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Significado de Mateus 5:43-47

Jesus apresenta e exige uma visão radicalmente diferente do amor oferecido pelo mundo.

Jesus contina a expandir Seus ensinamentos sobre a misericórdia. Tendes ouvido que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Os judeus nos dias de Jesus estavam, como a maioria de nós hoje, cientes de quem estava do “seu lado” e quem estava “contra eles”. Eles sabiam de cor sobre o mandamento de Levítico 19:18: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo: eu sou Jeová.” Porém, o desafio natural para judeus e gentios é definir quem é “nosso povo”, ou nosso próximo. Todos nós somos rápidos em justificar nossos comportamentos e em definir nosso próximo como aqueles que estão “do nosso lado” (Lucas 10:29).

De acordo com o sistema do mundo, quem não é nosso próximo naturalmente é nosso inimigo e portanto, tal pessoa não merece nosso amor, mas nosso ódio. Tal verdade era reforçada pelos judeus que buscavam passagens bíblicas como a de Deuteronômio 26:3-6 para identificar exemplos daqueles aos quais eles não deveriam amar. Tendo essa lista como base, era natural para eles acrescentar outras pessoas como inimigos a serem odiados, tais como os romanos (no caso dos zelotes), os saduceus (no caso dos fariseus), o fariseu (no caso dos herodianos), e assim por diante.

Mas, Jesus não veio para ensinar a lei natural do mundo. Ele veio para ensinar a lei sobrenatural do amor.

Mais uma vez, usando Sua autoridade e nome divinos, Jesus inicia seu ensino com a frase cada vez mais familiar: “Eu, porém, vos digo”. Jesus choca a todos ao comandar Seus discípulos a amar aos seus inimigos. Tal princípio radical é extremamente oposto à natureza humana e à tudo o que o mundo nos ensina.

A palavra amor usada aqui não está entre as palavras gregas comumente usadas na literatura clássica. Não é “philos”, que significa amizade mútua. Não é “eros”, que significa “paixão forte”, frequentemente usada para desejos sexuais. A palavra usada aqui é “agape” (G25). Agape é usada para descrever o tipo de amor de Deus. O amor agape é baseado em escolhas fundamentadas em valores, a despeito das emoções, apetites ou afeições. Jesus admoesta a Seus discípulos a escolherem algo que vai contra as afeições humanas.

Antes que o Novo testamento fosse escrito, o amor agape era uma palavra raramente usada e era uma expressão genérica para a afeição. Porém, os escritores do Novo Testamento (seguindo aos tradutores da Septuaginta) assumiram o termo e o empregaram para descrever o tipo de amor que Deus tem por nós e o tipo de amor que Ele deseja que tenhamos pelas pessoas – amigos e inimigos.

Paulo nos apresenta a definição e descrição completa do amor agape em 1 Coríntios 13. Amar alguém com o agape e buscar o melhor para ela de forma paciente, generosa e sacrificial. O agape é buscar o melhor para os outros, ao invés de procurar oportunidades para elevar o ego. O amor agape também é incondicional, ou seja, não demanda reciprocidade. O agape confia nas recompensas de Deus. Nenhuma dessas atitudes são naturais, nenhuma traz boas sensações. A paciência consiste em escolher não reagir a coisas que nos irritam e isso é algo muito difícil. A generosidade é se colocar num problema no lugar de alguém sem esperar que a pessoa retorne o favor, ou seja, se sacrificar por outros sem a expectativa de ter um retorno tangível e imediato. Porém, o discípulo de Cristo deve ter seus olhos naquilo que não se pode ver.

O amor agape é o estilo de vida de um servo verdadeiro e feliz. É a característica de um seguidor de Cristo (João 13:35). E os discípulos de Jesus são capazes de expressar o agape  por outros porque Cristo expressou o agape por eles primeiro (1 João 4:19). Assim, a motivação do agape é o tipo de comportamento sacrificial com interesses de longo prazo, ou seja, nas recompensas futuras. O apóstolo Paulo declarou que o amor agape por outros é necessário para que nossas ações produzam recompensas (1 Coríntios 13:3).

