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Significado de Mateus 12:15-21

Mateus nos diz que Jesus, por ora, não havia sido atingido pela conspiração dos fariseus para destrui-Lo. Ele continua a curar pessoas, mas toma o cuidado de manter sua identidade como o Messias como um mistério. Mateus ressalta como isso é mais um cumprimento profético de Isaías.

O Evangelho paralelo que narra a história deste evento pode ser encontrado em Marcos 3:7-12.

Jesus sabia o que os fariseus estavam conspirando contra Ele. Ele estava ciente do que eles planejavam e como poderiam destrui-Lo porque Ele os havia envergonhado publicamente como resposta ao desafio de Sua autoridade em relação ao Shabat. Então, Jesus saiu e se retirou dali. Mateus indica que Jesus saiu da sinagoga onde havia restaurado a mão doente do homem, porém Jesus pode também ter saído daquela cidade ou região e se retirado para algum outro lugar na província romana de Judéia. Mas, Mateus não nos dá detalhes do lugar para onde Ele foi.

Onde Ele ia, muitos O seguiam. Marcos registra de onde vinham os muitos que O seguiam. Eles vinham da Galiléia (norte de Israel), Judéia (sul de Israel) e da cidade de Jerusalém, na região de Iduméia (um pouco mais ao sul de Judéia, além do Jordão, na Peréia), bem como da costa mediterrânea, das cidades de Tiro e Sidom, a noroeste (Marcos 3:7-8). Isso significa que as pessoas que O seguiam vinham de um raio de mais de 100 milhas.

Elas eram atraídas por Seus poderes milagrosos e achavam que Ele poderia ser o Messias. Enquanto O seguiam, Jesus continuou a usar Seus poderes e a curar a todos que se chegavam a Ele.

Enquanto curava os doentes, as multidões especulavam sobre Sua identidade messiânica. Jesus avisou a eles para não contar a ninguém quem Ele era. Talvez fosse porque Ele não desejava que este fato fosse conhecido por muita gente até que Seu tempo chegasse (João 7:6). Jesus deu esse mesmo alerta aos demônios que o identificaram como o Filho de Deus (Marcos 3:11-12).

Mateus, em seguida, conta a seus leitores que a proteção de Sua identidade era para cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías. Mateus novamente demonstra pelas Escrituras do Antigo Testamento, para um público primariamente judeu, que Jesus era o Messias. Mateus cita Isaías 42:1-4 com algumas alterações. Mateus escreve:

Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado em quem a minha alma se agrada. Sobre ele porei o meu Espírito, e ele anunciará o juízo aos gentios. Não contenderá, nem clamará, nem ouvirá alguém a sua voz nas ruas. Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça triunfar o juízo.”

Existem quatro diferenças notáveis entre a citação de Mateus e as palavras de Isaías. A primeira é que Mateus descreve o Servo como “Meu Amado”, enquanto Isaías O descreve como “Meu Escolhido”. A segunda é que Mateus altera o pretérito de Isaías na terceira linha: “Vou colocar meu Espirito sobre Ele”, ao invés de “Eu coloquei meu Espírito sobre Ele”. A terceira diferença é que Mateus interpreta a descrição de Isaías de “nações” e “terras distantes”, significando os gentios. Esta foi uma escolha interessante de Mateus, que tinha o propósito de escrever essa narrativa de Evangelho para mostrar como Jesus era o aguardado Messias judeu enviado por Deus. A diferença final é que Mateus omite duas linhas de Isaías: “Ele irá fielmente trazer a justiça. Ele não se apagará nem será quebrado”. Essas diferenças não mudam significantemente o conteúdo ou o significado do que Isaías havia profetizado, mas dão uma nova compreensão e destacam o novo foco e perspectiva à profecia original de Isaías.

A profecia de Isaías 42:1-4, na verdade, é o fim de uma citação longa dada pelo Senhor Deus de Israel, que começa em Isaías 41:25 e vai até Isaías 42:4. A passagem descreve o fato de que  ninguém na história de Sião havia dado ouvidos a Deus (Isaías 41:26), e que não existia nenhum conselheiro entre eles capaz de falar em nome de Deus (Isaías 41:28-29). E, então, o texto registra a parte da profecia citada por Mateus (Isaías 42:1-4).

O Senhor descreve o Messias como Meu Servo (Isaías 42:1; Mateus 12:18). Jesus veio como Servo. Ele serviu à vontade de Seu Pai em obediência perfeita (Mateus 26:39; João 6:38; Filipenses 2:5-8). Ele veio para servir a toda a humanidade e sofrer em seu lugar, para disponibilizar a todos a redenção (Mateus 20:28)

Em Isaías, Jesus é chamado de “Meu escolhido” (Isaías 42:1). Na Septuaginta, a palavra grega usada é “ekletos”, que significa “escolhido” ou “eleito”. Mateus escreve “Meu Amado” (“agapetos”), indicando a relação próxima que Jesus tinha com Seu Pai. Jesus foi escolhido por Deus Pai para a Sua missão divina e era profundamente amado pelo Pai. Tanto Isaías quanto Mateus seguem essa descrição com a afirmação do grande prazer que a  alma de Deus tinha no Messias. No batismo de Jesus, Mateus registra que “uma voz vinda dos céus” declarou “Esse é Meu Filho Amado, de quem me agrado” (Mateus 3:17).

