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Significado de Mateus 10:28

Jesus continua falando a Seus discípulos sobre o medo. Ele lhes diz para não temerem os homens que só podem prejudicar o corpo, mas não o "psuche" (vida/alma). Em vez disso, eles devem temer a Deus que pode destruir tanto o seu corpo quanto a sua "psuche" (vida/alma) no Geena, um vale que fazia fronteira com Jerusalém, usado por Ele como metáfora para o mal.

O relato paralelo do Evangelho quanto a este ensinamento é encontrado em Lucas 12:5.

Tendo ensinado Seus discípulos a não temer aqueles que os perseguiriam, já que Deus é um juiz onisciente que enxerga todas as coisas (Mateus 10:26), Jesus agora fornece a Seus discípulos um método de priorização de medos.

Não temais aqueles que matam o corpo, mas são incapazes de matar a alma. Os dois termos críticos nesta declaração são o corpo e a alma.

O corpo refere-se principalmente à vida física de uma pessoa. O corpo é externo. O corpo é o que permite que uma pessoa interaja no mundo físico. Quando o corpo de uma pessoa para de funcionar e ela morre, sua alma é separada do mundo físico e essa pessoa é incapaz de interagir dentro do mundo físico. A alma continua a viver separada do corpo. A alma, portanto, é a vida real da pessoa.

Dentro do contexto desta passagem, o corpo também pode se referir, por extensão, a todos os bens externos que uma pessoa desfruta dentro de sua vida terrena: saúde, bens materiais, liberdades políticas, status social, etc. O corpo e seus bens terrenos são importantes, mas não são as coisas mais importantes.

A alma refere-se à identidade central de uma pessoa, sua verdadeira vida. A palavra grega usada para alma é "psuche". A "psuche" é a essência de quem uma pessoa é. É o seu caráter interior. A "psuche" continua a existir depois que o corpo retorna à terra como pó. Os órgãos da "psuche" são o coração, a mente e a vontade. No livro de Gênesis, quando Deus criou o homem, a Septuaginta grega (tradução grega do Antigo Testamento) diz que quando Deus soprou no corpo do homem, "o homem se tornou um psuche vivo" (2:7). O homem tem um corpo; ele tem um espírito; mas ele é fundamentalmente uma alma ("psuche"). A "psuche" de uma pessoa é quem essa pessoa realmente é.

O mandamento de Jesus é: Não temais aqueles que matam o corpo, mas são incapazes de matar a alma. Ele informa a Seus discípulos sobre a extensão do perigo que eles enfrentarão ao segui-Lo. Governantes e turbas insanas matarão o corpo dos seguidores de Cristo buscando expandir ou preservar seu poder terreno. De fato, todos os doze discípulos originais, com exceção de Judas Iscariotes, foram perseguidos por sua fé. E de acordo com as Escrituras e a tradição cristã, todos, exceto João, foram executados por sua obediência a Cristo. Seguir a Jesus custaria suas vidas físicas. Seguir a Jesus era a razão pela qual seu "psuche" seria separado de seus corpos.

Eles seriam espancados, presos, torturados, decapitados e crucificados por seguirem a Jesus. Estas são questões graves que provocam medos naturais. Mas esses medos naturais não deveriam ser a coisa mais importante à qual os seguidores de Cristo deveriam temer. Eles não deveriam deixar que seu medo natural de morrer nas mãos daqueles que matam o corpo os impedissem de cumprir sua missão e objetivo. Os homens podem matar corpos físicos e pôr fim às vidas terrenas, mas eles são incapazes de matar nossa vida interior, nosso "psuche" e, portanto, não devem ser temidos.

Entretanto, ao mesmo tempo em que Jesus diz que eles não deveriam temer os homens, Ele os instrui a temer Aquele que é capaz de destruir tanto o "psuche" (alma) quanto o corpo na Geena (inferno). Eles devem temer a Deus. A palavra traduzida como "inferno" é Geena, que era o vale que fazia fronteira com Jerusalém. A palavra é usada aqui como uma metáfora para a corrupção sendo purificada com fogo.

Este padrão é parecido com o terror dos israelitas aos pés do Monte Horebe e à forma usada por Moisés para lhes trazer conforto:

"Disseram a Moisés: Fala-nos tu, e ouviremos; porém não nos fale Deus, para que não morramos. Respondeu Moisés ao povo: Não temais, porque Deus veio para vos provar e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis". (Êxodo 20:19-20)

Nesta passagem, os filhos de Israel estão com medo de morrer fisicamente caso a terrível voz de Deus continuasse a falar. Moisés lhes assegura que a morte física não é (comparativamente) um grande problema e que eles não deveriam ter medo dela. Em vez disso, o que eles realmente deveriam temer é pecar e desagradar a Deus. Deus é um fogo que consome (Deuteronômio 4:24; Hebreus 12:29). Seu fogo de julgamento avaliará todas as obras de cada crente e separará as obras feitas para Deus daquelas feitas para serem vistas pelos homens. O apóstolo Paulo descreve as obras feitas para serem recompensadas pelos homens como "madeira, feno, palha" – materiais que queimam fácil e rapidamente, enquanto as obras feitas ao Senhor são descritas como "ouro, prata, pedras preciosas" (1 Coríntios 3:12). É o fogo do julgamento de Deus que revelará qual é qual. Como Jesus afirmou anteriormente neste capítulo, Deus e somente Deus é o Verdadeiro Juiz sobre todos.

