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Significado de Mateus 11:20-24

Jesus repreende as cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum por sua falta de arrependimento à luz dos muitos milagres que Ele realizou entre elas. Ele diz que mesmo as cidades pagãs e perversas de Tiro, Sidom e Sodoma teriam mostrado mais arrependimento. Cada um de seus respectivos julgamentos refletirá isso.

Este evento não foi registrado em outros relatos do Evangelho.

Mateus nos diz que, depois de dizer essas coisas, Jesus começou a denunciar as cidades onde a maioria de Seus milagres haviam sido feitos. A razão pela qual Ele as denunciou foi porque o povo não aceitou Seu ensinamento central relacionado a arrepender-se [mudar seus caminhos], pois o Messias havia chegado e o Reino dos  Céus estava próximo. As cidades onde Jesus fez a maioria de Seus milagres foram Corazim, Betsaida e Cafarnaum. Todas estavam localizadas no distrito ao norte da Galiléia, na costa norte ou perto da costa norte do Mar da Galiléia.

Mateus cita a repreensão de Jesus. Ai de ti, Corazim! Ai de ti Betsaida! Estas eram as cidades costeiras onde Jesus havia chamado Seus primeiros discípulos (Mateus 4:18). Porém, muitos naquelas cidades, apesar de ficarem espantados com o poder e o espetáculo dos milagres de Jesus, não se arrependeram. Os milagres de Jesus serviram como testemunho e validação de Sua autoridade e da verdade de Seus ensinamentos. Eles testificaram que Ele era realmente o Messias. E, no entanto, esses milagres não convenceram os cidadãos de Corazim e Betsaida a ouvir e responder à mensagem de Jesus.

Jesus continua a dizer, para vergonha de Corazim e Betsaida, que se os milagres que Ele fizera tivessem ocorrido em Tiro e Sidom as pessoas teriam se arrependido há muito tempo em pano de saco e cinzas.

Tiro e Sidom eram antigas cidades costeiras localizadas ao norte de Israel, ao longo do Mar Mediterrâneo. Sidom havia sido fundada pelos cananeus (Gênesis 10:15; 10:19; 1 Crônicas 1:13). Josué e a geração que se seguiu foram incapazes de conquistar essas cidades (Josué 11:8; Josué 19:29; Juízes 1:31). O transporte de mercadorias parece ter sido sua principal indústria desde pelo menos o tempo dos reis de Israel até o tempo de Cristo (Neemias 13:6, Isaías 23:2). Ambas as cidades estavam associadas aos filisteus (Jeremias 47:4, Joel 3:4) e aos fenícios. Tiro e Sidom tiveram uma influência devastadora sobre o povo de Deus e os levaram a adorar falsos deuses (Juízes 10:6).

Curiosamente, Jesus visitaria mais tarde o distrito de Tiro e Sidom durante Seu ministério terreno (Mateus 15:21).

Ambas as cidades estavam associadas à iniquidade e à falta de reconhecimento da soberania de Deus, mas Jesus testificou que mesmo aquelas cidade não teriam permanecido tão obstinadas em sua incredulidade se tivessem visto o que Ele havia feito em Corazim e Betsaida. As antigas cidades de Tiro e Sidom teriam se arrependido. Como regra geral, nós, como seres humanos, não sabemos o que teria acontecido. Mas, neste caso, Jesus afirma Seu conhecimento divino e nos diz o que teria ocorrido.

Eles teriam se humilhado há muito tempo em pano de saco e cinzas como demonstração de seu arrependimento. O pano de saco era um tipo de material comum, mais adequado para guardar mercadorias do que roupas. Cobrir-se de cinzas deixa a pele fuliginosa e escura. Vestir-se com pano de saco e estar coberto de cinzas era uma expressão universal de luto em todo o mundo antigo. Jó sentou-se entre as cinzas depois de sofrer com suas calamidades (Jó 2:8). Depois de ouvir a pregação de Jonas, o rei de Nínive "cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre as cinzas" (Jonas 3:6) e o povo de Nínive "vestiu-se de pano de saco do maior para o menor" (Jonas 3:5).

Dada a sua idolatria, corrupção e orgulho religioso, se vestir de pano de saco e cinzas ao ouvir o chamado de Jesus para o arrependimento teria sido a resposta apropriada para as cidades de Corazim e Betsaida (Mateus 4:17). Se tivessem feito isso, teriam sido "Makarios" (bem-aventuradas) (Mateus 5:4).

