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Significado de Lucas 3:3-6

Lucas apresenta João Batista, bem como sua mensagem de arrependimento para perdão dos pecados, como sendo o cumprimento da profecia de Isaías.

Os exemplos paralelos do Evangelho para essa passagem estão em Marcos 1:2-4 e João 1:22-23.

João, o Batizador, começa a pregar o batismo de arrependimento para perdão dos pecados (v. 3).

No versículo anterior, Lucas nos havia informado que João Batista vivia no deserto, porém entrou no distrito ao redor do Jordão (Lucas 3:2). Esta localização era uma paisagem acidentada ao norte do Mar Morto, entre as montanhas de Jericó a oeste e o rio Jordão a leste. Lucas decidiu que tais detalhes geográficos eram relevantes pois eles confirmariam que João, o Batizador, era o cumprimento da profecia de Isaías (v. 4-6).

A palavra grega traduzida como “batismo” neste versículo vem da palavra βάπτισμα (G908 – pronuncia-se: "Bap-tis-ma"), descrevendo uma imersão. Ser batizado signifiva estar imerso em algo. O ato do batismo geralmente envolvia a água como forma de demonstrar simbolicamente uma imersão. Exploraremos alguns aspectos adicionais do batismo mais adiante neste comentário.

A palavra grega traduzida como “arrependimento” neste versículo é uma forma do termo μετάνοια (G3341 – pronuncia-se: "me-ta-noi-a"). É uma palavra composta que consiste de "meta", significando "mudança" ou "transformação", e "noia", significando "mente" ou "perspectiva".

A frase de Lucas (e Marcos) de que João estava pregando um batismo de arrependimento para perdão dos pecados indica que João convidava as pessoas a mudarem radicalmente suas perspectivas sobre a vida e, consequentemente, suas vidas, para que seus pecados fossem perdoados.

É interessante notar que em Lucas e Marcos o arrependimento era para o perdão de pecados, enquanto em Mateus o arrependimento é "para o Reino" (Mateus 3:2) A linguagem de Mateus inserindo o arrependimento "para o reino" fazia sentido a seu público judeu que buscava o reino (Romanos 9:31; 1 Coríntios 1:22a). A linguagem de Lucas e Marcos sobre o arrependimento para perdão de pecados fazia mais sentido a seu público gentio (Lucas, grego; Marcos, romanos) que buscava uma maneira melhor de viver (Romanos 9:30; 1 Coríntios 1:22b).

No Evangelho de Mateus lemos sobre uma urgência adicional à mensagem de João: "Arrependei-vos, pois o reino dos céus está próximo" (Mateus 3:2). Esta foi a maneira de João dizer ao povo da Judéia que o Rei (Messias) estaria chegando muito em breve para estabelecer Seu Reino e que aquele era o momento de se preparar antes de Sua chegada. Não era normal para os profetas itinerantes pregarem uma mensagem de perdão pessoal. O perdão vinha somente de Deus (Marcos 2:7).

De acordo com os costumes judaicos da época, o perdão era realizado através da realização de sacrifícios oficiais oferecidos no templo sagrado de Deus, administrados pelos sacerdotes de Deus, de acordo com a Lei de Moisés (principalmente descrita no livro de Levítico). Assim, a pregação de uma mensagem de arrependimento para perdão de pecados por João indicava que ou ele era um lunático religioso, ou era um profeta de Deus.

Tomados em conjunto, a mensagem de João de arrependimento para perdão de pecados e sobre a iminente chegada do Reino Messiânico, conforme registrado por Mateus, Marcos e Lucas, era um chamado às pessoas para quebrarem seus acordos com os sistemas corruptos do mundo e viverem de acordo com os princípios do Messias. Em essência, João estava dizendo: "Abandonem a seus velhos costumes porque estamos prestes a ver uma mudança completa no comando deste mundo".

Quem manda faz as regras. Considera-se uma atitude prudente, correta e sábia obedecer às regras de quem está em autoridade.

Na Judéia do século I, havia basicamente dois grupos no poder: Roma e as Autoridades Religiosas Judaicas. Roma tinha poder político sobre a província da Judéia. Roma impunha o Estado de Direito sobre os povos conquistados através de seu poderio militar. Muitos povos conquistados se submetiam ao domínio romano porque seu sistema, embora duro, trazia ordem e proporcionava estabilidade e prosperidade, diferente do caos do feudalismo tribal. Roma não era pior alternativa que os tiranos locais e era vista como uma melhoria em muitos aspectos.