A próxima linha da profecia de Isaías diz: “Eu coloquei Meu Espírito sobre ele (Isaías 42:1).” É interessante notar que a profecia de Isaías indica essa declaração no tempo verbal passado. É comum no Antigo Testamento que uma profecia ou algo que irá ocorrer no futuro seja declarada no tempo verbal passado, visando enfatizar a confirmação de algo que Deus irá fazer acontecer. A ideia é a seguinte: Se Deus disse, com toda certeza irá acontecer. Neste caso, podemos argumentar que esta parte da profecia já tenha ocorrido, já que Jesus é Deus. Mais provavelmente, a passagem estava prevendo que Deus se tornaria humano e seria guiado pelo Espírito.

Nós sabemos que esse Servo é Jesus, o Filho de Deus, a Palavra que estava com Deus no início (João 1:1). Não era de conhecimento geral dos judeus nos dias de Isaías que Deus era um Ser triúno. Este é um de muitos versículos em que a Trindade aparece de uma forma sutil. Isso dava aos judeus um motivo para meditar durante sua leitura do profeta.

Conforme mencionado acima, Mateus altera o tempo verbal do passado para o futuro nesse pensamento ao escrever: “Colocarei Meu Espirito sobre Ele.” A prática comum em sua época era que os leitores lessem em voz alta para o povo. Isso ocorria por falta de acesso das pessoas aos pergaminhos das Escrituras. Cada sinagoga tinha um pergaminho e as pessoas memorizavam os textos. O leitor traduzia do hebraico para o aramaico (a língua comum dos judeus naquela época) enquanto liam. Pode ser que os leitores traduzissem essa parte no tempo verbal futuro, já que claramente é o que poderia ser interpretado pelo contexto. Fica explícito neste texto de Isaías que a futura vinda do Messias estava sendo apresentada.

Isaías continua: “Ele trará a justiça” (Isaias 42:1), algo que os judeus esperavam que o Messias realizasse quando chegasse. Porém, Isaías não para aí. Ele diz: “Ele irá trazer justiça para as nações” (Isaías 42:1). “As nações” aqui é um eufemismo para aqueles que não eram o povo escolhido de Deus, os não-judeus, os gentios. Mateus muda de “trazer” para “proclamar”, remove o eufemismo e explicitamente cita os gentios. Deus estava provando Sua declaração na profecia de Isaías. Seu ponto principal é indicar que a rejeição do povo de Sião a ouvir e obedecer a Deus resultou no envio do Seu Servo para trazer justiça para os gentios.

É interessante que a palavra que Mateus usa, traduzida nesta passagem como “justiça”, não é muito comum. A palavra grega mais comum para justiça é “Dikaiosuné”, normalmente traduzida como “misericórdia”. “Dikaiosune” enfatiza a harmonia, a boa ou correta ordem das coisas. A palavra grega traduzida como justiça nesta passagem é “krisis” e é dela que se deriva a palavra “crise”. Essa palavra é normalmente traduzida como “julgamento”. Uma tradução mais descritiva do significado que Mateus quer passar pode ser “reinvindicação”. O coração dessa profecia demonstra que o Servo de Deus, o Messias judeu, irá reivindicar ou validar os gentios e graciosamente inclui-los em Seu plano de redenção. Esse julgamento ou “krisis” trará justiça e será a grande esperança dos gentios.

É adequada a forma como Mateus menciona essa profecia nesse momento particular de sua narrativa. Ele traz isso à mente de seu público em meio aos confrontos entre Jesus e os líderes religiosos da Judéia. Eles se comportam como seus ancestrais e se recusam a ouvir e obedecer a Deus. Eles, mais tarde, lideram a nação na rejeição a Jesus como o Messias. Eles rejeitam completamente ao Messias pelo qual esperavam: um sacerdote eterno da ordem de  Melquisedeque (Salmo 110:4, Hebreus 6:20); um doador profético das leis do Reino entre seus irmãos, como havia sido Moisés (Deuteronômio 18:18, João 1:45, Atos 3:22); e um Rei da linhagem de Davi (2 Samuel 7:11-16, 1 Crônicas 22:9-10, Salmos 89:3-4, 89:35-36, Jeremias 23:5-6, Mateus 1:1, 1:17, 9:27; 12:23, Lucas 1:32-33, Atos 15:15-17).

Jesus também é o salvador do mundo inteiro (João 3:17, 4:42, Romanos 1:16, Tito 2:11, 1 João 4:14).

As profecias indicavam que Jesus era o Rei dos judeus. Ele veio como judeu para os judeus. Mas, quando os judeus recusaram seu Messias, Jesus ofereceu Sua salvação e Seu Reino aos gentios e a todo aquele que crer Nele e O seguir, assim como fora profetizado por Isaías. Em Romanos 9 e 11, Paulo argumenta que, no mistério de Deus, Ele estava usando seu ministério para compartilhar a Cristo entre os gentios, visando criar ciúmes entre seus irmãos e salvar alguns deles (Romanos 11:14).

