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Significado de Mateus 10:34-37

Jesus adverte aos discípulos sobre a profunda divisão que a mensagem do Seu Reino semearia entre os homens. Irá dividir até as famílias. Ele diz a Seus discípulos que qualquer um que não O ame mais do que aos relacionamentos mais queridos dentro de suas famílias não é digno Dele.

Os relatos paralelos do Evangelho quanto a este ensino são encontrados em Marcos 13:12-13,  Lucas 12:51-53 e Lucas 14:26.

Às vezes, é tentador pensarmos que Jesus veio para trazer paz e harmonia  nesta terra; que as sociedades desta era ou de qualquer era antes da vinda do Reino encontrarão unidade entre si em Seu nome. Mas Jesus diz a Seus discípulos que esse pensamento é equivocado. Ele lhes diz explicitamente: Eu não vim para trazer a paz, mas a espada.

O que o Mestre Jesus - a quem o profeta Isaías chamou de "Príncipe da Paz" (Isaías 9:6) – que havia ensinado a Seus discípulos quando os instruiu a "amar os vossos inimigos" (Mateus 5:44) e "Makarios são os pacificadores" (Mateus 5:9) estava querendo dizer com tal declaração?

Este aparente paradoxo é abordado no comentário de Mateus 5:9.

O paradoxo emerge quando consideramos duas afirmações de Jesus:

“Bem-aventurados os pacificadores (“fazedores de Shalom”), pois eles serão chamados filhos de Deus.”

"Não penseis que vim trazer a paz à terra; Eu não vim trazer a paz, mas a espada" (Mateus 10:34).

Como Jesus poderia estar convocando Seus seguidores à paz e à guerra ao mesmo tempo?

Essas declarações podem ser reconciliadas quando nos lembramos de duas verdades mencionadas anteriormente:

  1. É impossível que os reinos corruptos deste mundo experimentem o Shalom de Deus. O mal e o Shalom são mutuamente exclusivos. Jesus não está convidando Seus discípulos a se comprometerem com os governos pecaminosos do mundo.
  2. Ao invés da paz vazia gerada pelos compromissos com o mal, Jesus e Seu Reino oferecem a plenitude do Shalom.

Com essas verdades em mente, vemos que um dos importantes aspectos do que Jesus quis dizer com sermos “fazedores de Shalom” é sermos testemunhas fiéis; dar a vida pelo que é verdadeiro e bom; resistir ao compromisso com o mundo; expor falsos ensinamentos; posicionar-nos contra a injustiça e a corrupção. Ao fazê-lo, ao seguirmos a Jesus, trazemos a espada para o sistema mundial – esta espada é o Shalom de Jesus.

Essa ideia de Shalom como testemunha perturbadora pode ser vista na próxima bem-aventurança: "Makarios são os que foram perseguidos por causa da justiça" (Mateus 5:10), bem como na declaração de Jesus de que Seus discípulos deveriam ser "sal" e "luz" (Mateus 5:13-16).

O Messias veio para traçar uma linha entre o Seu Reino de luz e os reinos das trevas. Ele veio para chamar as pessoas ao arrependimento (mudança de mente), para mudar sua filiação, fidelidade, cidadania e identidade, do reinos dos homens para o Reino eterno de Deus (Mateus 4:17). Esta é a mesma mensagem que João Batista pregava (Mateus 3:2). De fato, é a mesma mensagem que Jesus havia ordenado a Seus discípulos que pregassem quando os enviou às ovelhas perdidas de Israel (Mateus 10:6-7).

Mas Jesus sabia que, ao chamar as pessoas à luz e à vida, muitos odiariam e rejeitariam Sua oferta. Os homens lutam e até matam para resistir à luz.

"O juízo é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; pois eram más as suas obras.Porquanto todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não vem para a luz, a fim de que as suas obras não sejam arguidas;" (João 3:19-20)

A espada do Evangelho divide os caminhos escuros deste mundo e os caminhos da luz – os caminhos de Deus. Ela divide aqueles que amam a Jesus e aqueles que amam as coisas deste mundo. Ela divide o que é verdadeiro e real e o que é falso.

É importante esclarecer que, em Sua observação, Jesus não está convocando Seus discípulos a uma ação física contra aqueles que se opõem ao Seu Evangelho. A espada será usada, sim, contra os crentes por aqueles que odeiam a Cristo. Mas Jesus equipará Seus seguidores com a espada do espírito, que é a Palavra de Deus, e os enviará para lutar contra as forças espirituais do mal com a Verdade do Evangelho (Efésios 6:10-17). Jesus nunca ordena a Seus seguidores que usem a espada material como meio de promover Seu Reino ou Seu Evangelho nesta vida. Pelo contrário, Jesus instrui Seus discípulos a "dar a outra face" (Mateus 5:39). Ele ordena a Pedro que guarde sua espada física (João 18:11). Cristo é o modelo de dar a Sua própria vida até mesmo por Seus inimigos (Lucas 23:34; Romanos 5:8). Nossos inimigos vão nos odiar sempre, mas nós devemos amá-los.

