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Significado de Mateus 5:9

A sétima declaração do quiasmo de Jesus (B’) está centrada em sermos pacificadores.

A declaração de Jesus (B’) Makarios são os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus corresponde a (B) Makarios os que choram, porque eles serão consolados.

Embora não houvesse Guerra no momento em que Jesus fez tais declarações a Seus discípulos, também não havia paz. O nível de tensão era muito alto em todos os lugares da Judéia. Os discípulos muito provavelmente tinham isso em mente na medida em que ouviam ao sermão de Jesus e enquanto olhavam para a costa norte do Mar da Galiléia, governada pelos fariseus: Corazim, Cafarnaum e Betsaida. Mais abaixo, na costa oeste, à sua direita, estava a capital de Herodes, Tiberíades, onde o partido herodiano e os saduceus apreciavam os luxos oferecidos por Roma. Do outro lado do mar, no leste, estava Decápolis, a jurisdição greco-romana, com Hipos no topo de uma de suas colinas na costa leste da Galiléia. As guarnições romanas estavam localizadas lá. E, no horizonte, estava o centro nervoso da região, Gamala, onde os Zelotes passavam seus dias concatenando sua revolução sangrenta contra os romanos.

Cada uma dessas facções tinha sua própria visão de paz, que sempre significa domínio sobre as outras ou a eliminação e ruína total de seus rivais. Quando Jesus diz: “Makarios são os pacificadores”, Seus discípulos muito provavelmente sabiam que Ele estava se referindo às agendas de cada um desses grupos. Cada discípulo tinha seu viés político, talvez até mesmo um compromisso político, com uma dessas facções. Por exemplo, Mateus era um coletor de impostos herodiano, enquanto que Simão era um zelote (Mateus 10:2-4).

A paz para os herodianos e os saduceus significava comprometimento com Roma e tudo que ela representava. A paz para os fariseus significava sua rendição total a Roma, ainda que eles oficialmente tentassem permanecer indiferentes. Eles queriam ser vistos como pessoas que defendiam Roma e a lei de Deus (algo ao qual Jesus se referia como hiprocrisia). A paz para os soldados romanos em Decápolis significava a completa aniquilação de qualquer ameaça a Roma. Esta era a “Pax Romana”. Façam o que Roma exige e todos estarão em paz. Desafiem Roma e todos serão esmagados. Os judeus zelotes experimentaram o poder esmagador de Roma uma geração depois que Jesus ascendeu aos céus durante as chamadas Guerras Judaicas (66-73 D.C.). A paz para os zelotes, portanto, significava a remoção de Roma do poder e a queda dos herodianos.

Mas Jesus não havia vindo para tomar um lado nas facções existentes. Ele veio para conquistar a todas elas. Ele não veio para elevar um grupo e destruir os outros (como havia ocorrido quando o general romano Pompeu entrou em Israel e impôs a autoridade romana um século antes).

Mais tarde, Jesus iria dizer a Seus discípulos que Ele “não havia vindo para trazer paz, mas a espada” (Mateus 10:34). Jesus não veio para se comprometer com o mal ou para encontrar uma forma de se adaptar aos sistemas corruptos da época. O comprometimento moral e a aceitação da corrupção não eram os tipos de “paz” propostos por Jesus quando disse Makarios são os pacificadores.

Ao invés disso, Jesus veio para instituir o Seu Reino, construído sobre a justiça, a misericórdia e a paz. A expressão plena desses ideais é o conceito hebraico de “Shalom”. Jesus ensinou que Makarios são os fazedores de shalom, os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

Shalom é mais que mera justiça ou ausência de guerra. É a presença integral, completa de harmonia e amor que somente pode vir com a presença de Deus (Juízes 18:6).

Um aparente paradoxo pode ser visto aqui ao considerarmos duas declarações de Jesus:

Bem-aventurados os fazedores de shalom, porque eles serão chamados filhos de Deus.

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” (Mateus 10:34).

Como Jesus pode convidar a Seus seguidores a buscar a paz e a guerra ao mesmo tempo?

Essas declarações podem ser harmonizadas quando nos lembramos de duas verdade previamente mencionadas.

  1. É impossível para os reinos corruptos deste mundo experimentarem Shalom. A malignidade e o Shalom são mutuamente exclusivas. Jesus não estava chamando Seus discípulos para se comprometer com os reinos pecaminosos deste mundo.
  2. No lugar da paz superficial advinda do comprometimento com a malignidade, Jesus e Seu Reino oferecem a plenitude do Shalom.

Com essas duas verdades em mente, vemos que o principal aspecto do que Jesus quis dizer com os fazedores de Shalom tem a ver com ser Sua testemunha fiel, ou seja, a rendição da nossa vida por aquilo que é verdadeiro e justo, resistindo ao comprometimento com o mundo, expondo falsas doutrinas, denunciando a injustiça e a corrupção. Ao fazermos isso em nossa caminhada com Cristo, trazemos a Sua espada aos sistemas globais – a espada do Shalom de Jesus.

