Em uma proclamação comunitária de adoração, Davi reconhece a soberania de Deus, Sua proteção, orientação e os efeitos de Sua presença.
Como muitos outros capítulos no Livro dos Salmos, o capítulo 23 é explicitamente descrito como sendo de Davi. A palavra “salmo” (em hebraico, "mizmor") significa melodia. É um poema musicado, uma canção.
Davi começa o salmo com um anúncio: O Senhor é o meu pastor. O nome de Deus (em hebraico, "Javé") é traduzido aqui como “Senhor”, como muitas vezes nas Escrituras. Javé significa "O Existente" (ou o "Auto-existente; Eterno"). Na tradição judaica, o nome não deveria ser jamais pronunciado. Era um reconhecimento de Deus como a única divindade, a única realidade. O judaísmo é considerado como a primeira religião monoteísta. Portanto, este reconhecimento de Javé como o único e verdadeiro Existente é uma afirmação significativa em si mesma, uma declaração à qual o público original ouvia regularmente como algo poderosamente distinto dentro de um mundo dominado pelo politeísmo.
O “pastor” era uma imagem familiar e significativa, tanto na cultura quanto na religião do povo judeu. Era uma metáfora de fácil assimilação em seu tempo. A sociedade, baseada na agricultura, estava totalmente familiarizada com o papel dos pastores que orientavam e protegiam as ovelhas. O pastor via e sabia mais do que suas ovelhas. Elas estariam perdidas sem ele, mesmo que não entendam ou gostem de sua correção.
A história do Judaísmo (e seu “descendente”, o Cristianismo) contém muitos personagens que serviam como pastores. O primeiro foi Abel (Gênesis 4:2Gênesis 4:2 commentary), que trouxe as primícias de seu rebanho como oferta a Deus. Raquel, filha de Labão, era encarregada de cuidar dos rebanhos. Pastorear ovelhas tornou-se responsabilidade de Jacó (mais tarde renomeado Israel) ao casar-se com Raquel; mais tarde, o memso ocorreu com seus doze filhos (que se tornaram as doze tribos de Israel), mais notadamente José (Gênesis 29-30Gênesis 29-30 commentary). Alguns descendentes posteriores também foram pastores, como Moisés, o legislador, que cuidava de rebanhos (Êxodo 3Êxodo 3 commentary) e o rei Davi (1 Samuel 16-171 Samuel 16-17 commentary).
A implicação do termo “pastor” aqui é que nós, seres humanos, somos como ovelhas. Esta é uma parte importante da metáfora. As ovelhas são conhecidas como algumas das menos inteligentes e carentes entre os animais domésticos. Elas possuem uma capacidade muito limitada de saber o que é melhor e, portanto, precisam de mais orientação que outros animais. As ovelhas também quase não possuem capacidade alguma de se defender. Elas são muito lentas para fugir e não têm capacidade real para lutar. Isso demonstra que, em comparação com Deus, nós, como seres humanos, somos extremamente limitados, frágeis e dependentes. Este salmo, em grande parte, fala sobre a adoção de uma certa mentalidade. Parte da metáfora diz respeito à admissão de nossa total dependência. Ela ecoa a oração do Pai Nosso, que reconhece nossa extrema dependência de Deus:
"O pão nosso de cada dia nos dá hoje" (Mateus 6:11Mateus 6:11 commentary).
Assim, a afirmação de que “o Senhor é meu pastor” é prática: Deus guia e protege aos limitados e dependentes. É também um reconhecimento de que Deus é líder e protetor supremo. Todos os antepassados que lideraram a nação de Israel (Abraão, Moisés, etc.) estavam a serviço de Deus, o Guia supremo.
A próxima linha da melodia de Davi - nada me faltará - é uma expressão de contentamento. A frase pode ser vista como a escolha de Davi por uma perspectiva correta, em vez de apenas reagir a um sentimento. Davi estava declarando uma realidade. Ele escolhe uma perspectiva que instruiria suas ações, em vez de meramente reagir a emoções ou apetites.
“Nada faltar” não diz respeito aos desejos da nossa carne humana. Este versículo não sugere que o Senhor nos dará tudo o que queremos. Esta é uma declaração sobre necessidades. Ao termos a Deus como nosso Pastor, sempre teremos o que é necessário. Não nos faltará provisão nas necessidades. Teremos tudo o que for essencial para vivermos. Outra maneira de afirmar isso pode ser: "Com o Senhor como nosso Pastor, tudo o que precisamos é exatamente o que já temos".
