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Significado de Lucas 23:8-12
Não há paralelos aparentes para este evento nos outros Evangelhos.
Esta passagem é o único relato bíblico da segunda fase do julgamento civil de Jesus, chamada "Audiência de Jesus diante de Herodes Antipas".
Os acontecimentos deste relato ocorreram no palácio de Herodes Antipas, localizado no centro de Jerusalém. Ficava a meio caminho entre o Pretório, localizado no lado ocidental de Jerusalém, e o templo, localizado no lado oriental da cidade. Este evento aconteceu ainda de manhã, provavelmente entre as 7:00 e 8:00 (Jesus já estaria na cruz às 9:00, de acordo com Marcos 15:24). De acordo com o calendário judaico, a data provavelmente era o dia 15 de Nisã - o primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos. Pelas contas romanas, o dia provavelmente era uma sexta-feira.
Para saber mais sobre o tempo e a sequência desses eventos, veja o artigo A Bíblia Diz: "Cronologia: As Últimas 24 Horas da Vida de Jesus"
O julgamento civil ocorreu ao longo de três fases.
A primeira fase do julgamento civil de Jesus terminou quando o governador romano da Judéia, Pilatos, enviou Jesus a Herodes Antipas, o governante do distrito da Galiléia, de onde Jesus era (Lucas 23:7).
Mesmo que estivesse investido de maior autoridade, Pilatos não queria tomar uma decisão no julgamento civil de Jesus.
Um resumo da primeira fase do julgamento civil de Jesus
Quando os principais sacerdotes e anciãos declararam suas acusações contra Jesus (Lucas 23:2), Pilatos as investigou pessoalmente (João 18:33a) — especialmente a acusação de insurreição. No extenso relato de João sobre a entrevista de Pilatos a Jesus, o governador romano perguntou ao réu mais de uma vez: "Tu és o Rei dos Judeus?" (João 18:33b e João 18:37). Lucas resume a resposta de Jesus: "Tu o dizes" (Lucas 23:3).
Pilatos, então, sai e anuncia aos líderes religiosos que estavam famintos pela morte de Cristo: "Não encontro culpa neste homem" (Lucas 23:4). Os principais sacerdotes, anciãos e escribas (advogados religiosos) fazem mais acusações contra Ele e desabafam sua decepção furiosa. Jesus não diz nada (Mateus 27:12). Pilatos fica maravilhado com Sua silenciosa compostura (Mateus 23:13-14; Marcos 15:4-5), talvez desejando que Ele falasse algo que pudesse ser usado para condená-Lo ou para humilhar Seus acusadores; assim, o governador poderia confirmar Sua absolvição.
Em meio à cena caótica, Pilatos ouve um acusador mencionar que Jesus era da Galiléia (Lucas 23:5-6a). Pilatos pergunta se aquilo era verdade (Lucas 26:6b). Uma vez confirmado, o político romano, hesitante em dar um veredito falso ou desfavorável aos sacerdotes, se livra da responsabilidade e envia Jesus a Herodes Antipas, o governante da Galiléia, que convenientemente estava em Jerusalém naquela época da Páscoa (Lucas 23:7).
Herodes, o tetrarca da Galiléia, os líderes religiosos e Jesus
Herodes Antipas, a autoridade à qual Pilatos enviara Jesus para ser julgado, era filho de Herodes, o Grande (construtor), o mesmo governante que tentou executar Jesus durante Seu nascimento (Mateus 2:16). Herodes Antipas foi o mesmo governante que decapitara João Batista, primo de Jesus (Mateus 14:1-12; Marcos 6:14-29; Lucas 9:9). Herodes Antipas era um governante fantoche na Galiléia. Quando seu pai morreu, o reino da Judéia foi dividido em quatro partes - a quarta parte que ele herdou foi a Galiléia - o que fazia de Herodes Antipas o "tetrarca" (governante de um quarto) da Galiléia.