Esta ideia de Shalom como uma testemunha incorruptível também se adapta à próxima Bem-Aventurança – Makarios são os perseguidos por causa da justiça” (Mateus 5:10. A declaração de Jesus é a de que Seus discípulos eram o “sal” e a “luz” da terra (Mateus 5:13-16).

Sabemos que o Shalom só pode vir da presença de Deus. Sem isso, o Shalom é uma ilusão (Levítico 26:6; Jó 25:2; Isaías 26:12; Ezequiel 37:26). Jesus, o Messias de Deus, nosso Emanuel (Deus conosco) veio para nos trazer Shalom (paz).

Esta realidade pode ser encontrada em vários lugares no Antigo Testamento. Um exemplo é Zacarias 6:12,13. Esta é uma passagem messiânica referente ao Messias como Rei e Sacerdote. Geralmente, o rei executa o juízo, enquanto que o sacerdote intervem entre o homem e Deus. Jesus harmoniza ambas as funções (ofícios) através do Seu “conselho de paz”.

“Fala-lhe: Assim diz Jeová dos Exércitos: Eis o homem cujo nome é o Renovo; brotará do seu lugar e edificará o templo de Jeová. 13Ele edificará o templo de Jeová; levará a glória, e se assentará, e dominará no seu trono; será sacerdote sobre o seu trono, e haverá entre os dois o conselho de paz” (Zacarias 6:12,13).

É a justiça, a harmonia gerada entre pessoas que servem a outros, que traz a verdadeira paz. Jesus é o pacificador. Jesus, o Filho de Deus, é o que traz o Shalom. Os pacificadores, aqueles que trazem a paz do Messias aos que estão à sua volta, são como Jesus (o Filho de Deus) e serão chamados filhos de Deus.

A noção de ser “filho” no contexto dos reis do mundo antigo era a de recompensa por um serviço fiel. Um vassalo fiel receberia a “adoção” como “filho” do rei, recebendo honra e privilégios, como recompensa por um serviço fiel. Deus recompensa aos que buscam a harmonia, ou justiça. Como veremos adiante, parte da busca pelo Shalom – ou pacificador – é denunciar os falsos mestres, como Jesus fez com os fariseus (Mateus 23). Para que um corpo tenha saúde, todas as doenças precisam ser removidas. Essa recompensa reflete o futuro prêmio dos que vão reinar, algo também expresso na declaração C do quiasmo.

A. Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.
B. Bem-aventurados os que choram, pois eles serão consolados.
C. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.
D. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois eles serão fartos.
D’. Bem-aventurados os misericordiosos, pois eles alcançarão misericórdia.
C’. Bem-aventurados os limpos de coração, pois eles verão a Deus. B’. Bem-aventurados os pacificadores, pois eles serão chamados filhos de Deus.
A’. Bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus.

Não há como exigir nenhuma dessas recompensas. Não há padrão externo pelo qual qualquer ser humano possa mensurar suas obras e demandas por recompensas diante de Deus. Quando Deus nos recompensar, será um ato de misericórdia de Sua parte. Tornar-se filho de Deus não é a mesma coisa que nascer para Deus através da fé. Tornar-se filho de Deus é a recompensa dos que reinarão com Cristo. Os recompensados e completamente realizados serão os pacificadores, aqueles que buscam a justiça da harmonia do Corpo de Cristo, sob a liderança de Cristo.

É interessante notar que o coração do quiasmo não inclui o reinado fututo com Cristo como parte da recompensa. É algo muito relevante, mas reinar com Cristo parece ser um meio para um fim: alcançar realilzação, estar satisfeito. E para estarmos satisfeitos é necessário recebermos misericórdia.

Ser um pacificador demanda carregar os fardos uns dos outros. Requer também viver na verdade e rejeitar a falsidade, uma atitude que sempre trará oposição por parte do mundo. Porque, este é o único caminho para a felicidade, para a bênção (Makarios).

O contrário de pacificador é alguém que cria divisão e conflitos. Jesus era um guerreiro. Ele lutava contra Seus inimigos. Mas, Seu propósito era servir. Ele estava, na verdade, agindo para ajudar àqueles a quem Ele confrontava. Seus objetivos de mostrar aos fariseus a verdade sobre si mesmos, ou seja, que eles eram hipócritas, tinha duas razões: primeiro, Jesus estava oferecendo a eles a oportunidade de mudar. E, segundo, Ele agia para diminuir seu status social, fragilizando sua habilidade de enganar a mais pessoas.

Uma pessoa que gera divisões pelo mero propósito de elevar-se acima dos outros é oposto ao pacificador. Jesus lutava, mas Ele lutava pela unidade. Jesus deseja recompensar aos servos fiéis que lutam pela unidade e que servem com coragem, exatamente como Ele lutou e serviu.

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