Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Levítico 18:5

A lei de Deus nos mostra a maneira ideal de se viver em harmonia com Deus e nossos semelhantes, definindo o certo e o errado. Como nosso Criador, Deus sabe disso melhor do que qualquer ser humano. Ao anunciar Seus caminhos, Ele é claro em relação às decisões que irão nos beneficiar.

A natureza da aliança de Deus era comunicar sobre os comportamentos que trariam bênçãos para o povo de Israel. Uma comunidade na qual cada pessoa ama a seu próximo como a si mesma florescerá muito mais do que uma comunidade onde os fortes exploram aos fracos. Deus deixou esta escolha aos filhos de Israel, ou seja, se eles iriam ou não crer em Deus e buscar Seus caminhos. O Senhor deixa claro: Guardareis, pois, os meus estatutos e os meus juízos; fazendo os quais, o homem viverá por eles: eu sou Jeová.

Levítico 18:5 é citado várias vezes no Novo Testamento (Mateus 19:17; Lucas 10:28; Romanos 10:5; Gálatas 3:12). A tradição judaica interpreta a expressão “o homem viverá por eles” em referência a uma vida completamente realizada, muitas vezes traduzida como "vida eterna". O versículo 5 pode, então, ser assim entendido: “Guardareis, pois, os meus estatutos e os meus juízos; fazendo os quais, o homem poderá alcançar a vida eterna.”

Em seu comentário sobre a Torá, o sábio judeu Rashi diz o seguinte a respeito deste versículo: “A expressão ‘o homem viverá por eles’ mostra uma ação a ser observada no mundo vindouro. Não faria sentido ser aplicada a este mundo, pois no final a pessoa irá morrer."

Ao dizer isso, Rashi indica que a expressão “viver em Levítico 18:5 não pode falar da vida física, uma vez que é designado ao homem morrer uma só vez (Hebreus 9:27). Portanto, Rashi conclui, este versículo só pode estar falando da qualidade ou realização da vida.

Jesus parece invocar essa aplicação sobre a qualidade de vida de Levítico 18:5 ao ser abordado pelo jovem rico: "Mestre, que devo fazer para obter a vida eterna?" Jesus responde em Mateus 19:17b: "Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos". Isto é semelhante à frase de Levítico 18.

O contexto de Mateus 19 indica que Jesus estava falando ao jovem sobre uma qualidade ou realização da vida enraizada no campo espiritual. O jovem rico perdeu a oportunidade de seguir a Jesus nesta terra pelo fato de não querer vender seus bens e segui-Lo. Ele perdeu o nível maior da realização da vida, pois optou por rejeitar ao convite do Mestre. Este benefício espiritual foi indisponibilizado a ele porque ele abraçou ao que o mundo considerava como ganho, já que Jesus o convidou a vender seus bens materiais.

Em Lucas 10, Jesus respondeu a um advogado que perguntou sobre como herdar a "vida eterna". Ele afirmou que já havia obedecido aos dois maiores mandamentos, amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo. Jesus lhe disse: "Respondeste corretamente; fazei isto e vivereis" (Lucas 10:28). Esta passagem também ecoa Levítico 18:5.

O Novo Testamento ensina que quando os crentes vivem pela fé, obedecendo ao Espírito Santo, eles podem cumprir Seus juízos e guardar Seus estatutos (Romanos 8:4; Gálatas 5:22). Por outro lado, quando os crentes vivem pela carne, eles acaba agindo como os egípcios e cananeus, escolhendo explorar aos outros para satisfazer a seus maus desejos (Gálatas 5:13-15). Observar as instruções de Deus no coração é algo que pode ser feito somente pela fé (Romanos 1:17).

A lei (juízos e estatutos) nos apresenta uma maneira ideal de viver em harmonia com Deus e com nossos semelhantes, definindo o que é certo e errado. Ou seja, o que é bom para a comunidade humana (certo) e o que é prejudicial para ela (errado). Como nosso Criador, Deus naturalmente sabe disso melhor do que qualquer ser humano. Ao anunciar Seus caminhos, Ele deixa claro o que nos abençoará. No entanto, tentar manter as instruções de Deus sem uma mudança no coração e em nosso próprio poder, em vez do poder do Espírito Santo, acaba por produzir hipocrisia e rebelião (Romanos 9:30-32).