Como sua família, Herodes era parcialmente judeu, mas vivia como um romano pagão. Aos olhos dos anciãos e escribas (o partido dos fariseus), os herodianos representavam a pior decadência moral que poderia recair sobre um judeu - viver como gentios. Porém, agora eles tinham que ao desprezado tetrarca, na esperança de que ele fizesse a Jesus o que fizera a João Batista: executá-lo. Normalmente, uma visita a Herodes era uma abominação aos fariseus legalistas e hipócritas e uma visita desconfortável para os saduceus que se prezassem. Porém, era algo que ambas as seitas judaicas estavam ansiosas para fazer se significasse se livrar do rabino radical - Jesus.
Herodes encontra-se com o Rei
Herodes, vendo a Jesus, ficou muito contente; pois, de longo tempo, queria vê-lo, porque tinha ouvido falar a respeito dele; e esperava vê-lo fazer um milagre (v. 8).
Lucas escreve que Herodes, ao contrário de Pilatos, ficou entusiasmado ao ver Jesus. Herodes esperava ver algum milagre ou sinal realizado por Jesus. Ele queria ser entretido, não chamado para seu dever. Ele não estava especialmente interessado em investigar as acusações, a ponto de ficar surpreso. Lucas menciona que Herodes queria ver Jesus havia muito tempo por causa das coisas que ouvia a respeito Dele. Isso remontava a cerca de um ano, quando, como tetrarca da Galiléia, Herodes começara a ouvir relatos sobre os milagres de Jesus. Esses relatos chegaram aos ouvidos de Herodes logo após ter relutantemente executado João Batista (Mateus 14:1). Herodes chegou a especular que Jesus era João Batista que retornara à vida, talvez por causa dos boatos que diziam a mesma coisa (Mateus 14:2):
Ora, o tetrarca Herodes soube de tudo o que se passava e ficou muito perplexo, porque uns diziam: João ressuscitou dentre os mortos; outros: Elias apareceu; e outros: Levantou-se um dos antigos profetas. Disse, porém, Herodes: Eu mandei degolar a João; mas quem é este de quem ouço tais coisas? E procurava vê-lo (Lucas 9:7-9).
Ver Jesus pessoalmente era a oportunidade pela qual Herodes esperava. Porém, o tetrarca imoral ficaria muito desapontado.
Fez-lhe muitas perguntas; mas Jesus nada lhe respondeu (v. 9).
A expressão de Lucas que descreve como Herodes questionou Jesus significa, literalmente, "em muitas palavras" no texto grego. A idéia é a de que Herodes estava muito falante e animado ao questionar Jesus.
O relato de Lucas sugere que a investigação de Herodes sobre as acusações contra Jesus não foi profissional. Este era o mesmo governante que, certa vez, oferecera até metade de seu reino para uma dançarina (Marcos 9:23). Ele parecia inclinado a liberar Jesus se Ele realizasse algum sinal ou milagre. A oferta de Herodes a Jesus pode ter sido semelhante às tentações de Satanás no deserto, quando o diabo insinuou que Jesus deveria se submeter à sua autoridade (Lucas 4:2-3, 5-7, 9-11). Jesus, porém, não veio para servir a Si mesmo; Ele veio para servir aos outros e para obedecer à vontade de Seu Pai até a morte (Mateus 20:28; Lucas 22:42; João 13:13; Filipenses 2:8).
Enquanto Herodes falava e questionava Jesus longamente, seu prisioneiro estava mudo. Pode ser que Jesus estivesse fazendo o que Seus acusadores judeus também deveriam estar fazendo, ou seja, recusando-se a interagir com um rei iníquo, impenitente, pagão.
Jesus se recusou a falar com o homem que havia decapitado João Batista, seu primo e precursor profético. Ele nada lhe respondeu. Alguns meses ou semanas antes, enquanto ministrava nas aldeias a caminho de Jerusalém, Jesus foi advertido, talvez como um truque para assustá-lo, que Ele deveria se afastar de lá porque Herodes queria matá-lo (Lucas 13:31). Jesus respondeu severamente a essa advertência chamando Herodes de "raposa", antes de prever Sua morte e ressurreição em Jerusalém (Lucas 13:32, 33). Agora, Jesus não falaria com a raposa, pois Sua vida estava sendo julgada em Jerusalém.
Mais uma vez, o silêncio de Jesus diante de Seus acusadores (Mateus 26:63; 27:12-14) era o cumprimento do que Isaías havia profetizado sobre o silêncio do Messias diante de Seus opressores (Isaías 53:7).