Um dos papéis significativos do pastor é manter os limites das ovelhas. Ele usa o gancho de seu cajado para afastar as ovelhas do perigo. Pode não ser o que as ovelhas gostam, mas é o que elas precisam (em última análise, o que elas realmente desejam). As ovelhas não possuem uma perspectiva suficientemente capaz de realmente saber o que é de seu melhor interesse. Assim, o pastor que guarda suas fronteiras realmente as ajuda a ter paz.
O Pastor “faz-me repousar em pastos verdejantes”. Ao termos um guia, um protetor, um pastor que sabe mais que nós, que guarda melhor que nós, que cuidando de nós, gozaremos de liberdade e paz.
A expressão “pastos verdejantes” vem de duas palavras em hebraico: "Dese" é frequentemente traduzida como "grama"; "na'a" significa "habitação" ou "casa", às vezes "pasto". Assim, o coração da expressão pode ser traduzido como "um habitat verde", um lar tranquilo e confortável. O verbo “fazer deitar” indica uma ação aberta e contínua. A idéia é que o pastor conduz de forma constante e consistente as ovelhas a lugares de alimento, sustento e bênçãos. Mais uma vez, o conceito é: Onde quer que eu esteja, este será o melhor lugar para mim. O fato de Davi escrever isso em forma de música a ser cantada era uma indicação de que sua intenção era a de criar uma decisão mental, uma perspectiva verdadeira que não é assimilada naturalmente.
O termo “deitar-se” é "rabas". Esta palavra hebraica era usada para quando um animal dobrava as pernas e descansava no solo. Esta é outra ilustração agrícola muito familiar à época. Um animal só fazia isso quando estivesse de barriga cheia, sentindo-se seguro e provido. A idéia é a seguinte: Onde quer que eu esteja, quaisquer que sejam as circunstâncias, estarei totalmente provido, independentemente das aparências.
Ele (o pastor) “conduz-me às águas de descanso”. O pastor não apenas proporciona descanso na forma de pastagens verdes, mas descanso em forma de total provisão. Ele guiava, ou levava as ovelhas às águas tranquilas. Diz-se que as ovelhas têm medo de águas correntes e, por isso, normalmente não bebem em um riacho. Ao conduzi-las a águas tranquilas, o pastor permitia que as ovelhas bebessem em paz. A idéia aqui ecoa o versículo do Novo Testamento que afirma:
"Não vos tem sobrevindo tentação que não seja comum aos homens; mas Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas também, com a tentação, proverá o meio de saída, para poderdes suportá-la" (1 Coríntios 10:131 Coríntios 10:13 commentary).
Águas tranquilas nos levam a pensar nos momentos nos quais Deus nos encontra onde estamos, nunca nos testando além do que somos capazes de suportar. A provisão do pasto verdejante é um retrato de que sempre teremos o que precisamos, independentemente de como as circunstâncias possam aparecer. A calmaria das águas tranquilas mostra que Deus sempre provê de forma a nos impactar. Ele sempre fornece um meio de escape para que possamos suportar as dificuldades. Ao reconhecer essa realidade e escolher essa perspectiva, Davi era capaz de descansar em paz. A paz seguia a Davi. O descanso não estava no local, situação ou nível de atividade. O descanso estava no Guia.
Desta forma, continua Davi, “ele refrigera a minha alma”. O termos em hebraico para a palavra “refrigerar” é "sub", literalmente "retornar" ou "voltar atrás". O Pastor nos traz de volta à vida, longe do cansaço, do pavor e da destruição. Ele refrigera a nossa alma. A palavra “alma” (em hebraico, "nepes"), assim como o grego "psuche", significa o todo de uma pessoa. Podem ser traduzidos como vida, espírito, plenitude de emoções e/ou atividade do eu. Engloba todas essas coisas, a pessoa como um todo. O Pastor nos guia para o descanso, para a realização e para a restauração, permitindo-nos viver a vida que fomos criados para viver, a existência que realmente desejamos — de paz e significado.
Isso independente das circunstâncias. Nosso bem-estar está enraizado na dimensão espiritual. Isso se sobrepõe às realidades físicas. Nossas verdadeiras e mais profundas necessidades serão sempre supridas se seguirmos ao nosso Pastor e reconhecermos Sua provisão. Porém, isso requer a escolha de uma nova mentalidade, que é exatamente o propósito do salmo. Escolher essa mentalidade nos permitira viver acima das circunstâncias.
