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Significado de Mateus 11:25-27

Jesus ora a Seu Pai Celestial, revelando Seu relacionamento com Deus como Seu Filho. E na medida em que a identidade do Filho é revelada pelo Pai aos que Ele escolhe, assim também o Pai é conhecido apenas a aqueles a quem o Filho deseja revelá-Lo.

Esse evento não é encontrado em outros relatos do Evangelho.

Mateus registra que na mesma época em que Jesus afirmou o ministério de João e repreendeu as cidades de Corazin, Betsaida e Cafarnaum, Ele faz uma oração.

Esta é a segunda oração de Jesus narrada por Mateus. A primeira havia sido a oração-modelo que Jesus ensinou a Seus discípulos no Sermão da Montanha (Mateus 6:9-13).

Jesus começa Sua oração com louvor e reconhecimento de quem Deus é. Graças dou a ti, Pai, Senhor do céu e da terra. Jesus fala diretamente com seu Pai, o que mais uma vez revela a intimidade existente entre eles. Jesus reconhece que Seu Pai é Senhor do céu e da terra. A abertura de Sua oração estabelece a verdadeira perspectiva de quem está no comando: Seu Pai. Seu Pai é o Senhor soberano sobre todas as coisas no céu e na terra. É digno de nota que Jesus (que é Deus) começa a oração com este reconhecimento. Esta é a mesma perspectiva que devemos ter ao nos chegar ao Pai em oração.

Jesus louva a Seu Pai que, em Sua soberania, escondeu essas coisas dos sábios e inteligentes e as revelou aos pequenos. A que Jesus se refere aqui? O que Seu Pai havia escondido? O que havia sido revelado? Quem são os sábios e inteligentes? E quem são os pequenos?

Essas coisas referem-se principalmente às identidades de João como o precursor messiânico e Jesus como o Messias. Podemos supor isso porque essas eram as coisas sobre as quais Jesus estava falando imediatamente após os discípulos de João terem perguntado se Jesus era o "Esperado" (Mateus 11:3).

Ser sábio e inteligente significa ter maturidade e entendimento. Os sábios e inteligentes não apenas sabem das coisas, eles têm a capacidade de procurar e buscar a verdade de forma mais efetiva, caso permaneçam humildes. Neste caso, a expressão sábio e o inteligente provavelmente se refira àqueles que tinham poder e autoridade, particularmente autoridades culturais e religiosas. Ou seja, os escribas, fariseus e saduceus. Se alguém deveria ter sido capaz de reconhecer que João era o precursor do Messias e que Jesus era o Messias, deveriam ter sido os sábios, porque eles eram profundos conhecedores das Escrituras. E, no entanto, apesar de toda a sua sabedoria e grande inteligência, eles foram incapazes de enxergar essas verdades, porque o Pai havia escondido essas coisas deles.

Por que o Pai escondeu essas coisas deles? Podemos supor uma resposta provável através das coisas que Jesus diz aos escribas e fariseus sábios e inteligentes quando interage com eles em outros momentos.

Jesus os chama de hipócritas (Mateus 15:7), devoradores de casas de viúvas (Mateus 23:14), guias cegos (Mateus 23:16), manipuladores da lei (Mateus 23:16-22), negligentes da justiça, misericórdia e fidelidade (Mateus 23:23), túmulos caiados de branco (Mateus 23:27) e raça de víboras (Mateus 23:33).

O Pai havia escondido essas coisas - as identidades de João e Jesus - porque os sábios e inteligentes não obedeciam a Deus. Eles escolheram uma perspectiva que não lhes permitia ver. Embora conhecessem as Escrituras, não as obedeciam. Em vez disso, eles abusavam de sua sabedoria e inteligência para coagir e manipular os outros para seu ganho pessoal. Em vez de amarem o próximo como Deus lhes havia ordenado, eles abusavam de sua autoridade para explorar as pessoas.