Quando Herodes questionou Jesus longamente - pedindo-lhe que fizesse algum sinal e depois sobre as acusações - ele parece ter ficado desapontado e irritado por Jesus não lhe ter respondido nada.
Enquanto isso, “os principais sacerdotes e os escribas estavam ali, acusando-o com veemência” (v. 10).
A palavra grega traduzida como “com veemência” significa "forçadamente". A Septuaginta - a tradução grega do Antigo Testamento - usa essa palavra para descrever o poderoso barulho do toque das trombetas quando Israel marchou em direção a Jericó (Josué 6:9). A ideia era de que a corte de Herodes ficou extremamente barulhenta, expressando emoções raivosas. Essa comoção provavelmente teve um efeito avassalador sobre o tetrarca, virando Herodes contra Jesus.
O Escárnio do Messias
Como Jesus não lhe respondeu nada e não fez um milagre para entretê-lo, conforme Herodes esperava, o tetrarca encontra outras maneiras de se divertir com Jesus.
Herodes, com a sua guarda, desprezou-o, e escarneceu dele e, vestindo-o com um manto resplandecente, tornou a enviá-lo a Pilatos (v. 11).
Esta é a terceira zombaria de Jesus. A primeira foi feita por Judas no momento de sua traição, ao cumprimentar calorosamente Jesus e beijá-lo (Mateus 26:49). A segunda zombaria foi feita por Seus acusadores após Seu segundo julgamento (Mateus 26:67-68; Marcos 14:65; Lucas 22:63-65). Jesus também seria zombado pelos soldados romanos (Mateus 27:27-31) e por aqueles que passariam por Sua crucificação (Mateus 27:39-40), sem contar o criminoso com quem Ele foi crucificado (Mateus 27:44). Antes de morrer, um representante de todas as categorias de pessoas zomba Dele - Seu discípulo, os saduceus (principais sacerdotes), os fariseus (anciãos), os escribas, os herodianos, os romanos, os judeus comuns e até um criminoso executado a Seu lado.
Lucas é claro em dizer que Herodes assumiu a liderança da zombaria de Jesus. Os soldados de Herodes se juntaram à diversão com seu tetrarca. O fascínio de Herodes por Jesus rapidamente se transformou em desprezo. Herodes e seus soldados passaram a tratar Jesus com crueldade. Eles zombavam Dele. Eles se divertiam às custas Dele. Já que Jesus estava sendo acusado de alegar ser um rei (Lucas 23:2), eles O provocaram como se fosse uma "realeza". Vestiram-no com um manto real.
A expressão grega para esta frase é traduzida como “lindo manto”, indica claramente que era branco. Dentro do contexto cultural, não era o manto de um rei ou presidente, mas o adorno de um herdeiro ou de alguém que estava na fila para tornar-se rei. Eles provocaram Jesus indicando que Ele era apenas um pretendente a rei, não um verdadeiro rei. No contexto do julgamento, Herodes pareceu não levar Jesus a sério. Em vez de considerá-lo como o Messias, Ele foi considerado uma piada.
Como Jesus, mais tarde, seria açoitado e espancado (Mateus 26:26), Seu manto branco certamente ficou ensopado de sangue, transformando-se em um vermelho escarlate (Mateus 26:28). A imagem do manto branco é de inocência. A imagem do sangue representa o sacrifício e a expiação substitutivos. Este manto de duas cores - branco e escarlate - era uma alusão a José, o filho favorito de Israel. José prefigurou Jesus como o Messias e como servo sofredor. Como o lindo manto de Jesus, José teve seu casaco de muitas cores manchado de sangue (Gênesis 37:31).
O manto branco de Jesus era para humilhá-lo. Seu rosto foi espancado e Sua barba foi arrancada (Isaías 50:6; Mateus 26:63-65; Marcos 14:65; Lucas 22:63-65). Isso fez Jesus parecer ainda mais ridículo quando a corte de Herodes riu e o principal sacerdote e os escribas que estavam ali O caluniaram.
A aparência ridícula de Jesus, o Messias, também foi predita pelo profeta Isaías:
Ele não tinha beleza nem formosura; quando olhávamos para ele, não mostrava beleza, para que nele tivéssemos prazer. Era desprezado e rejeitado dos homens (Isaías 53:2b-3a).