Ainda que fosse apropriado incluir essa profecia específica de Isaías em referência à rejeição dos fariseus a Jesus como Messias, este não parece ser o maior motivo de Mateus. Na realidade, seu propósito parece ser o de explicar porque Jesus alertou aos muitos que O seguiam que não revelassem quem era Ele. Mateus indica que isso era o cumprimento do que havia sido dito pelo profeta Isaías. Em outras palavras, Jesus alertou as pessoas a este respeito, pelo menos em parte, porque isso era necessário para o cumprimento dessa profecia. As linhas seguintes, que são o coração da citação por Mateus de Isaías 42:2,3, deixam isso bastante claro:

Não contenderá, nem clamará, nem ouvirá alguém a sua voz nas ruas. Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega.”

Quando vemos sob essa luz, podemos perceber que o Servo de Deus não faz nenhum alarde sobre quem Ele era. Ele não tentaria provar a ninguém, ou discutir com ninguém. Ele não iria ordenar ou insistir que as pessoas cressem em Sua verdadeira identidade. Ele não gritaria ou bateria o pé dizendo que era o Messias. As pessoas não O escutariam nas ruas promovendo Seu próprio nome como o Messias. Ele iria revelar-Se de forma humilde. Ele iria revelar-Se de forma gentil. Ele não quebraria a cana esmagada. Sua voz seria silenciosa. Ele não apagaria a torcida que fumegava.

Ao invés de fazer barulho e Se anunciar como o Messias, Jesus iria deixar Seus milagres, Seu caráter, Seus ensinamentos morais e Sua profecias proclamarem Sua identidade. Isso daria às pessoas a oportunidade de aceitá-Lo e amá-Lo por quem Ele era, por fé. Se Jesus tivesse revelado Sua identidade, ninguém teria tido a livre escolha de vir a Ele. Todos teriam ficado aterrorizados por Sua presença diante da verdade inescapável de que Ele era Deus e seriam sido forçados a reconhecê-Lo. No futuro, em Sua segunda vinda, Jesus vai revelar Sua glória e compelir a todos a reconhecê-Lo como Rei (Romanos 14:11, Filipenses 2:10-11). Mas, durante Sua primeira vinda à terra, Ele veio como Servo. Ele garantiu que as pessoas tivessem a livre escolha de acreditar ou não. Em Sua primeira vinda, Ele deu evidências mais que suficientes para demonstrar claramente Sua identidade, ao mesmo tempo em que deixava espaço suficiente para as pessoas O aceitarem ou rejeitarem.

Mateus omite duas linhas de Isaías: “Ele trará fielmente a justiça. Não se apagará nem será quebrado” (Isaías 42:3-4). É possível que Mateus tenha deixado esta parte de fora porque elas fazem referência à segunda vinda de Jesus, quando Ele retornará à terra para executar justiça e trazer misericórdia eterna (Apocalipse 19:11). Em Sua primeira vinda, Jesus foi rejeitado e quebrado. Muitas injustiças foram cometidas contra Ele.

As profecias do Antigo Testamento não são contadas em uma linha cronológica de eventos históricos. Os eventos profetizados eram muitas vezes misturados e colocados fora de ordem, com grandes interrupções irregulares de tempo. Isso aparenta ser o caso dessa profecia messiânica. Isaías está falando sobre as duas vindas do Messias, a primeira ocorrida quando Jesus nasceu no primeiro século d.C. e a outra que ocorrerá no futuro quando Ele regressar à terra. Ao explicar essa passagem, Mateus parece focar principalmente em como Jesus cumpriu as declarações proféticas de Isaías relacionadas à primeira vinda do Messias.

Mateus termina sua citação da profecia de Isaías com: “Até que Ele lidere justiça para vitória. E em Seu nome os gentios esperarão. O termo “Até” serve como um aviso importante. O Servo de Deus não vai permanecer para sempre tão gentil e suave. Ele não vai ser quebrado ou esmagado em Sua segunda Vinda. Um dia, Ele será tudo, menos meigo. Quando Ele apareceu a seu amigo João em Apocalipse, Jesus se apresentou como um Ser aterrorizante (Apocalipse 1:14-17). Jesus vai liderar em justiça para a vitória quando retornar e fazer guerra contra “a besta e os reis da terra e seus exércitos reunidos... contra Ele” (Apocalipse 19:19). Não vai ter nada de gentil. Mateus deixa claro que Isaías está se referindo ao Servo de Deus como a esperança dos gentios. Mateus provavelmente incluiu essa profecia de Jesus julgando o mundo porque ele claramente usa uma linguagem para um evento futuro.

Esta é a décima-segunda vez que Mateus indica explicitamente como Jesus cumpriu as profecias do Antigo Testamento em relação ao Messias. (As outras onze são encontradas em Mateus 1:22-23, 2:5-6, 2:16-18, 2:23, 3:1-3, 4:4-7, 4:3-16, 8:17, 10:35-36 e 11:10). Essa lista não inclui as três profecias messiânicas adicionais às quais Jesus se refere em Mateus 11:5-6.

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