Contudo, ao mesmo tempo em que as identidades de João e Jesus permaneciam ocultas aos sábios e inteligentes, o Pai as havia revelado aos pequenos. Os pequenos – crianças - não possuem sabedoria ou inteligência. Os bebês são incapazes de ler ou chegar a raciocínios lógicos complexos. Neste contexto, as crianças, contrastadas com os sábios e inteligentes, incluíam pessoas comuns, as massas incultas, oprimidas e cansadas que buscaram primeiramente a João e depois a Jesus. Também pode ter incluído os párias sociais, como prostitutas, cobradores de impostos e outros pecadores. Esses pequenos tinham uma noção melhor de quem João e Jesus eram do que os escribas e fariseus altamente educados.

É como o discípulo de Jesus, João, descreve no prólogo de seu relato evangélico:

"Ele estava no mundo, e o mundo foi feito por meio Dele, e o mundo não O conheceu. Ele veio para os Seus, e aqueles que eram Seus não O receberam. Mas quantos O receberam, a eles Ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus, mesmo àqueles que crêem em Seu nome." (João 1:10-12)

Jesus continua a oração registrada em Mateus: Sim, Pai, pois este caminho era agradável aos Teus olhos.  Ele afirma que era correta a decisão de Seu Pai de esconder Sua identidade daqueles inteligentes e sábios, que conheciam as Escrituras, mas abusavam delas, ao mesmo tempo que louvou a decisão de Seu Pai de revelar Sua identidade aos pequenos, atacados pelos sábios.

Jesus, então, termina Sua oração e muda o foco de Sua atenção. Em vez de continuar falar com Seu Pai na frente das multidões, Ele passa a falar com as multidões sobre o relacionamento que Ele desfruta com Seu Pai. Enquanto fala, Jesus nos dá um vislumbre do mistério de Deus, como Trindade.

Todas as coisas Me foram entregues pelo Meu Pai. Como Seu Pai é o Senhor do céu e da terra, Ele deu a Jesus todas as coisas. Jesus diz que Ele recebeu autoridade sobre todas as coisas diretamente de Seu Pai. Ele fará uma afirmação semelhante em Mateus 28:18, quando afirma: "Toda autoridade no céu e na terra me foi dada", no momento em que anuncia a "Grande Comissão".

Ao fazer essa declaração, Jesus estava afirmando ter a autoridade de Deus Pai. Jesus estava explicitamente afirmando ser Deus. Era uma afirmação ousada, pois seria uma blasfêmia se fosse falsa; mas, era também uma afirmação humilde, pois Ele está dizendo que a fonte de Sua autoridade sobre todas as coisas era derivada de Seu Pai. Jesus declara aqui que todas as coisas haviam sido entregues a Ele, embora outras passagens indiquem que a Jesus foi concedida a glória e a honra de reinar sobre a terra como seu Rei humano devido à Sua obediência à vontade de Deus, até a morte na cruz. Já que Jesus ainda não havia cumprido completamente Sua missão de obediência, por que Ele disse que todas as coisas já haviam sido entregues a Ele?

Podemos olhar para o exemplo de Abraão e responder a esta pergunta. Abraão recebeu uma concessão incondicional de terras como recompensa por sua obediência em Gênesis 15. No entanto, Abraão foi informado de que seus descendentes não possuiriam aquela terra antes de 400 anos. O padrão bíblico é que Deus concede herança como recompensa, mas cabe ao recebedor possuir essa herança através da obediência. Assim, nesta seção, Jesus recebeu autoridade sobre todas as coisas.  Depois que Ele ressuscitou e obedeceu plenamente a Seu Pai, o poder e a autoridade Lhe foram concedidos no céu, quando Ele se sentou no trono de Seu Pai (Filipenses 2:5-10; Apocalipse 3:21). Na segunda vinda, Jesus reinará fisicamente sobre a terra, e governará fisicamente com autoridade humana e terrena.

