Add a bookmarkAdd and edit notesShare this commentary

Significado de Mateus 5:6

(D) é o primeiro tópico central do quiasmo de Jesus. A declaração está focada no caminho para o desejo e conquista da harmonia social e da justiça.

A declaração de Jesus (D) Makarios os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos corresponde a (D’) Makarios os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.

A declaração de Jesus sobre justiça está no coração das “Bem-Aventuranças” – o quiasmo dos Makarios do Mestre.

Com raras exceções, fome e sede eram condições universalmente experimentadas no mundo antigo. As pessoas que viviam na Judéia não estavam imunes a isso. Como não havia uma agricultura ou refrigeração modernas, a produção e o armazenamento de alimentos era algo sempre instável e as pessoas ficavam à mercê das secas, pestes e guerras. Mesmos com os aquedutos, o acesso à água fresca e limpa ficavam restritos ao acesso a rios, lagos, fontes e poços. Vencer o clima seco do território da Judéia demandava um constante esforço físico. Os discípulos de Jesus, bem como a vasta maioria dos leitores de mateus, com certeza experimentaram angústias reais por conta da fome muitas vezes em suas vidas. Em seu trabalho nas cidades e campos, ou em suas viagens pelas estradas da Judéia, todos haviam sentido sede intensa. Quando estamos com fome ou sede não pensamos em mais nada, a não ser em termos aquelas necessidades satisfeitas. É algo que não sai da nossa mente. É algo pelo qual buscamos sem descanso.

Jesus não está falando aqui sobre a fome em termos de alimentos ou sede em termos de água. Ele está se referindo à fome e sede pela justiça que sustenta a vida (harmonia social). Ele se refere a buscarmos a justiça de forma incessante, como se nossas vidas dependessem dela. A palavra Makarios expressa exatamente este sentimento.

No Antigo Testamento, justiça significava o cumprimento de um juramento ou de um acordo de aliança. A exigência primária para o cumprimento da maioria das alianças era a de que o vassalo servisse fielmente a seu senhor, ou susserano. Na aliança de Deus com Israel, Ele foi o Grande Susserano e a nação de Israel era Seu vassalo. A justiça vinha do cumprimento das demandas da Lei, ou seja, obediência às ordens do grande Governante. A justiça de Deus foi demonstrada em todo o Antigo Testamento, já que Ele cumpriu todas as Suas promessas (2 Crônicas 12:1-6; Salmo 7:3-17; 76:13; Jeremias 9:23,24).

A justiça é melhor descrita como harmonia social existente entre duas ou mais partes que honram um acordo previamente estabelecido – tanto externamente (a letra da lei) quanto internamente (o espírito da lei). Deus sempre cumpre Sua Palavra. Quando obedecemos às Sua ordens, há justiça. A justiça é a chave para Makarios. É por isso que Jesus recomendou que a buscássemos como se tivéssemos a necessidade de água quando estamos com sede, ou de alimento quando estamos morrendo de fome.

A carta de Paulo aos Romanos lida com esta questão: O que é justiça e como ela é alcançada? Neste quesito, Romanos é similar à “República” de Platão, um clássico de muita influência escrito vários séculos antes e que fundou a filosofia grega. Na “República”, Platão expande a conclusão de Sócrates de que a justiça ocorre quando todos os habitantes da cidade-estado fazem o que é melhor para a coletividade. Paulo chega à mesma conclusão, declarando em Romanos 12 que a justiça é como um corpo no qual todos os membros desempenham bem a sua função, em harmonia com seu propósito.

A diferença de Paulo para Platão está em sua análise da Cabeça. Paulo afirma que só há uma Cabeça, Cristo. Os crentes passam a ser justos quando disponibilizam seus talentos e dons em obediência à Cabeça, o “cérebro” do Corpo, que é Cristo. A idéia de Platão sobre a cabeça é um subgrupo de humanos falíveis, sobre quem ele fantasia terem uma natureza nobre.

A verdadeira justiça é a harmonia social em obediência às ordens de Cristo.

Tanto os discípulos de Jesus como os leitores judeus de Mateus sabiam que a justiça só poderia vir através da fé, conforme havia feito Abraão (Gênesis 15:6). Porém, neste sermão, Jesus não está falando sobre a justiça pela fé em Deus, ou sobre a “justificação” descrita por Paulo em Romanos 3-4.

A justiça (harmonia social) sobre a qual Jesus está se referindo aqui é a justiça prevalente que se reflete em toda a vida daquele povo de aliança, que deveria obedecer e guardar a Lei. Uma sociedade floresce quando um grupo de indivíduos auto-governados respeitam e seguem as normas estabelecidas. Quando as normas são seguidas voluntariamente, a comunidade não precisa gastar tempo, energia e dinheiro para proteger o que é seu de ladrões e tiranos. Quando uma comunidade segue as normas da lei porque escolhem fazê-lo, tal atitude os liberta para investir tempo e energia em serem produtivos. Os produtos e serviços oferecidos pelas pessoas são uma bênção não apenas para si mesmas, mas para toda a coletividade.

As leis e os governos humanos são imperfeitos. Mesmo os melhores sistemas são corruptos pelo egoísmo e pela avareza de homens que lutam pelo poder. Esta corrupção resulta em intermináveis clamores por justiça. Ainda que sejam reais e corretos, tais clamores são frequentemente subvertidos e sequestrados por outros homens igualmente avarentos e sem escrúpulo. A harmonia e justiça que essas pessoas prometem nunca são melhores do que a corrupção que juraram eliminar. O resultado final disso é mais frustração e cinismo, onde ninguém fica satisfeito. Os que são cheios de justiça própria vão ter sede e morrer de fome.

Jesus e Seu Reino oferecem a verdadeira justiça, a única coisa pela qual devemos ter fome e sede. “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça” (Mateus 6:33). Como Deus, Jesus é o Rei perfeito. Sua Lei é a Lei perfeita do amor e da liberdade (Romanos 3:8; Tiago 1:25). Seu reinado é perfeitamente justo.

A mensagem de Jesus aqui é a de que toda a humanidade precisa parar de ter fome e sede pela justiça do mundo, baseada nas mentiras dos sistemas globais (ou em seus falhos sistemas de justiça). Ele promete que os que tem fome e sede por Sua justiça serão satisfeitos. Estes são os que receberão o Makarios. A harmonia social que Seu Reino proporciona é diferente de tudo o que o mundo oferece. É o subproduto de um coração que ama ao próximo como a si mesmo. É o fruto do auto-governo e da auto-responsabilidade para com a lei perfeita da liberdade, de forma a abençoar e servir ao próximo (Gálatas 5:13,14). Esta é a verdadeira harmonia social. Isto é justiça. Esta é a justiça que nutre e sustenta a sociedade. Aqueles que vivem em tal sociedade são Makarios.

Select Language
Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência de navegação e fornecer conteúdo personalizado. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso de cookies conforme descrito em nossa Política de privacidade.
;