nada menos que nossa "própria cobiça" (Tiago 1:14). Essa "cobiça" nos leva ao pecado, que nasce e cresce até se tornar morte (Tiago 1:14-15). Não conseguimos nos livrar de nossa velha natureza, referida pelo apóstolo Paulo como a "carne" (Romanos 7:15-20). Não conseguimos nos livrar dela, mas podemos deixá-la de lado. O fato de Tiago usar “deixando” ao invés de "deixar" indica a realidade de uma ação contínua, uma necessidade contínua. Deixar de lado a carne não é um evento único. A cobiça estará sempre lá, por isso precisamos continuamente nos esforçar por deixá-la de lado.

Como abandonar os costumes imorais e as más condutas (cobiça) dentro de nós? Precisamos substituí-los pela Palavra de Deus.

A Palavra de Deus deve ser recebida com humildade. Humildade é ver a realidade como ela é. Isso sempre significará ver o mundo da mesma maneira que Deus o vê, pois Deus é a fonte e a essência da verdade (Deuteronômio 32:4; Romanos 2:21 João 4:6). Mais do que apenas ouvir às pessoas ao nosso redor, precisamos compreender suas perspectivas, ver o que eles vêem. Suas perspectivas podem ou não ser verdadeiras. Porém, quando nos aproximamos de Deus em humildade, alcançamos a perspectiva de Deus, pois Seus caminhos são sempre corretos e verdadeiros. Os caminhos de Deus, portanto, sempre nos levarão ao melhor lugar.

Este paradoxo de deixarmos de lado a nós mesmos para obtermos nossa maior realização ecoa os ensinamentos de Jesus, que ensinou a Seus discípulos:

"Se alguém quiser vir depois de Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder a vida por Mim a encontrará" (Mateus 16:24-25).

Tiago nos dá um pacote prático para a vida cristã, abordando uma variedade de verdades essenciais rumo à maturidade, enquanto ao mesmo tempo adverte os crentes sobre o perigo de se desviarem da verdade. O livro está focado no crescimento espiritual e na prática da fé cristã dos irmãos. Nos versículos 19-21 do capítulo 1, Tiago enfatiza o mesmo ponto. Porém, ele prossegue para a experiência internalizada e pessoal com a justiça de Deus.

Tiago afirma que a raiva humana não produz o que Deus aprova. Tiago não está falando aqui da justificação aos olhos de Deus. Aqueles que crêem são considerados dignos da justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo e são enxertados em Seu corpo (Romanos 3:22-23). Não há nada que possamos fazer para alcançar a justiça aos olhos de Deus. No entanto, podemos alcançar a experiência da justiça de Deus ao caminharmos em obediência e em fé, permitindo que o poder da ressurreição de Jesus flua através de nós.

Tiago nos instrui a trilhar um caminho ativo e contínuo de fé, de tal forma que a justiça de Deus se torne nossa experiência. Exibimos a justiça de Deus quando andamos em Seus caminhos, pela fé.

Experimentar o fruto da justiça de Deus requer andar pela fé (Romanos 1:16-17). Este é o processo da santificação. É assim que a justiça de Deus é alcançada. É importante notar que a forma do mundo alcançar a "justiça" (de acordo com sua definição) é através da raiva. Os seres humanos são propensos a usar a raiva e a violência para tentar controlar os outros e dobrá-los à sua vontade. A "justiça" mundana busca "alinhar" nossos atos com seus valores e exigências. Essas exigências são, muitas vezes, impostas através da raiva e da violência. Este é o caminho do mundo. Este não é o caminho do Reino de Deus.

A justiça de Deus é alcançada através da busca por compreender as pessoas, ouvindo-as e, em seguida, tratando-as de maneira consistente com a Palavra de Deus. A justiça de Deus é alcançada através da busca de ações provenientes do amor (1 Coríntios 15:3).

No modo de pensar de Tiago, tornar-se como Cristo não é simplesmente uma questão de fazer coisas justas, mas sim de viver de dentro para fora, como alguém que exibe a justiça de Deus. Isso requer substituir as nossas "cobiças" internas pela Palavra de Deus plantada em nossas almas. Quando vivemos pela Palavra de Deus, em vez da concupiscência da carne, ela é capaz de salvar nossas almas da imundície e maldade de nossas próprias concupiscências que desejam nos levar à morte.

A menção a ser prontos para ouvir (Tiago 1:19b) está colocada entre dois pontos importantes: (1) Tiago está se dirigindo a irmãos amados (Tiago 1:19a); e (2) Tiago está preocupado com a retidão de suas vidas para a salvação de suas almas (Tiago 1:20). Os irmãos amados já eram crentes em Jesus e, como tal, tinham a garantia de que viveriam com Jesus no céu (João 3:16; João 5:24, João 10:27-29; João 14:16Romanos 8:38-39; 2 Coríntios 1:22; Efésios 1:36; Cl 1:13-14). Esta é a grande dádiva de sermos adotados na família de Deus, o Doador de toda boa dádiva, nosso Pai (Tiago 1:16-18).