Os três primeiros versículos do Salmo 23Salmo 23 commentary podem ser tomados como um bloco. Este bloco conclui com a expressão: Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. Davi louva a Deus pela tranquilidade e restauração. Agora, ele o louva pela atividade. Ele nos “guia nas veredas da justiça”. Isso significa que Deus nos ajuda a realizar as atividades corretas, construídas sobre o fundamento de Seu senhorio, a segurança de Sua proteção e a restauração da nossa alma (vida). A palavra para “vereda” aqui é "ma'gal", significando "entrincheiramento" ou "trilha"; ou seja, um caminho pré-estabelecido. Assim, o que Deus faz aqui é alinhar a vida do salmista (e de cada um de nós) no caminho pré-estabelecido do bem. O objetivo do Pastor não é o de escoltar as ovelhas para onde elas quiserem ir, o que provavelmente prejudicará a si mesmas. É orientá-las ao lugar de seu melhor interesse.
O apóstolo Paulo afirma que nosso melhor interesse é sermos conformados à imagem de Cristo. Este é um propósito divino que se sobrepõe às realidades físicas. Conforme escreveu:
"Sabemos que aos que amam a Deus, todas as coisas lhes cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8:28-29Romanos 8:28-29 commentary).
Deus é como um Pastor, fazendo com que tudo o que ocorre em nossas vidas, todas as circunstâncias, trabalhem para o nosso "bem", de forma a nos "conformar à imagem de Seu Filho". Nós, como ovelhas, tendemos a não saber o que é bom e a priorizar a busca de confortos físicos. Deus sabe o que é melhor e permite as dificuldades em nossas vidas para que possamos completar o nosso "propósito".
Tudo isso por causa do Seu nome. O propósito das nossas vidas tem a ver com o “Seu nome”. O nome de Deus inclui Seu caráter. O propósito de Deus para os seres humanos é que eles participem e dêem testemunho de Seu Reino e Sua bondade. Os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27Gênesis 1:26-27 commentary). A intenção divina de Deus é que os seres humanos sejam totalmente conformados à Sua imagem, ao Seu nome.
Este salmo, ou canção, fala sobre a escolha de uma mentalidade e inclui uma proclamação de ação de graças por quem Deus é, pelo que Deus provê individualmente. Ele é direcionado ao propósito comunitário de toda a nossa vida. Ao agradecermos a Deus pelo que Ele é, Davi orienta sua mente a aceitar que "tudo o que acontece em minha vida é para o meu bem". A gratidão é o caminho para aceitarmos e abraçarmos o fato de que a provisão de Deus está sempre presente, independentemente das circunstâncias. Deus está sempre nos moldando e nos conformando à Sua imagem, como um oleiro que molda o barro. Ao escolhermos ser gratos por isso, nos vestimos de uma atitude, uma perspectiva que nos permite receber tudo o que ocorre em nossas vidas com plena confiança na provisão de Deus.
Notaremos que esses três primeiros versículos se referem a Deus como "Ele". A segunda metade do Salmo 23Salmo 23 commentary refere-se a Deus como "Tu". Isso sugere um foco comunitário nos três versículos seguintes. Falar sobre Deus na terceira pessoa sugere a presença de outras pessoas, como se, de certa forma, Davi estivesse explicando quem Deus era à sua comunidade. Ou, melhor dizendo, todos estavam, ao mesmo tempo, proclamando essas verdades juntos.
A segunda metade do Salmo 23Salmo 23 commentary refere-se a Deus na segunda pessoa (Tu), uma comunicação direta entre Deus e Davi. É como se o salmista estivesse deixando de falar sobre Deus para falar com Deus. Talvez isso signifique uma progressão. Primeiro observamos a Deus e aceitamos a realidade de Sua provisão. Escolhemos a perspectiva de que "quaisquer que sejam as circunstâncias em nossas vidas, isto é o melhor para nós agora, ou seja, uma oportunidade de nos conformarmos à Sua imagem". Uma vez que escolhemos tal perspectiva sobre nós mesmos e nossas circunstâncias (como ovelhas dependentes), estaremos prontos para escolher a perspectiva sobre o Deus Criador, nosso divino Pastor.