Davi também testifica desse mesmo princípio do temor a Deus sobre o temor do homem ao escrever:

"No dia em que eu temer,eu porei a minha confiança em ti. Em Deus, louvarei a sua palavra;em Deus, ponho a minha confiança, não terei medo.Que me pode fazer a carne?" (Salmos 56:3-4)

Assim como o amor, o medo é uma motivação poderosa. O medo pode aterrorizar o coração e paralisar a mente, tornando-se extremamente difícil de ser desalojado e superado através da mera racionalidade. Uma maneira eficaz de lidar com o medo doentio não é desejar arrancá-lo, mas substitui-lo por um medo saudável. Uma das maneiras pelas quais podemos buscar primeiro o Reino de Deus e Sua justiça (Mateus 6:32) é priorizar nossos medos de acordo com o que Deus nos diz que devemos temer. A Bíblia nos diz repetidamente que devemos temer a Deus acima de tudo. Veja  Deuteronômio 10:12, Deuteronômio 31:6, Jó 28:28, Salmo 33:8, Salmo 34:4, Provérbios 1:7, Provérbios 19:23, Provérbios 29:25, Eclesiastes 12:13, Filipenses 2:12-13: Hebreus 10:26-31.

Aqui em Mateus, Jesus nos diz que, ao invés de permitirmos que o medo doentio, mas real, dos homens nos controlem e dirijam nossas escolhas, devemos substitui-lo por um temor apropriado Daquele que é capaz de destruir tanto o "psuche" (alma) quanto o corpo na Geena (inferno).

Jesus está ensinando Seus discípulos a terem mais temor a Deus do que medo do homem. Mas o que Ele quer dizer com destruir tanto a alma ("psuche") quanto o corpo no inferno (Geena)?

Como já observamos, o termo para alma é "psuche", que significa nosso eu ou nossa identidade central. É aquilo que continuará após a morte física. A "psuche" é o nosso coração e seus desejos, nossa mente e sua consciência, e nossa vontade e suas escolhas. É a nossa própria existência e vida. A Alma/"psuche" é muitas vezes tomada como sinônimo de espírito. Mas a Bíblia distingue claramente esses dois termos metafísicos quando fala sobre os seres humanos. Hebreus 4:12 diz: "Porque a palavra de Deus é viva e ativa, e mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, penetrando até a divisão da alma e do espírito."

O homem tem um corpo físico, um espírito imaterial e uma alma imaterial. A Bíblia ensina que, por causa do pecado, as pessoas estão espiritualmente mortas (Gênesis 2:17); que, pela graça de Deus, seu espírito (termo grego "pneuma") se torna vivo quando eles creem que Jesus é Deus e colocam sua esperança Nele (João 3:6-16, Efésios 2:1-9, Romanos 8:162 Coríntios 5:17). Quando o espírito de uma pessoa é vivificado pela graça de Deus, essa pessoa passa a fazer parte, para sempre, da família de Deus (João 1:12, Romanos 8:15-17). Nada pode separá-la ou removê-la da bondade do Seu amor (João 10:28-29, Romanos 8:31-39). Deus a justifica (Romanos 3:21-26) e a declara justa (Romanos 5:1). Este dom da vida eterna e da justiça em Cristo é irrevogável (Romanos 10:4). Seu espírito é salvo por toda a eternidade e ela pertence a Jesus para sempre.

A salvação de Deus no espírito do homem ("pneuma") é frequentemente chamada de "justificação". Não é algo merecido. É Sua dádiva, algo gratuito, a todos os que crêem em Jesus. E o espírito ("pneuma") de um crente em Jesus é instantânea e eternamente vivificado no momento em que a pessoa crê em Cristo.

O que resta para o crente é que sua alma ("psuche") seja conformada à imagem de Jesus (Romanos 8:28-30, 12:2, Tiago 1:21, 1 Pedro 1:9  ,  1 Pedro 2:11). Seu coração, agora, precisa aprender a amar as coisas que Deus ama, sua mente precisa compartilhar a perspectiva de Deus, e sua vontade precisa escolher o bem, da forma como Deus o define. Isso é um processo. Esse processo de transformação da alma é chamado de "santificação". A santificação salva a alma do cristão da devastação de se apegar ao que é mau, abraçar uma perspectiva defeituosa ou escolher coisas que resultarão em consequências destrutivas. A santificação ocorre quando confiamos em Deus, pela fé, durante as provações e decisões diárias que tomamos. É o processo de alcançar nosso destino final de sermos conformados à imagem de Cristo (Romanos 8:29).