Ao introduzir Sua próxima afirmação com a expressão Eu vos digo, Jesus indica que o que estava prestes a dizer estava calcado em Sua própria autoridade. Jesus declarou: Será mais tolerável para Tiro e Sidom no dia do julgamento do que para vocês. Esta é uma afirmação séria. O dia do juízo refere-se ao dia em que todos serão julgados por Deus. É o acerto de contas final. Como Deus, Jesus será o Juiz no dia do juízo, fato que trás ainda mais gravidade a esta afirmação. Afirmar que aquelas cidades pagãs teriam um juízo melhor do que as cidades judaicas de Corazim e Betsaida seria algo impensável para um judeu.

Menos rigor pode significar uma punição menor, ou uma sentença mais branda no caso de Tiro e Sidom comparada a Corazim e Betsaida. Isso indica que, pelo fato de as antigas cidades de Tiro e Sidom não terem visto os milagres de Jesus em seu tempo, Deus as responsabilizará menos por suas escolhas morais. Corazim e Betsaida, por outro lado, eram mais responsáveis por sua rejeição a Deus, já que haviam testemunhado os milagres de Jesus. Isso se encaixa na declaração de Jesus: "A quem muito foi dado, muito será exigido" (Lucas 12:48). O princípio parece ser o de que cada pessoa será julgada com base na administração que fizeram do conhecimento e oportunidade que receberam.

Jesus, então, repete uma repreensão semelhante à cidade de Cafarnaum. Cafarnaum era a cidade que Jesus havia escolhido como a sede do Seu ministério (Mateus 4:13). Como teve o maior testemunho, receberá, portanto, o maior castigo.

E tu, Cafarnaum, não serás exaltada ao céu? A versão NASB capta bem a essência da expressão de Jesus. Literalmente, Jesus diz: "E tu, Cafarnaum, aos céus serás exaltada." Mas, Ele diz isso em tom sarcástico. Sabemos que é sarcasmo com base no contexto que precede e sucede a esta observação. É claro que você, Cafarnaum, não será exaltada em glória no dia do juízo. Em vez disso, você descerá ao hades.

Hades era o termo grego para o lugar dos mortos. Era uma referência comum à vida após a morte. Descer ao Hades era o oposto de ser exaltado ao céu. Parece evidente que alguns dos seguidores e discípulos de Jesus eram de Cafarnaum, conforme indicado em Mateus capítulo 8. Assim, parece improvável que a intenção de Jesus fosse condenar a todos os habitantes. Na verdade, podemos concluir isso na história de Sodoma. Sodoma era uma cidade profundamente imoral e corrupta, tão perversa que Deus a destruiu pelo fogo (Gênesis 19:1-28). Sodoma serviu como um terrível sinônimo e exemplo da ira de Deus. Sodoma foi a comparação que Jesus usou, uma vez que o juízo sobre Sodoma foi retido até que seu único habitante justo, Ló, pudesse sair de lá. Este julgamento pode ter sido aplicado por causa da liderança da cidade, de todas as pessoas malignas que seguiram a seus líderes, ou ainda à própria existência da cidade.

Israel foi rejeitada por Jesus porque seus líderes O rejeitaram.

Observemos um exemplo da rejeição de Jesus por Israel por parte de seus governantes em Atos 3:19. Pedro recomenda aos judeus que haviam se reunido por conta de um milagre de cura que se arrependessem, caso desejassem que o Messias retornasse e estabelecesse Seu reino na terra.

"Portanto, arrependei-vos e voltai, para que os vossos pecados sejam apagados, a fim de que venham tempos de refrigério da presença do Senhor; e para que envie Jesus, o Cristo designado para vós." (Atos 3:19-20)

Isso deixa claro que, caso Israel se arrependesse, Jesus retornaria a eles. Muitos dos homens que ouviram o sermão de Pedro creram; a passagem diz que 5.000 foram adicionados à igreja a partir deste momento (Atos 4:4). No entanto, os governantes (líderes) prenderam a Pedro e alguns outros, e lhes ordenaram que não falassem mais sobre Jesus. Então, em Atos 7, Estevão se dirige ao conselho e os acusa de terem corações endurecidos e de rejeitarem as coisas de Deus. Por conta disso, Estevão é assassinado. É claro que Jesus não regressou à terra no primeiro século. Com isso em mente, concluímos que a fé daqueles 5.000, mais os 3.000 que creram no Pentecostes (Atos 2:41), além dos outros judeus que creram mais tarde, não podia se aplicar a todo o Israel. Podemos fazer a seguinte aplicação a partir deste princípio: a liderança deveria crer e arrepender-se para que todo o Israel fosse considerado como praticante de arrependimento. Esta parece uma conexão razoável, uma vez que os líderes, em última análise, representam as pessoas a quem governam; quando os líderes abraçam algo, normalmente uma parcela substancial do povo também abraça.