Salmos 23:1-3 explicação
Como muitos outros capítulos no Livro dos Salmos, o capítulo 23 é explicitamente descrito como sendo de Davi. A palavra “salmo” (em hebraico, "mizmor") significa melodia. É um poema musicado, uma canção.
Davi começa o salmo com um anúncio: O Senhor é o meu pastor. O nome de Deus (em hebraico, "Javé") é traduzido aqui como “Senhor”, como muitas vezes nas Escrituras. Javé significa "O Existente" (ou o "Auto-existente; Eterno"). Na tradição judaica, o nome não deveria ser jamais pronunciado. Era um reconhecimento de Deus como a única divindade, a única realidade. O judaísmo é considerado como a primeira religião monoteísta. Portanto, este reconhecimento de Javé como o único e verdadeiro Existente é uma afirmação significativa em si mesma, uma declaração à qual o público original ouvia regularmente como algo poderosamente distinto dentro de um mundo dominado pelo politeísmo.
O “pastor” era uma imagem familiar e significativa, tanto na cultura quanto na religião do povo judeu. Era uma metáfora de fácil assimilação em seu tempo. A sociedade, baseada na agricultura, estava totalmente familiarizada com o papel dos pastores que orientavam e protegiam as ovelhas. O pastor via e sabia mais do que suas ovelhas. Elas estariam perdidas sem ele, mesmo que não entendam ou gostem de sua correção.
A história do Judaísmo (e seu “descendente”, o Cristianismo) contém muitos personagens que serviam como pastores. O primeiro foi Abel (Gênesis 4:2Gênesis 4:2 commentary), que trouxe as primícias de seu rebanho como oferta a Deus. Raquel, filha de Labão, era encarregada de cuidar dos rebanhos. Pastorear ovelhas tornou-se responsabilidade de Jacó (mais tarde renomeado Israel) ao casar-se com Raquel; mais tarde, o memso ocorreu com seus doze filhos (que se tornaram as doze tribos de Israel), mais notadamente José (Gênesis 29-30Gênesis 29-30 commentary). Alguns descendentes posteriores também foram pastores, como Moisés, o legislador, que cuidava de rebanhos (Êxodo 3Êxodo 3 commentary) e o rei Davi (1 Samuel 16-171 Samuel 16-17 commentary).
A implicação do termo “pastor” aqui é que nós, seres humanos, somos como ovelhas. Esta é uma parte importante da metáfora. As ovelhas são conhecidas como algumas das menos inteligentes e carentes entre os animais domésticos. Elas possuem uma capacidade muito limitada de saber o que é melhor e, portanto, precisam de mais orientação que outros animais. As ovelhas também quase não possuem capacidade alguma de se defender. Elas são muito lentas para fugir e não têm capacidade real para lutar. Isso demonstra que, em comparação com Deus, nós, como seres humanos, somos extremamente limitados, frágeis e dependentes. Este salmo, em grande parte, fala sobre a adoção de uma certa mentalidade. Parte da metáfora diz respeito à admissão de nossa total dependência. Ela ecoa a oração do Pai Nosso, que reconhece nossa extrema dependência de Deus:
"O pão nosso de cada dia nos dá hoje" (Mateus 6:11Mateus 6:11 commentary).
Assim, a afirmação de que “o Senhor é meu pastor” é prática: Deus guia e protege aos limitados e dependentes. É também um reconhecimento de que Deus é líder e protetor supremo. Todos os antepassados que lideraram a nação de Israel (Abraão, Moisés, etc.) estavam a serviço de Deus, o Guia supremo.
A próxima linha da melodia de Davi - nada me faltará - é uma expressão de contentamento. A frase pode ser vista como a escolha de Davi por uma perspectiva correta, em vez de apenas reagir a um sentimento. Davi estava declarando uma realidade. Ele escolhe uma perspectiva que instruiria suas ações, em vez de meramente reagir a emoções ou apetites.
“Nada faltar” não diz respeito aos desejos da nossa carne humana. Este versículo não sugere que o Senhor nos dará tudo o que queremos. Esta é uma declaração sobre necessidades. Ao termos a Deus como nosso Pastor, sempre teremos o que é necessário. Não nos faltará provisão nas necessidades. Teremos tudo o que for essencial para vivermos. Outra maneira de afirmar isso pode ser: "Com o Senhor como nosso Pastor, tudo o que precisamos é exatamente o que já temos".