Como crentes, somos salvos de sermos separados de Deus por toda a eternidade e estamos salvos da condenação eterna no Lago de Fogo, mas o "psuche" de cada crente que vive nesta terra precisa ser renovado à imagem de Jesus. A “psuche” precisa ser salva do poder do pecado para que interrompa as consequências negativas das nossas más escolhas. Por que, então, Jesus diz a Seus discípulos (cujos espíritos já haviam sido salvos do inferno através de sua fé Nele) para temerem Aquele que pode destruir suas almas no inferno? Do que Ele está falando?

A palavra no grego original para esta passagem, traduzida como inferno, é uma que analisamos anteriormente. É Geena. Geena é o termo grego para o "Vale de Hinom", transliterado do termo hebraico "Ge-Hinnom". Este vale estava localizado ao sul imediato das muralhas da cidade de Jerusalém; ainda tem esse nome até hoje. Desde o Reino de Judá até o tempo de Jesus, o local funcionava como o lixão da cidade. Lá, todos os resíduos eram queimados, incluindo carcaças mortas.

Geena é um dos termos que Jesus emprega para ilustrar o efeito de perder o Reino como resultado de escolhas ruins (Mateus 5:22; Mateus 5:29; Mt 5:30; Mateus 18:9; Mateus 23:15; Mateus 23:33; Marcos 9:43; 9:45; 9:47; Lucas 12:5 ). A imagem do Geena, o depósito de lixo, contrasta com a vida dentro da cidade. Quem está lá foi excluído da glória que ocorre dentro da cidade na presença do Rei. Crentes infiéis perdem esta celebração; eles perdem completamente o banquete de honra (Mateus 8:12). Eles estão no Vale de Hinom, no lixão, em vez de participar do grande evento como convidados de honra. Outra imagem possível que a palavra Geena evoca é a de purificar o "psuche" e queimar as obras inúteis e os desejos carnais. Já que o destino de cada crente é ser conformado à imagem de Cristo, é evidente que as impurezas precisam ser removidas através de uma vida fiel composta de escolhas fiéis em meio às dificuldades. As impurezas precisam ser removidas de alguma forma.

Há duas aplicações aparentes da imagem do Geena para esta passagem. Uma delas é que Deus usará a causa-efeito natural do pecado para queimar as impurezas em nossas vidas nesta terra. Vemos isso em Romanos 1:24, 26, 28. O texto mostra que qualquer pessoa que insista em escolher o pecado é entregue por Deus às suas próprias concupiscências como castigo. A imagem de ser entregue ao Geena é paralela à esta passagem de Romanos, bem como a de Êxodo 20. Devemos temer o imenso dano que o pecado causará à nosso "psuche" ao sermos entregues às suas garras, para servir aos nossos próprios desejos. O mundo comercializa a vida pecaminosa e nos mostra como "vivê-la". A perspectiva verdadeira é que uma vida vivida assim leva a pessoa a caminhos de morte (Romanos 6:26). A morte (separação) de propósitos não cumpridos, morte de relacionamentos harmoniosos, morte de recompensas duradouras, etc. Esta aplicação fica clara neste contexto.

Outra aplicação da imagem do Geena é a perspectiva do juízo de Deus. Além de Deus entregar aqueles que buscam o pecado às consequências naturais de seus comportamentos, como vemos em Romanos 1, Deus julgará ativamente as obras de Seu povo. O Geena também pode ser usado como uma imagem para os crentes que possuem obras de "madeira, feno, palha" queimadas, enquanto que os crentes fiéis, cujas obras de "ouro, prata, pedras preciosas" foram refinadas, estão dentro da cidade servindo e compartilhando o trono com o Grande Rei.

Qualquer que seja a intenção de Jesus com esta mensagem, os discípulos com certeza entenderam o claro contraste. A aplicação deste versículo demonstra que o ponto principal da mensagem é a imensa vantagem que o cristão que serve a Jesus sem medo tem em relação àquele que permite que o medo do mundo interrompa sua caminhada com Cristo. Ao invés de confiar em Deus para a santificação através das provações da vida, o crente infiel irá perder a recompensa de conhecer a Deus no presente, bem como a glória futura de suas grandes recompensas, incluindo a de reinar com Jesus.

Para uma descrição mais completa do Geena, por favor, veja o comentário de Mateus 5:21-22.

Nesta passagem, Jesus adverte Seus discípulos quanto ao terrível perigo de perderem a glória futura de reinar com Ele na Nova Terra. Em última análise, quando vivemos sem medo dos homens, Deus nos recompensará por nossa fidelidade.

"Portanto, também aqueles que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas  ("psuche") ao fiel Criador, praticando o bem." (1 Pedro 4:19)

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