Por Sua vez, Jesus foi capaz de resistir àquele escárnio cruel porque confiava em Deus, Seu Pai:
O Senhor Jeová, porém, me ajudará; pelo que não me sinto confundido, e, por esse motivo, pus o meu rosto como uma pederneira, e sei que não serei envergonhado. Perto está aquele que me justifica (Isaías 50:7-8a).
Jesus olhou para além de Suas atuais circunstâncias dolorosas e humilhantes. Ele olhou para a recompensa e para a alegria diante Dele. Em comparação com o que O aguardava por Sua fidelidade, Jesus desprezou sua vergonha. O autor do livro aos Hebreus exorta os crentes a fixarem os olhos em Jesus e imitarem Seu exemplo:
fitando os olhos em Jesus, Autor e Consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe foi proposto, suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está sentado à destra do trono de Deus (Hebreus 12:2).
Depois que Herodes e seus soldados zombaram de Jesus, o tetrarca o enviou de volta a Pilatos vestido com o manto, aparentemente com a intenção de zombar Dele. Pilatos entende corretamente o veredito implícito de Herodes: Jesus era inocente das acusações (Lucas 23:15).
A liberação de Jesus por Herodes, devolvendo-o a Pilatos, conclui a segunda fase do julgamento político de Jesus. Com seu veredito implícito de inocência, esta deveria ter sido a fase final. Porém, como veremos, os principais sacerdotes, anciãos e escribas, que odiavam e eram ameaçados por Jesus, não aceitariam esse resultado e pressionariam Pilatos a continuar o julgamento até que obtivessem o resultado que exigiram: "Crucifica-O!" (Lucas 23:21, 23-24).
Comentário de Lucas
Depois de narrar os acontecimentos da segunda fase do julgamento político de Jesus, Lucas faz uma observação interessante:
Naquele dia, Herodes e Pilatos vieram a ser amigos; pois, antes, eram inimigos um do outro (v. 12).
Pilatos, o governador romano, e Herodes, o tetrarca da Galiléia aprovado pelos romanos, eram rivais um do outro naquele momento. Após a leitura dos relatos do antigo historiador Flávio Josefo, sua animosidade parece ter surgido logo após a nomeação de Pilatos como governador da Judéia alguns anos antes. Pilatos ordenou que sua guarda entrasse na cidade santa Jerusalém com bandeiras de César, violando os dois primeiros dos dez mandamentos: 1) "Não terás outros deuses diante de mim" e 2) "Não farás para ti ídolos ou qualquer semelhança" (Êxodo 20:2-4; Deuteronômio 5:7-9).
Como César afirmava ser deus, as bandeiras com sua imagem em Jerusalém devem ter perturbado muito os judeus. Herodes, que passara a vida na Judéia, entendeu o problema que isso causaria aos herodianos pró-romanos e pediu ao novo governador que as removesse. Pilatos se recusou a fazê-lo. Assim, Herodes queixou-se do comportamento tolo e da insolência desrespeitosa de Pilatos ao Senado em Roma (Antiguidades Josefo XVIII.3). A partir daí, os governantes passaram a odiar-se um ao outro.
Lucas ressalta que esses inimigos políticos se tornaram amigos na morte de Jesus naquele mesmo dia.
Herodes provavelmente sentiu-se honrado pelo fato de Pilatos ter-lhe permitido julgar Jesus; e o tetrarca deve ter ficado muito feliz por ter tido a oportunidade de ver o famoso milagreiro a quem queria ver havia muito tempo.
Pilatos, ao que parece, também se divertiu com a piada de Herodes e a concordância implícita com sua avaliação.
Isso encerra a segunda fase do julgamento civil de Jesus: "A audiência de Jesus diante de Herodes Antipas" (Lucas 23:8-12).
A terceira fase do julgamento civil de Jesus aconteceria no Pretório. Chama-se "o Julgamento de Pilatos" (Mateus 27:15-26; Marcos 15:6-15; Lucas 23:13-25; João 18:38 - 19:16).
A próxima seção das Escrituras descreve o início da terceira e última fase do julgamento político de Jesus (Lucas 23:13-16).