Um dos papéis significativos do pastor é manter os limites das ovelhas. Ele usa o gancho de seu cajado para afastar as ovelhas do perigo. Pode não ser o que as ovelhas gostam, mas é o que elas precisam (em última análise, o que elas realmente desejam). As ovelhas não possuem uma perspectiva suficientemente capaz de realmente saber o que é de seu melhor interesse. Assim, o pastor que guarda suas fronteiras realmente as ajuda a ter paz.
O Pastor “faz-me repousar em pastos verdejantes”. Ao termos um guia, um protetor, um pastor que sabe mais que nós, que guarda melhor que nós, que cuidando de nós, gozaremos de liberdade e paz.
A expressão “pastos verdejantes” vem de duas palavras em hebraico: "Dese" é frequentemente traduzida como "grama"; "na'a" significa "habitação" ou "casa", às vezes "pasto". Assim, o coração da expressão pode ser traduzido como "um habitat verde", um lar tranquilo e confortável. O verbo “fazer deitar” indica uma ação aberta e contínua. A idéia é que o pastor conduz de forma constante e consistente as ovelhas a lugares de alimento, sustento e bênçãos. Mais uma vez, o conceito é: Onde quer que eu esteja, este será o melhor lugar para mim. O fato de Davi escrever isso em forma de música a ser cantada era uma indicação de que sua intenção era a de criar uma decisão mental, uma perspectiva verdadeira que não é assimilada naturalmente.
O termo “deitar-se” é "rabas". Esta palavra hebraica era usada para quando um animal dobrava as pernas e descansava no solo. Esta é outra ilustração agrícola muito familiar à época. Um animal só fazia isso quando estivesse de barriga cheia, sentindo-se seguro e provido. A idéia é a seguinte: Onde quer que eu esteja, quaisquer que sejam as circunstâncias, estarei totalmente provido, independentemente das aparências.
Ele (o pastor) “conduz-me às águas de descanso”. O pastor não apenas proporciona descanso na forma de pastagens verdes, mas descanso em forma de total provisão. Ele guiava, ou levava as ovelhas às águas tranquilas. Diz-se que as ovelhas têm medo de águas correntes e, por isso, normalmente não bebem em um riacho. Ao conduzi-las a águas tranquilas, o pastor permitia que as ovelhas bebessem em paz. A idéia aqui ecoa o versículo do Novo Testamento que afirma:
"Não vos tem sobrevindo tentação que não seja comum aos homens; mas Deus é fiel, o qual não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas também, com a tentação, proverá o meio de saída, para poderdes suportá-la" (1 Coríntios 10:131 Coríntios 10:13 commentary).
Águas tranquilas nos levam a pensar nos momentos nos quais Deus nos encontra onde estamos, nunca nos testando além do que somos capazes de suportar. A provisão do pasto verdejante é um retrato de que sempre teremos o que precisamos, independentemente de como as circunstâncias possam aparecer. A calmaria das águas tranquilas mostra que Deus sempre provê de forma a nos impactar. Ele sempre fornece um meio de escape para que possamos suportar as dificuldades. Ao reconhecer essa realidade e escolher essa perspectiva, Davi era capaz de descansar em paz. A paz seguia a Davi. O descanso não estava no local, situação ou nível de atividade. O descanso estava no Guia.
Desta forma, continua Davi, “ele refrigera a minha alma”. O termos em hebraico para a palavra “refrigerar” é "sub", literalmente "retornar" ou "voltar atrás". O Pastor nos traz de volta à vida, longe do cansaço, do pavor e da destruição. Ele refrigera a nossa alma. A palavra “alma” (em hebraico, "nepes"), assim como o grego "psuche", significa o todo de uma pessoa. Podem ser traduzidos como vida, espírito, plenitude de emoções e/ou atividade do eu. Engloba todas essas coisas, a pessoa como um todo. O Pastor nos guia para o descanso, para a realização e para a restauração, permitindo-nos viver a vida que fomos criados para viver, a existência que realmente desejamos — de paz e significado.
Isso independente das circunstâncias. Nosso bem-estar está enraizado na dimensão espiritual. Isso se sobrepõe às realidades físicas. Nossas verdadeiras e mais profundas necessidades serão sempre supridas se seguirmos ao nosso Pastor e reconhecermos Sua provisão. Porém, isso requer a escolha de uma nova mentalidade, que é exatamente o propósito do salmo. Escolher essa mentalidade nos permitira viver acima das circunstâncias.