No entanto, a Bíblia é clara em alertar que os crentes são chamados para a batalha, mas não contra inimigos humanos. Como Paulo explicou aos crentes de Éfeso:

"pois não temos que lutar contra carne e sangue, mas contra os principados, contra os poderes, contra os governadores do mundo destas trevas, contra as hostes espirituais da iniquidade nas regiões celestes." (Efésios 6:12)

Jesus reconhece que a espada da Palavra de Deus e do Evangelho dividirá as pessoas contra os membros de sua própria família. Isso indica que a identificação com Jesus e a obediência ao Seu Reino são mais profundas do que o mais profundo dos relacionamentos terrenos. Ele apresenta três relações familiares como exemplo: Pois eu vim colocar o homem contra seu pai, a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra.

Jesus está citando Miquéias 7:6, que diz:

"Pois o filho nega o pai,a filha levanta-se contra a mãe, a nora contra a sogra; Os inimigos de uma pessoa são as pessoas de sua própria casa."

Em seu texto, Miquéias descreve uma sociedade injusta, na qual o iníquo conspira contra os justos e "a pessoa piedosa perece da terra" (Miquéias 7:2). Mas Miquéias prediz um dia de julgamento semelhante ao de Babel e profetiza que uma grande "confusão ocorrerá" (Miquéias 7:4), quando ninguém será capaz de confiar em seu próximo, amigos, esposa ou familiares. Miquéias afirma: "Mas, quanto a mim, estarei vigilante para o Senhor; esperarei pelo Deus da minha salvação" (Miquéias 7:7).

Jesus diz a Seus discípulos: Eu vim para realizar esse julgamento de confusão entre os ímpios que Miquéias 7 descreve. Esta é a décima vez que Mateus demonstra que Jesus é o Messias usando as profecias messiânicas do Antigo Testamento (as nove citações anteriores são Mateus 1:22-23; 2:5-6; 2:16-18; 2:23; 3:1-3; 4:4-6; 4:13-16; 5:17; 8:17). Porém, esta citação é extremamente digna de atenção, porque é a primeira vez que Mateus registra Jesus afirmando que Ele, Ele mesmo, é o cumprimento de uma passagem messiânica em particular.

A relação pai/filho é um dos laços mais fundamentais que os seres humanos podem experimentar. Desde cedo na vida, um filho mede a si mesmo através da aprovação de seu pai. Um pai naturalmente ama seu filho e  deseja que seu filho se destaque e o deixe orgulhoso. E, no entanto, Jesus diz que, se um seguidor  deve ser digno de Mim, ele deve amar a Jesus mais do que seu próprio pai ou filho.

A relação mãe/filha é semelhante. Ao especificá-la, Jesus revela que este mandamento não se limita aos homens. Seu chamado do Reino e Suas exigências também são aplicáveis às mulheres. Quem ama mãe ou filha mais do que a Mim não é digno de Mim.

A terceira relação que Jesus menciona é nora/sogra. Este é um relacionamento ligado não pelo sangue, mas pelo casamento. É interessante que Jesus não menciona o relacionamento marido/esposa, que é o relacionamento humano mais profundo de todos (Gênesis 2:24). Talvez Ele não tenha feito isso por saber que marido e mulher são "uma só carne" e que Deus tem o casamento em alta consideração (Mateus 19:4-9). A profecia de Miquéias não diz "casamento" ou usa termos como "marido" ou "esposa", mas descreve um relacionamento sexual:

"Guardai os vossos lábios daquela que jaz nos vossos braços" (Miquéias 7:5).

Isso poderia se aplicar ao casamento, mas a sociedade na qual Miquéias está inserido é tão perversa que ele não está se referindo ao casamento.

Embora Jesus não mencione o relacionamento marido/esposa pelo nome, o princípio de que Deus deseja que Seus seguidores O amem mais do que a seu cônjuge parece se aplicar (Gênesis 3:17). No entanto, as Escrituras são claras de que, se um crente é casado com um incrédulo, tanto quanto puder, este deve permanecer no relacionamento, a fim de influenciar positivamente seu cônjuge (1 Coríntios 7:12-16). Ao fazer isso, a pessoa está colocando o Reino de Deus em primeiro lugar.

Em relação à divisão que Seu Reino trará, Jesus diz que os inimigos de um homem serão os membros de sua família. Qualquer divisão entre os membros de uma família é algo extremamente doloroso. Mas, se tivermos que encarar tal escolha, devemos decidir de quem seremos amigos e de quem seremos inimigos. Rejeitar aqueles a quem respeitamos e amamos profundamente é, sem dúvida, mais dolorosa do que o desprezo de estranhos. Porém, se quisermos ser dignos de Jesus e de Seu Reino, devemos estar dispostos a ser rejeitados, odiados e até perseguidos por nossa própria família.

Como o Rei Messiânico, Jesus deve receber nossa maior fidelidade, profunda confiança e mais alto amor. Jesus promete que tal amor será retribuído muitas vezes.

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