Significado de Romanos 2:28-29

Paulo continua a se dirigir às autoridades judaicas que estão difamando sua mensagem (Romanos 3:8). Ele também se dirige aos crentes romanos, cuja fé está sendo proclamada em todo o mundo (Romanos 1:8). A reivindicação central de autoridade dos competidores parece estar enraizada em sua raiz judaica, bem como em seu conhecimento da Bíblia, especialmente a Lei Mosaica.

Ficará claro também que uma parte importante da reivindicação dessas “autoridades” judaicas é que esses crentes romanos estão deficientes porque não são circuncidados fisicamente e não estão seguindo as regras e os caminhos judaicos (incluindo estar sob a autoridade das autoridades judaicas). Paulo agora introduz uma compreensão diferente do que significa ser judeu: Não é judeu aquele que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne (v.28).

Paulo, é claro, também é judeu, fariseu e um "hebreu de hebreus" (Filipenses 3:5). É importante notar que Paulo manteve sua identidade judaica, seguindo os costumes judaicos, ao longo de seu ministério (Atos 28:17). No entanto, Paulo não baseou seu chamado ou sua autoridade em ser judeu, mas sim em ser chamado por Jesus (Romanos 1:1).

A circuncisão é a prática de remover o prepúcio do pênis masculino com uma faca. Essa prática foi instituída por Deus para Abraão e seus descendentes, como sinal de Sua aliança com eles (Gênesis 17:10-12). Portanto, Paulo está fazendo aqui uma afirmação importante, de que ser judeu não é mais entrar na aliança de Deus através do ato físico da circuncisão (externamente).

Em vez disso, Deus está chamando as pessoas a entrarem em uma nova aliança com Ele através de uma circuncisão interior do coração: Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito e não na letra. O louvor de tal judeu não vem dos homens, mas de Deus. (v. 29). Em vez de o prepúcio ser removido para mostrar que alguém está separado, agora o coração precisa ser separado para Deus.

Em vez de uma faca removendo a pele da carne, o Espírito precisa remover o pecado do coração. Isso acontece através da fé. Paulo afirmará que isso não é algo novo, pois Abraão mesmo foi declarado justo aos olhos de Deus pela fé muitos anos antes de ser circuncidado (Romanos 4:2-3). Também foram muitas gerações depois que Deus instituiu a lei mosaica, quando Moisés liderou Israel para fora do Egito, aproximadamente 500 anos após Abraão ter sido circuncidado.

Paulo encerra este segmento de seu argumento contra as autoridades judaicas contrastando as coisas que as "autoridades" enfatizam com as coisas que Deus realmente se importa. As "autoridades" judaicas enfatizam a "bondade" exterior, coisas observadas pelos homens, incluindo atividades cerimoniais religiosas, como a circuncisão. Mas Deus observa o coração:

Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito e não na letra. O louvor de tal judeu não vem dos homens, mas de Deus (v.29).

Deus enfatiza as coisas interiores do coração. As "autoridades" judaicas elevam a letra da lei e o louvor que vem dos homens. Mas Deus se preocupa com o espírito da lei e o coração. O coração é o assento da escolha de como olhamos para as coisas, nossa perspectiva. A palavra grega traduzida como coração aqui é "kardia".

• Jesus disse que qualquer pessoa que deseja uma mulher já cometeu adultério em seu "kardia" (Mateus 5:28). Isso mostra que o coração é onde escolhemos uma perspectiva do que é do nosso melhor interesse, o que nos trará realização.
• Jesus disse que onde colocamos nosso tesouro, ali estará também o nosso "kardia". Isso indica que o coração é o centro de nossos afetos, onde focamos e estabelecemos prioridades.
• Jesus conhecia os pensamentos dos outros, sabia que estavam pensando em coisas más, e perguntou por que estavam pensando em maldade em seus "kardias" - seus "corações".

Os seres humanos podem ter um coração mau, cheio de egoísmo e exploração, enquanto tentam manter uma fachada seguindo regras. Tipicamente, o que essas pessoas fazem é acusar os outros de quebrar as regras para encobrir suas próprias indiscrições.

O motivo do ser humano para demonstrar uma "religiosidade" exterior e obedecer à letra da lei é ganhar elogios dos homens. Manter o espírito da lei e servir aos outros de coração é o que agrada a Deus. Para realmente purificar nossos pensamentos e intenções, precisamos de um novo "kardia" - um que seja circuncidado (separado) em uma nova aliança, pelo Espírito de Deus.

Um tema que Paulo vai tecer ao longo desta carta aos crentes em Roma (um dos temas de todo o seu ministério) é a importância de focar em agradar a Deus em vez de agradar às pessoas. Já vimos isso nos comentários de Paulo sobre o assunto em Romanos 2:5-8, onde Paulo eleva a "perseverança em fazer o bem" para que possamos alcançar "glória, honra e imortalidade" aos olhos de Deus.

Aqui, Paulo realiza um golpe retórico de jiu-jitsu nas “autoridades” judaicas que estão, essencialmente, afirmando que, para ser justo, alguém deve se tornar judeu seguindo a lei. Aqui, Paulo diz que "Esses crentes romanos que têm um coração circuncidado são os verdadeiros judeus." As “autoridades” judaicas precisam se tornar estudantes em vez de se afirmarem como professores.