Através do sacrifício de Cristo e do poder do Espírito Santo, temos agora uma forma nova e viva de nos aproximarmos de Deus, sem termos que lançar mão de uma lista externa de regras e cerimônias. Este novo e vivo caminho consiste em um novo coração, no qual as instruções de Deus são escritas (Romanos 2:14-15). Esta nova lei, então, torna-se um objetivo ao qual devemos buscar, transformando-se na lei de liberdade (Tiago 1:25).

Jesus foi a única pessoa a viver uma vida sem pecado (ou seja, Ele não desobedeceu às instruções de Deus). Ele foi nosso exemplo de como viver uma vida justa pela fé. Está claro no Novo Testamento que somente os justos herdam a vida eterna como recompensa (1 Coríntios 6:9-10, Mateus 7:21, 19:17b, Romanos 6:22, 1 João 3:15). Esta recompensa ocorre nesta e na próxima vida, conforme Jesus indicou em Sua resposta ao jovem rico (Colossenses 3:23). A vida eterna é, ao mesmo tempo, uma dádiva (Romanos 6:23) e uma recompensa (Romanos 2:7).

O Novo Testamento fala da vida eterna tanto como uma dádiva baseada na fé quanto como uma recompensa concedida pela obediência. Os crentes alcançam o dom da vida eterna crendo em Jesus, demonstrando fé suficiente para olhar para Ele e esperar ser libertos do veneno mortal do pecado (João 3:14-15). A recompensa da vida eterna é experimentar o dom de Deus. Isso ocorre nesta vida através de uma caminhada de fé, buscando a glória de Deus em vez do egoísmo (Romanos 2:5-8). Quando caminhamos pela fé nesta vida, depositamos tesouros no céu como recompensas para a próxima vida.

Os crentes do Novo Testamento têm um pacto escrito em seus corações, selado pelo Espírito Santo (Efésios 1:13; Hebreus 8:10; Jeremias 31:33). Israel tinha um pacto escrito, com bênçãos específicas e tangíveis relacionadas à sua habitação na Terra Prometida. Os benefícios tangíveis recebidos por Israel foram claramente explicitados no livro de Levítico. Assim, Israel era como os primeiros trabalhadores contratados para trabalhar na vinha da parábola de Jesus (Mateus 20:1-16). Eles receberam um contrato com benefícios específicos e demandando uma obediência específica. Os crentes do Novo Testamento representam os últimos trabalhadores a entrar na vinha, que concordaram em trabalhar e confiaram na benevolência do proprietário, o Senhor. Assim como as recompensas prometidas por Deus a Israel por sua obediência ao pacto, Deus também promete grandes recompensas aos crentes do Novo Testamento, recompensas que serão experimentadas nesta vida e na próxima (Apocalipse 22:12).

Quando os crentes do Novo Testamento vivem pela fé, obedecendo ao Espírito, eles ganham força para cumprir os juízos de Deus e guardar Seus estatutos. Ao andarmos em obediência, cumprimos a lei (Romanos 8:4). Quando vivemos pela carne, acabamos agindo como os egípcios e cananeus que escolheram explorar uns aos outros para satisfazer a seus próprios maus desejos (Gálatas 5:19-21). Não há como observarmos as instruções de Deus sem que seja pela fé.

Em Romanos 10, o apóstolo Paulo resume dois métodos que as pessoas tentam usar para andar em retidão buscando herdar a vida eterna nesta vida e na era vindoura:

  1. Justiça pela Lei (que não funciona)
  2. Justiça pela Fé (que funciona)

O povo judeu, os irmãos de Paulo, concentrava-se em Levítico 18:5, buscando a justiça pela lei. Paulo observa:

"Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça, mas a justiça que vem da fé; porém que Israel, buscando uma lei da justiça, não chegou a essa lei. Por que? Porque não a buscavam pela fé, mas como que pelas obras" (Romanos 9:30-32a).