Muitos judeus não compartilhavam dessa perspectiva, no entanto. Eles viam Roma como opressora e ficavam chocados com sua celebração de práticas pagãs, que eram uma abominação a Deus. Os judeus tinham vergonha de fazer parte do Império Romano. Porém, por causa da superioridade militar de Roma, eles tinham pouca escolha, cumprindo, assim, com suas exigências.

As Autoridades Religiosas (fariseus e saduceus) eram os principais influenciadores culturais. Os fariseus ensinavam as escrituras judaicas e suas tradições nas sinagogas locais. Os fariseus eram considerados heróis culturais por muitos judeus e eram amplamente respeitados por sua retidão e conhecimento. Os saduceus operavam o Templo de Jerusalém. Juntos, esses dois grupos eram os guardiães culturais da sociedade judaica.

O sucesso, bem como a sobrevivência do povo judeu no primeiro século, significava comprometer-se com o domínio romano e/ou com o legalismo dos líderes judaicos.

Entretanto, Jesus não havia vindo para transigir com ninguém. Ele não veio para seguir ou se encaixar a nenhum sistema criado pelo homem. Ele veio para estabelecer Seu próprio Reino. A mensagem de arrependimento de João era um chamado de filiação ao Messias vindouro, em vez do compromisso com o Império Romano ou com os líderes religiosos da época.

Mais uma vez, a mensagem de João era: "Agora é hora de mudarem seu pensamento. É hora de mudarem seus caminhos. É hora de mudarem seus comportamentos e lealdades, porque Deus está prestes a inaugurar Seu Reino." O fato de este ser um Reino messiânico era algo concreto, pois João proclamava que o Reino viria dos céus (Mateus 3:2). O momento pelo qual todos esperavam estava prestes a chegar. Tal mensagem teria ressoado profundamente no coração dos judeus.

No versículo 4, Lucas identifica a João, o Batizador, como o cumprimento de uma profecia da terceira canção do servo no livro de Isaías (Isaías 40:3), oferecendo-o como prova de que Jesus era o Messias Real. João, de acordo com Lucas (assim como Mateus, Marcos e João) era a voz de quem clama no deserto. Ele era o arauto profético que advertiria a todos a preparar o caminho do SENHOR e endireitar suas veredas!

Enquanto Mateus e Marcos citam apenas as primeiras linhas desta profecia, Lucas inclui todo o trecho de Isaías 40:3-5. Isso pode ser explicado pelo fato de Lucas estar registrando seu relato do Evangelho aos gentios, que não tinham o mesmo conhecimento das profecias do Antigo Testamento que o público judeu de Mateus. Como historiador (Lucas 1:1-4), Lucas era mais minucioso e interessado em transmitir detalhes a seu público grego do que o Marcos, que era orientado para a ação, trazendo relatos mais concisos a seu público romano. Lucas queria deixar claro que João era o cumprimento de Isaías 40:3, bem como explicitar as ramificações da vinda do Messias.

A profecia de Isaías é semelhante às palavras de João de Mateus 3:2: "Arrependei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo". Lucas captura a essência da pregação de João quanto ao batismo de arrependimento para perdão de pecados, conforme registrado por Lucas e Marcos (Marcos 1:4).

"Uma voz está chamando: 'Abri o caminho para o Senhor no deserto; fazei do deserto uma estrada para o nosso Deus. Que todo vale seja aterrado e toda montanha e colina seja aplanada; e que o terreno áspero se torne uma planície, e o terreno acidentado um amplo vale; então a glória do Senhor será revelada, e toda a carne a verá junta; porque a boca do Senhor falou'". (Isaías 40:3-5)

Tanto Isaías quanto João anunciam a chegada divina: "Abri o caminho para o Senhor". "O Reino dos Céus está próximo."

Ambos fazem um apelo à ação e mudança: "Abri o caminho. Faça-o plano. Arrependei-vos".

Ambos aludem a uma reviravolta do status quo. Em particular, o status quo político estava prestes a ser reformulado:

"Que todo vale seja aterrado, e toda montanha e colina seja aplanada; e que o terreno áspero se torne uma planície, e o terreno acidentado um largo vale.” “O Reino dos Céus está próximo".

O fato de João estar no deserto da Judéia (Lucas 3:2) ao proclamar sua mensagem o associa ainda mais, bem como ao Messias, à profecia de Isaías.

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