Os três primeiros versículos do Salmo 23Salmo 23 commentary podem ser tomados como um bloco. Este bloco conclui com a expressão: Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome. Davi louva a Deus pela tranquilidade e restauração. Agora, ele o louva pela atividade. Ele nos “guia nas veredas da justiça”. Isso significa que Deus nos ajuda a realizar as atividades corretas, construídas sobre o fundamento de Seu senhorio, a segurança de Sua proteção e a restauração da nossa alma (vida). A palavra para “vereda” aqui é "ma'gal", significando "entrincheiramento" ou "trilha"; ou seja, um caminho pré-estabelecido. Assim, o que Deus faz aqui é alinhar a vida do salmista (e de cada um de nós) no caminho pré-estabelecido do bem. O objetivo do Pastor não é o de escoltar as ovelhas para onde elas quiserem ir, o que provavelmente prejudicará a si mesmas. É orientá-las ao lugar de seu melhor interesse.
O apóstolo Paulo afirma que nosso melhor interesse é sermos conformados à imagem de Cristo. Este é um propósito divino que se sobrepõe às realidades físicas. Conforme escreveu:
"Sabemos que aos que amam a Deus, todas as coisas lhes cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primogênito entre muitos irmãos" (Romanos 8:28-29Romanos 8:28-29 commentary).
Deus é como um Pastor, fazendo com que tudo o que ocorre em nossas vidas, todas as circunstâncias, trabalhem para o nosso "bem", de forma a nos "conformar à imagem de Seu Filho". Nós, como ovelhas, tendemos a não saber o que é bom e a priorizar a busca de confortos físicos. Deus sabe o que é melhor e permite as dificuldades em nossas vidas para que possamos completar o nosso "propósito".
Tudo isso por causa do Seu nome. O propósito das nossas vidas tem a ver com o “Seu nome”. O nome de Deus inclui Seu caráter. O propósito de Deus para os seres humanos é que eles participem e dêem testemunho de Seu Reino e Sua bondade. Os seres humanos foram criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27Gênesis 1:26-27 commentary). A intenção divina de Deus é que os seres humanos sejam totalmente conformados à Sua imagem, ao Seu nome.
Este salmo, ou canção, fala sobre a escolha de uma mentalidade e inclui uma proclamação de ação de graças por quem Deus é, pelo que Deus provê individualmente. Ele é direcionado ao propósito comunitário de toda a nossa vida. Ao agradecermos a Deus pelo que Ele é, Davi orienta sua mente a aceitar que "tudo o que acontece em minha vida é para o meu bem". A gratidão é o caminho para aceitarmos e abraçarmos o fato de que a provisão de Deus está sempre presente, independentemente das circunstâncias. Deus está sempre nos moldando e nos conformando à Sua imagem, como um oleiro que molda o barro. Ao escolhermos ser gratos por isso, nos vestimos de uma atitude, uma perspectiva que nos permite receber tudo o que ocorre em nossas vidas com plena confiança na provisão de Deus.
Notaremos que esses três primeiros versículos se referem a Deus como "Ele". A segunda metade do Salmo 23Salmo 23 commentary refere-se a Deus como "Tu". Isso sugere um foco comunitário nos três versículos seguintes. Falar sobre Deus na terceira pessoa sugere a presença de outras pessoas, como se, de certa forma, Davi estivesse explicando quem Deus era à sua comunidade. Ou, melhor dizendo, todos estavam, ao mesmo tempo, proclamando essas verdades juntos.
A segunda metade do Salmo 23Salmo 23 commentary refere-se a Deus na segunda pessoa (Tu), uma comunicação direta entre Deus e Davi. É como se o salmista estivesse deixando de falar sobre Deus para falar com Deus. Talvez isso signifique uma progressão. Primeiro observamos a Deus e aceitamos a realidade de Sua provisão. Escolhemos a perspectiva de que "quaisquer que sejam as circunstâncias em nossas vidas, isto é o melhor para nós agora, ou seja, uma oportunidade de nos conformarmos à Sua imagem". Uma vez que escolhemos tal perspectiva sobre nós mesmos e nossas circunstâncias (como ovelhas dependentes), estaremos prontos para escolher a perspectiva sobre o Deus Criador, nosso divino Pastor.