Jesus, então, descreve como o Pai e o Filho são conhecidos. O Pai e o Filho são papéis dentro da Trindade, Três em Um. E ninguém conhece o Filho, exceto o Pai. Jesus não declara literalmente "Eu sou  o Filho" nesta passagem em particular, mas com base no fato de que acabara de falar diretamente com o Senhor do céu e da terra, referindo-se a Ele como Pai, como um  Filho fala com seu pai, é natural supor que Jesus estivesse inferindo que Ele era o Filho. Ele já havia se referido a Si mesmo como "o Filho do Homem" (Mateus 11:19).

Ninguém conhece o Filho, exceto o Pai. O relacionamento eterno da Divindade, apesar de ser demonstrado em todo o Antigo Testamento, ainda encontra-se envolto em mistério. Ninguém até este ponto (nem mesmo os judeus) realmente sabe muita coisa a respeito da Trindade. Neste sentido, ninguém conhece o Filho porque ninguém sabe que Deus é o Pai e Deus é o Filho. Como o apóstolo João registra, "Eu e o Pai somos um" (João 10:30).

Mas Jesus estava ensinando mais do que mera teologia. Ele estava falando sobre um relacionamento. E o relacionamento que Ele descreve é o relacionamento entre Ele, como Filho, e Seu Pai. Mas, tão importante quanto esta verdade, Ele descreve a trágica falta de relacionamento entre o homem, como filho, e Deus, como Pai.

Mateus usa a palavra grega "epiginosko" traduzida como conhecer para capturar o significado de Jesus. Existem dois termos gregos básicos para "conhecer" comumente encontrados no Novo Testamento: "oida", que descreve um conhecimento conceitual; e "ginosko", que descreve uma familiaridade, o tipo de conhecimento que vem de um relacionamento pessoal íntimo ou experiência com alguém. Mateus acrescenta o prefixo "epi" a "ginosko" como uma maneira de enfatizar a profundidade ou a qualidade da comunhão que Jesus tem com Seu Pai. Jesus não está falando sobre o conhecimento conceitual ou filosófico de Seu Pai. Ele está falando sobre uma familiaridade pessoal e uma íntima comunhão entre Ele e Seu Pai.

O homem foi feito para "epiginosko" Deus. Fomos criados para fazer parceria com Deus, trabalhar com Ele, estar familiarizados com Ele e desfrutá-Lo (Gênesis 2:15, Salmo 8:3-8100:3). Mas por causa do pecado e da separação (chamada morte) que ela traz entre o homem e Deus, ninguém conhece a Deus (Gênesis 2:153:17-19).

Nesta condição de pecado, ninguém conhece a Deus, exceto o próprio Deus. Ninguém conhece o Filho, exceto o Pai; nem ninguém conhece o Pai, exceto o Filho. O Pai testifica do Filho e o Filho testifica do Pai (João 8:18). E ninguém é capaz de vir a Deus, exceto através de Seu Filho, Jesus (João 14:6). É impossível conhecer o Pai sem o Filho e é impossível conhecer o Filho à parte do Pai. Conhecer a Deus é uma proposta de conhecimento de "Ambos".

Mas essa relação "epiginosko" foi feita para ser compartilhada. E Deus a compartilha com qualquer um a quem o Filho queira revelá-Lo. O homem não pode vir a Deus por conta própria. Para que o homem venha a Deus, Deus deve primeiro revelar-se ao homem. E é exatamente isso que Jesus é: "O Verbo se fez carne" (João 1:11:14) e "a imagem do Deus invisível" (Colossenses 1:15). Jesus é a porta através da qual a humanidade pode chegar a Deus. Às vezes se diz que há muitas montanhas para se chegar a Deus. Esta passagem deixa claro que não há montanhas para Deus. É por isso que Deus veio à terra. É através de Jesus que nos chegamos a Deus. Entramos em relacionamento com Deus através de Seu Filho, pela fé (João 3:14-16), e entramos em comunhão íntima com Deus fazendo as mesmas escolha feitas por Jesus, o que nos leva à um nível radical de obediência a Deus (Filipenses 2:5-10).