Tentar alcançar a justiça por meio das obras não era apenas uma questão judaica, mas um problema humano. Todas as vezes que apontamos para algo específico e dizemos: "Eu controlo esta área; Deus precisa me abençoar e aprovar", perdemos a oportunidade de depender de Deus. Paulo chamaria isso de “buscar nossa própria justiça” (Filipenses 3:8).

A verdadeira justiça vem através da busca gerada pela obediência, confiando que os caminhos de Deus são para o nosso bem. É assim que alcançamos um verdadeiro coração de justiça.

O dicionário define a palavra "justiça" como "conduta moralmente correta ou justificável; virtuosa". Biblicamente falando, a palavra justiça significa o alinhamento dos nossos caminhos aos caminhos de Deus. A Bíblia também fala da justiça sendo imputada ou presenteada por Deus a indivíduos injustos ou pecadores (ou seja, todos os seres humanos, Romanos 3:23) cuja conduta não é moralmente correta ou justificável. Por causa da fé de que Deus pode curá-los do veneno do pecado, Deus concede justiça às pessoas. A capacidade e o desejo de Deus de tomar pessoas pecadoras e transformá-las em pessoas justas é um dos temas mais impactantes da Bíblia.

Tentar produzir justiça simplesmente por obedecer a uma lista de regras por nosso próprio poder essencialmente significa “trapos de imundícia” para Deus. A verdadeira justiça (vestes brancas, em oposição aos trapos de imundícia) só pode ser alcançada através da vida pela fé (Habacuque 2:4; Romanos 1:16-17). As regras podem ser manipuladas para justificar motivações corruptas. Por exemplo, Jesus repreendeu aos fariseus por fazerem regras que transformavam o sábado em fardo (Marcos 2:27). Parece claro, pela maneira como os fariseus buscavam usar suas regras relativas ao sábado para se opor a Jesus, que sua perversão do mandamento era egoísta e procurava dar-lhes mais poder político. Um coração de fé que busca o coração de Deus é a forma como a justiça pode ser obtida, onde os mandamentos de Deus podem nos instruir para a vida.

Paulo usa Levítico 18:5 como exemplo de justiça pela lei, que não consegue produzir a verdadeira justiça em Romanos 10:5: "Moisés escreveu que o homem que pratica a justiça que vem da Lei viverá por ela".

Em Romanos 10:6-8, Paulo usa Deuteronômio 30:14 como exemplo de justiça pela fé (que consegue produzir justiça) que ele estava promovendo entre os gentios;

"Mas que diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração, isto é, a palavra da fé, que pregamos" (Romanos 10:8).

Ao escrever isso, Paulo não está dizendo que devemos ignorar Levítico 18. O apóstolo repete a essência da ênfase de Levítico 18 em relação a absterem-se da imoralidade sexual nesta declaração do Novo Testamento:

"Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da fornicação, que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santidade e honra" (1 Tessalonicenses 4:3,4).

Por que, então, Paulo usa Levítico 18:5 para ilustrar uma abordagem falha? Parece provável que ele estevisse contrastando o foco em "seguir as regras" registrado em Levítico 18:5 com o foco de "obedecer de coração" em Deuteronômio 30:14. Como veremos, Levítico 18 investe bastante tempo "fechando brechas" em relação às regras. Um coração que busque a Deus e que procure se abster da imoralidade sexual não precisa fechar brechas. Como exemplo, Levítico 18:9 instrui o povo a evitar ter relações sexuais com "a filha de seu pai ou a filha de sua mãe, nascida em casa ou nascida fora". Isso significa "fechar uma brecha" de alguém que poderia dizer: "Bem, eu posso ter relações sexuais com ela porque, dentro desta regra, ela não é minha irmã, já que ela tem outra mãe e nasceu em uma casa diferente".