Portanto, uma possível aplicação prática desta passagem é a de que o julgamento que estava sendo pronunciado sobre as duas cidades se aplicava à sua liderança. Eles terão muito a responder no dia do juízo, por verem e por conhecerem a verdade e não levarem o povo à grande recompensa oferecida por Jesus.

Ao condenar essas cidades, Jesus provavelmente não estava condenando a todos os habitantes da cidade – o centurião justo de Mateus 8, ou a família de Pedro, por exemplo.

Isso parece ser validado pela forma como Jesus aplica o exemplo de Sodoma. Jesus afirmou que se Sodoma tivesse visto o que Cafarnaum viu, eles teriam se arrependido e  mudado seus caminhos, e a cidade não teria sido destruída. Teria permanecido até hoje.  Sodoma foi destruída, mas somente após a saída do único cidadão justo, o sobrinho de Abraão, Ló. É interessante notar que Deus disse a Abraão que pausaria o julgamento sobre Sodoma caso houvesse lá dez homens justos.

No entanto, toda Sodoma foi destruída, o povo junto com os líderes, com a única exceção de Ló e sua família. Assim, as pessoas que seguiram os líderes foram todas julgadas por suas ações iníquas. Assim, parece que o julgamento sobre as cidades está sendo pronunciado sobre toda a maldade praticada dentro delas.

Outra aplicação possível é que a existência física e literal dessas cidades cessará. A existência de Sodoma foi encerrada. Todas essas cidades na costa norte da Galiléia não existem mais. Atualmente podemos até mesmo visitar suas ruínas. Nenhuma delas continuou a existir como cidades ativas. Assim, isso pode ser parte do julgamento, já que a existência dessas cidades foi apagada. Isso parece se encaixar no uso de Sodoma como exemplo, na medida em que a própria existência de Sodoma foi eliminada. E com relação à rejeição de Israel a Jesus, o templo foi destruído em 70 dC, no final de um período de quarenta anos que pode ser considerado como uma geração. Grande parte dos habitantes de Jerusalém e Judá foram mortos ou dispersos neste momento. Muitos judeus que creram em Jesus foram expulsos da cidade devido à perseguição, algo que pode ser visto pelo mesmo prisma da presença de Ló em Sodoma.

Uma terceira aplicação possível é a de que, na Nova Terra, após o retorno de Jesus, cidades e países terão sido julgados. Há uma passagem intrigante em Apocalipse que sugere isso:

"Não vi nenhum templo nele, pois o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, e o Cordeiro são o seu templo. E a cidade não tem necessidade do sol ou da lua para brilhar sobre ela, pois a glória de Deus a iluminou, e sua lâmpada é o Cordeiro. As nações andarão pela sua luz, e os reis da terra trarão a sua glória para dentro dela." (Apocalipse 22:22-24)

Esta passagem indica que, na Nova Terra, na qual a justiça habita, haverá "nações" e "reis". Talvez também haja cidades e, em certo sentido, o legado dessas cidades estará representado na Nova Terra.

A ideia de uma cidade descendo ao Hades pode significar que ela deixará de existir. E a ideia de uma cidade ascendendo ao céu pode significar sua prosperidade e, potencialmente, até mesmo sua existência dentro da Nova Terra.

Jesus alegou que se os milagres que ocorreram nas cidades tivessem ocorrido em Sodoma, Sodoma teria permanecido até hoje. Jesus disse que mesmo Sodoma, a cidade com a reputação de ter os piores pecadores, uma cidade tão corrupta que nem mesmo dez homens justos puderam ser encontrados nela (Gênesis 18:20-32), mesmo esta cidade teria se arrependido e mudado seu caminho e não teria sido destruída. Teria permanecido até hoje. A acusação imediata na declaração de Jesus em relaçção a Cafarnaum foi: Você deveria se envergonhar de si mesma, Cafarnaum, pois mesmo a injusta Sodoma teria respondido melhor do que você.

Jesus termina sua repreensão a Cafarnaum de uma maneira quase idêntica às Suas repreensões a Corazim e Betsaida:

“No entanto, digo-vos que será mais tolerável para a terra de Sodoma no dia do juízo do que para vós.”

O padrão e a cadência das repreensões são os mesmos. Ambos são proferidos sob a autoridade de Jesus, ambos afirmam que as cidades ímpias de Tiro, Sidom e Sodoma terão mais vantagens no dia do juízo do que as cidades judaicas de Corazim, Betsaida e Cafarnaum. O ponto principal da declaração de Jesus é: Ele não diz Sodoma terá um julgamento melhor, Ele diz que ela terá um julgamento mais tolerável.

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