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Amós 8:4-6 explicação

Após a quarta visão estabelecida em Amós 8:1-3, o profeta aborda a falta de preocupação de Israel com os pobres. Ele chama o povo para ouvir, ou seja, prestar atenção no que estava prestes a dizer. Porém, o chamado de atenção de Amós é dirigido a um grupo especial de israelitas: Vós que pisoteais aos necessitados.

O verbo “pisotear” significa esmagar. Refere-se a pessoas que tratam aos outros injustamente. Os ricos opressores em Israel propositalmente maltratavam aos pobres para acabar com os humildes da terra (o termo “humilde” é usado aqui como sinônimo do termo “pobre”.) Sua política era contrária à lei de Deus, que instruía às pessoas ricas e credores que abrissem livremente a mão para ajudar a seus irmãos necessitados (Deuteronômio 15:7-11). A lei da aliança de Deus reconhecia que sempre haveria pobres em Israel (Deuteronômio 15:11). No entanto, a lei também previa que cada pessoa pobre tivesse plena oportunidade de sair da pobreza. Israel não deveria ter uma subclasse permanente. Neste caso, os ricos estavam devorando aos pobres. Seus maus-tratos eram tão graves que eles os eliminavam.

No versículo cinco, o profeta deixa de se dirigir aos ricos opressores e empresários gananciosos na segunda pessoa do plural ("vós") para citar o que eles haviam dito. O efeito retórico desta mudança provavelmente mostre com mais força a intenção perversa dos opressores, permitindo que o público os ouvisse em seus próprios termos.

De acordo com Amós, os comerciantes diziam: Quando a lua nova vai acabar, para que possamos vender grãos? A lua nova (também chamada de "a Festa das Trombetas") referia-se ao festival religioso celebrado no primeiro dia do mês lunar, Tisri (setembro/outubro). Em Levítico, o SENHOR ordena: "No sétimo mês, no primeiro dia do mês, tereis um descanso, um lembrete soprando trombetas, uma santa convocação" (Levítico 23:23-24). Esta celebração correspondia ao nosso Dia de Ano Novo.

Os mercadores gananciosos não apenas perguntavam quando a celebração da lua nova acabaria, como também perguntavam quando o sábado acabaria para que pudessem abrir o mercado de trigo. Em vez de desfrutarem do sábado do Senhor, os comerciantes ansiavam por reabrir o mercado de trigo para começarem a ganhar dinheiro novamente.

Tal como a lua nova, o sábado era um dia de descanso e festa. Era celebrado no sétimo dia da semana para comemorar tanto a criação (Êxodo 20:8-11) quanto a redenção de Israel da escravidão no Egito (Deuteronômio 5:12-15). A oferta prescrita para o dia de sábado consistia em "dois cordeiros machos de um ano de idade sem defeito, e dois décimos  de um efá de  farinha fina misturada com óleo como oferta de grãos, e sua oferta de bebida" (Números 28:9).

Como o comércio era proibido tanto na lua nova quanto no sábado, os mercadores gananciosos do reino de Israel, ávidos por tirar dinheiro dos menos privilegiados, perguntavam quando as festas acabariam para que pudessem vender seus grãos ou abrir o mercado de trigo. Mal podiam esperar o fim desses festivais para lucrar com seus mercados de grãos. Eles estavam sempre ansiosos por ganhar dinheiro às custas dos pobres, pois tornavam o alqueire menor e o siclo maior.

O termo “alqueire” é "ephah" na língua hebraica. Era o padrão de medida para todos os tipos de produtos agrícolas. Era a unidade utilizada nas negociações e vendas. O  termo “shekel” era, inicialmente, uma medida de peso; mais tarde, tornou-se o termo para uma moeda. Ao tornar seus alqueires menores, os clientes dos mercadores israelitas recebiam menos grãos do que deveriam receber. Ao aumentar os siclos na balança, os comerciantes tiravam mais prata de seus clientes. Sua política era dar menos grãos por mais dinheiro. Eles não se preocupavam com o bem-estar de seus clientes. Eles não honravam ao princípio do pacto com o Senhor de amar o próximo como a si mesmos (Levítico 19:18). Em vez disso, eles seguiam às maneiras pagãs de exploração de seus vizinhos.

Os mercadores israelitas nos dias de Amós enganavam as pessoas no mercado usando balanças desonestas em suas transações comerciais, enquanto hipocritamente mantinham uma fachada externa de devoção ao Deus Suserano (ou Governante). Eles ignoravam completamente à lei da aliança de Deus, que dizia: "Não farás nada de errado no julgamento, na medida do peso ou da capacidade. Terás apenas equilíbrios, pesos justos, um efa justo e um him justo" (Levítico 19:35-36). Tal fraude não era apenas uma injustiça contra o comprador, mas também uma abominação contra o SENHOR (Provérbios 11:1).

Ao encerrar seção, o profeta revela claramente a intenção dos mercadores gananciosos em usar medidas falsas. Seu único propósito era o de comprar os desamparados por dinheiro e os necessitados por um par de sandálias. Esta expressão já ocorre em Amós 2:6  com uma pequena diferença: em 2:6 os justos eram vendidos, enquanto aqui eles eram comprados. Os ricos opressores compravam os pobres por produtos de pouco valor. Lucrar com manipulações fraudulentas para na compra e venda de produtos já era ruim; porém, lucrar com circunstâncias de dificuldade das pessoas a ponto de comprá-los e vendê-los era algo ainda pior, porque tal atividade envolvia o tráfico de seres humanos feitos à imagem de Deus (Gênesis 1:26).

A última linha acrescenta muito mais peso ao comportamento perverso dos empresários gananciosos. Além de usarem balanças falsas e desonestas para enganar aos pobres, eles vendiam o refugo do trigo. O termo traduzido como “refugo” descreve o que era descartado do grão. Era uma prática comum no mundo antigo remover o joio dos grãos colhidos antes que os grãos fossem vendidos ou usados. Em seus esforços para obter o máximo de lucro possível com seus produtos, os comerciantes gananciosos em Israel enganavam aos pobres desesperados ao não removerem as cascas (a cobertura externa seca dos grãos) do trigo que vendiam. Como resultado, os compradores pobres recebiam ainda menos grãos por seu dinheiro.

Os comerciantes vendiam aos pobres um produto de qualidade inferior ao que era anunciado, por uma medida menor do que representava, por uma quantia de dinheiro inflacionada. Eles estavam em modo de opressão total. Isso era completamente contrário a toda a ênfase da lei da aliança de Deus, que se concentrava na criação de uma sociedade baseada na verdade e no amor mútuo. Israel fora chamado a servir uma função sacerdotal e mostrar às nações vizinhas um caminho melhor, um caminho de amor em vez de exploração (Êxodo 19:6). Israel afundara-se na exploração; agora, eles seriam removidos.

Os mercadores israelitas nos dias de Amós eram corruptos. Enganavam ao falsificar seus recipientes e balanças. Enquanto fingiam ser religiosos, eles ignoravam completamente os princípios de Deus pelos quais deveriam viver. Amós usa as próprias palavras deles para expor seus reais motivos econômicos e preocupações religiosas.

Amós 8:4