O ponto de Paulo é que, se o coração não mudar, as regras sempre serão distorcidas. Justiça significa alinhar nossos caminhos aos caminhos de Deus, o que gera harmonia para nós mesmos e entre nós e o nosso próximo. Este é o resultado de nos amarmos uns aos outros em vez de explorarmos uns aos outros. Paulo diz isso abertamente em sua carta aos romanos, deixando claro que a incapacidade humana de seguir a lei não é culpa da lei:

"Porque a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom" (Romanos 7:12).

O problema é nossa carne pecaminosa e nosso desejo de seguir a nossos próprios caminhos autodestrutivos.

Quando as instruções de Deus são escritas em nosso coração pela fé, por meio do poder do Espírito Santo, alcançamos a capacidade de observar a vontade de Deus ao andarmos em Espírito e rejeitarmos à nossa carne (Romanos 7:22; 8:4). Para andarmos em Espírito, devemos crer no que é verdadeiro e pensar no que é verdadeiro; desta forma, agiremos de acordo com o que é verdadeiro. Jesus diz em Mateus 12:34b: "Porque a boca fala daquilo que está cheio o coração". Paulo resume Deuteronômio 30:11-20 em Romanos 10:9,10:

"...se confessares com a tua boca a Jesus como Senhor e creres no teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo; porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa para a salvação" (Romanos 10:9,10).

Este quiasmo enfatiza a importância central da fé. O quiasmo é um dispositivo literário no qual uma sequência de idéias é apresentada e repetida em ordem inversa; o centro do quiasma é o ponto principal. Abaixo está a estrutura quiástica de Romanos 10:9,10:

A) Confessar (a Jesus como Senhor)

B) Crer (em Sua ressurreição)

B') Crer (que Seus caminhos são para o nosso bem)

A') Confessar (que Seus caminhos são para o nosso bem)

A inferência em Romanos 10 é a de que se crermos em Deus e assimilarmos essa fé, naturalmente agiremos em direção a ela. Este é o caminho para se alcançar a justiça. Ela está enraizada em um coração que busca obedecer a Deus por meio da fé, em vez de confiar na força de vontade humana para se autorreformar cumprindo uma lista de regras ou padrões. Andar por fé requer uma escolha, mas também demanda uma confiança no poder de Deus na busca por Seus caminhos. Isso contrasta com a abordagem da "justiça da lei" à qual Paulo ilustra usando Levítico 18:5.

Uma vez mais, a falta não está na lei de Deus. Como Paulo diz em Romanos 3:31, " Anulamos, pois, a Lei pela fé? De modo nenhum!" Quando vivemos a justiça pela fé, cumprimos Deuteronômio 30:14 e estabelecemos que a Lei é verdadeira (Romanos 8:4). Porém, quando tentamos viver em retidão através da lei e a partir de nossa própria força de vontade, acabamos produzindo iniquidade. Nesse estado, acabamos inevitavelmente explorando uns aos outros, ao invés de amarmo-nos uns outros.

É importante lembrar que, embora os crentes possam viver e andar pela fé, tendo as instruções de Deus em seu coração e em sua boca, ainda há outra lei em ação em nós, a lei do pecado e da morte herdada de Adão, nosso pai terreno (Romanos 7:23). Andar em retidão e entrar na vida do Reino de Deus requer que rejeitemos e crucifiquemos essa lei carnal todos os dias e andemos pela fé (Romanos 7:17; 8:1). Nosso desejo mais profundo como seres humanos deve ser o de andar em harmonia com Deus e com os outros, agradando ao nosso Pai Celestial. Quando andamos em Espírito, semeamos este desejo; quando semeamos na carne, colhemos a morte (Gálatas 6:7-9).

Ao concluir com a afirmação “Eu sou Jeová” (o "Existente"), Deus quer dizer a Seu povo:

  1. Eu sou Aquele que irá corrigi-los quando vocês se desviarem, como um pai que castiga a seu filho (Hebreus 12:6). Se vocês continuarem a viver em pecado e rebeldia, Eu o entregarei à sua natureza pecaminosa (Romanos 1:24).
  2. Eu sou Aquele que recompensará grandemente sua obediência às Minhas instruções, nesta vida e no mundo vindouro (Hebreus 11:6).
Select Language
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.
;