Em um sentido amplo, o Filho de Deus veio à terra para que o homem pudesse conhecer a Deus. E a maneira como conhecemos a Deus é pela fé: primeiro, crendo que Jesus é o Filho de Deus (João 3:14-16; 20:31a); e segundo, seguindo a Jesus pela fé através das circunstâncias e provações que encontramos na vida, para que possamos ter "vida em Seu nome" através de uma caminhada de fé (João 20:31b).

Esta oportunidade de conhecer a Deus está universalmente disponível para quem crê (João 3:16). Qualquer um pode fazer isso. Deus não impede as pessoas de virem até Ele. O apóstolo Pedro afirma que Deus deseja que todos venham a Ele, e Ele postergou Seu retorno para dar a mais pessoas a oportunidade de virem a Ele.

"Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns entendem; mas ele é longânimo para convosco, não querendo que alguns pereçam, mas que todos venham ao arrependimento." (2 Pedro 3:9)

Mas, assim como esta passagem de Mateus demonstra a disponibilidade e a abertura de Deus ao homem, há também um elemento de exclusividade dentro dela. O Filho só revela o Pai àqueles a quem Ele quer ou escolhe. Temos aqui a palavra "Boulomai", que significa "querer deliberadamente, ter um propósito, ser cuidadoso; disposto, afetivo, desejar". "Boulomai" não retrata um desejo abstrato e sem nome, mas descreve uma escolha consciente. Há uma clara intenção do Filho em relação a quem Ele irá revelar o Pai.

A questão, então, é: a quem o Filho deseja revelar o Pai? Quem é este alguém? Especificamente, é qualquer um que creia que Jesus é o Filho. Há uma simetria dentro do pensamento de Jesus que começou com a referência ao Pai escondendo a identidade de Seu Filho dos sábios e inteligentes. E quem não crê no Filho não será capaz de conhecer o Pai. Se rejeitarmos o Filho, então o Filho nos impedirá de conhecer o Pai.

Vemos aqui uma realidade paradoxal, que Deus é soberano sobre todas as coisas, mas deu aos seres humanos uma escolha genuína e deseja que todos escolham vir a Ele. Todas as verdades fundadoras são paradoxais por natureza. Por exemplo, a verdade fundamental axiomática do relativismo é "Tudo é relativo". Esta é, no entanto, uma afirmação paradoxal, uma vez que o axioma "Tudo é relativo" é, em si, uma afirmação absoluta. A existência desta afirmação prova que nem tudo é relativo. O axioma paradoxal das Escrituras é revelado na abertura da Bíblia: "No princípio, Deus" – ou na declaração semelhante, quando Deus declara Seu nome a Moisés como "EU SOU que EU SOU" (Êxodo 3:14).

Isso é paradoxal, porque Deus estava lá antes do princípio. Deus é a própria existência. No caso do relativismo, seu paradoxo fundador é uma contradição, porque é uma formulação humana. No caso da Bíblia, essas verdades sobre Deus estão enraizadas na natureza transcendente de Deus. Elas são paradoxais para nós, mas devem ser verdadeiras para que a vida faça sentido. Não devemos, portanto, nos surpreender quando pudermos dar uma espiada na conversa íntima entre os membros da Trindade, e ouvir coisas que estão além da nossa capacidade de compreensão.

Em Romanos, Paulo afirma a soberania de Deus, bem como a liberdade do homem de fazer escolhas nos capítulos 9-11, o que o leva a esta conclusão exultante:

"Ó profundidade das riquezas, da sabedoria e da ciência de Deus! Quão inescrutáveis são os seus juízos, e quão impenetráveis os seus caminhos! Pois quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem se fez o seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro, para que lhe seja retribuído? Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja dada a glória para sempre. Amém." (Romanos 11:33-36).

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