Uma vez que os irmãos amados estavam seguros no amor do Pai, a frase “salvar suas almas” (vidas) deve referir-se às suas almas sendo libertas de algo diferente do que o julgamento eterno no inferno. É sempre importante entender uma palavra em seu contexto. Quando lemos a palavra "salvar" ou "salvação" precisamos discernir do contexto do que ou quem está sendo salvo do quê ou de quem. A palavra “salvar” (do grego "sozo") significa "algo que está sendo liberto de algo", como em Atos 28:4, onde Paulo diz ter sido "salvo" do mar. Neste caso, Paulo foi liberto do afogamento. Outro exemplo é a mulher que foi "sozo" de um fluxo sanguíneo (Mateus 9:21). Neste caso, o termo "sozo" foi corretamente traduzido como "curada", porque a mulher foi liberta da doença ao tocar a roupa de Jesus.

O que está sendo libertado de que em Tiago 1:20? A alma (a vida) do crente é liberta de sua própria cobiça que o leva ao pecado e à morte (Tiago 1:13-15). A alma do crente é liberta da maldade e da imundície que habitam em sua carne. O caminho para sermos libertos das consequências adversas do pecado e da morte das quais fala Tiago 1:13-15 é substituir a liderança lasciva da carne pela Palavra de Deus.

Tiago enfatiza a importância desse entendimento antes de avançar em seu tópico sobre o crescimento dos crentes rumo a uma fé madura. Toda a carta de Tiago presume que os irmãos amados já haviam sido plenamente aceitos por Deus como filhos.

Ao dizer anteriormente: Isto sabeis, meus amados irmãos, Tiago reconhece entendimento dos irmãos quanto a esta verdade. Agora, ele iusa da praticidade do formato poético para nos exortar a ser prontos, tardios e tardios. Prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para se irar. A sabedoria muitas vezes aplica formas piedosas ao mesmo tempo óbvias e profundas. O estoico Epíteto é conhecido por concluir que temos dois ouvidos e uma boca para podermos ouvir o dobro do que falamos.

Os dois primeiros itens – pronto e lento – reconhecem o poder e a humildade de ouvir e calar antes de falar. O ato de falar é, em si mesmo, uma forma fácil de cairmos em pecado, conforme Tiago desenvolve em seu terceiro capítulo. O livro de Provérbios afirma o mesmo ponto:

"Quando há muitas palavras, a transgressão é inevitável; mas aquele que restringe os lábios é sábio" (Provérbios 10:19).

O terceiro item, tardio para irar, faz feito a ponte com o segundo, tardio para falar, já que a raiva é comumente exibida primeiro em palavras. Além disso, as palavras ditas com raiva são muitas vezes duras e despertam a ira nos outros.

"A resposta branda afasta a ira, mas uma palavra dura desperta a raiva" (Provérbios 15:1).

Como subponto, Tiago conecta os versículos anteriores com a justiça de Deus, afirmando que a ira do homem não produz a justiça de Deus. Embora isso pareça óbvio, o apóstolo está claramente conectando a relação entre a vida interior e a vida exterior. Os irmãos deveriam saber disso também (Tiago 1:19a) e não ser enganados (Tiago 1:16). Podemos utilizar esta diretiva para um exercício de autoexame. Sempre que expressamos a ira do homem, não nos movemos em direção à justiça de Deus.

Isso significa que toda raiva é ruim? Aparentemente não, já que a Escritura elabora várias vezes sobre a ira de Deus (Deuteronômio 33:21; Josué 23:16). A chave aqui é sermos tardios para nos irar e nos irar pelos motivos corretos. A ira do homem é egocêntrica. Somos rápidos em nos irritar quando somos incomodados, ou quando tentamos controlar as pessoas. Se Deus é tardio para se irar devemos ser tardios para nos irar. Se ficarmos com raiva, ela deve ser direcionada à injustiça ou aos falsos ensinos, visando defender a justiça de Deus.

Tiago eleva a Palavra de Deus e instrui seus leitores a receber com humildade a palavra plantada, que é capaz de salvar suas almas. Em 1:17 lemos que somos trazidos à luz, ou nascidos de novo, pela palavra da verdade. Aqui, crescemos pela palavra implantada em nós. A imagem do plantio de uma semente sugere que ela deve crescer a partir desse ponto. A Palavra de Deus cresce dentro de nós sempre que é nutrida e vivida. Nossa própria vida (alma) é liberta e preservada das tentações do pecado e prosperamos na justiça de Deus.

A palavra “alma” aqui é a palavra grega "psuche", da qual deriva o termo "psiquê", referindo-se à essência de quem somos como indivíduos. Cerca de metade das vezes o termo é traduzido como "vida". Tiago traz o grande paradoxo que carregamos dentro de nós, a fonte de nossa própria destruição. Temos uma maldade interior que nos leva a adotar perspectivas e tomar atitudes que nos levam à morte. No entanto, através de um ato de fé e da aquisição de sabedoria, podemos deixar de lado essa fonte interna de destruição e substituí-la pela Palavra de Deus. Este transplante da verdade no lugar do engano nos salva de nós mesmos e nos livra de sermos separados das grandes bênçãos que Deus deseja derramar sobre nós.

O coração da mensagem de Tiago traça um caminho claro para chegarmos a um destino de fé madura. O crescimento do crente é o coração da mensagem de Tiago e continuará a ser sua ênfase no restante da carta. De fato, grande parte da epístola de Tiago fala sobre adiarmos a iniquidade e nos vestir da justiça, visando sair dos caminhos errantes em direção à morte como resultado das ações do nosso velho homem para o caminho justo da vida (Tiago 5:20).

Select Language
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.
;