Jesus ordena que Seus discípulos amem (agape) a seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem. Ao invés de desejar o mal ou a destruição dos inimigos, devemos interceder por eles diante de Deus, pedindo por Sua misericórdia. Isso é o que Jesus fez quando foi pregado na cruz: Ele pediu ao Pai para perdoar os pecados daqueles que o crucificaram (Lucas 23:24). Quando fazemos isso pelos nossos inimigos, eles deixam de ser vistos como inimigos. Esta atitude nos libera do ódio. Podemos vê-los como peregrinos que têm necessidade de misericórdia, como nós. Quando amamos (agape) a nossos inimigos, nos tornamos como Cristo, que nos amou (agape) enquanto ainda éramos Seus inimigos (Romanos 5:7-10). E conforme amamos e oramos pelos inimigos que nos perseguem, nos tornamos mais como Cristo, o Filho de Deus, algo que nos leva a nos tornar filhos do nosso Pai que está no Céu.

Jesus expressa o motivo pelo qual Seus seguidores não devem tratar os outros conforme o sistema do mundo: é porque amar aos inimigos e orar pelos que nos perseguem é algo que nos vai beneficiar. E tal atitude nos transforma em filhos do Pai que está no Céu. Amar ao nosso próximo e aos nossos inimigos é similar a ser um pacificador. Ambas atitudes de amor produzem bênçãos similares: “Eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9).

A noção de se tornar um “filho” é provavelmente apresentada no contexto dos governos soberanos do mundo antigo. Tornar-se um “filho” era a recompensa por um serviço fiel. Um vassalo fiel recebia “adoção” como “filho” do rei, recebendo honra e privilégios reais como recompensa por seu serviço leal ao rei. Deus irá recompensar aqueles que buscan a harmonia, ou a justiça. Jesus repete esta recompensa de compartilhar Seu Reino com aqueles que vencem como Ele venceu (Apocalipse 3:21).

A recompensa de ser um “filho” foi concedida a Cristo pelo seu serviço fiel e leal durante Sua vida terrena (Hebreus 1:5). Ambas as porções C e B’ das Bem-Aventuranças incluem a promessa da recompensa futura de reinar com Cristo. A porção B’ no versículo 9 diz: “ELes serão chamados filhos de Deus”. Ser um filho significa ter responsabilidades no Reino. Uma parte do que significa buscar o Shalom, ou ser um pacificador, é expor os falsos mestres, como Jesus fez com os fariseus (Mateus 23). Para que um corpo seja saudável, enfermidades necessitam ser removidas.

A graça natural e sobrenatural de Deus é livremente oferecida a todos. A graça natural de Deus é vista na forma como Ele faz com que o sol nasça sobre justos e injustos e como a chuva cai sobre justos e injustos. Deus não envia a chuva apenas para os que O amam. A graça sobrenatural de Deus é demonstrada pelo fato de Deus ter enviado “Seu único filho para que tivéssemos salvação através dele” (1 João 4:9). Embora Deus disponibilize a graça e a misericórdia do agape (amor) a todos, Seus seguidores devem desejar ser chamados filhos.

Apenas para enfatizar este ponto, Jesus faz quatro perguntas retóricas organizadas no formato de entimemas. Um entimema é uma declaração lógica de três partes com duas premissas e uma conclusão, onde uma dessas três partes é aceita como verdadeira, apesar de não ser expressa. Os entimemas permitem que o ouvinte solucione um problema lógico de forma ativa, ao invés de receber passivamente toda a informação.

No primeiro entimema, Jesus pergunta: Se amardes aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também o mesmo? O entimema aqui pode ser entendido da seguinte maneira:

Premissa 1: Já que todos nós desejamos ser recompensados (não declarado),
Premissa 2: E não temos as recompensas de Deus a menos que amemos os nossos inimigos,
Conclusão: Portanto, devemos amar aos nossos inimigos.

Os coletores de impostos eram demonizados no mundo judaico porque haviam se vendido ao inimigo do povo de Israel, Roma. No entanto, Jesus observa que mesmo esses homens percebidos culturamente como crápulas compreendiam suficientemente seu auto-interesse em ser gentis aos que eram gentis a eles. É fácil seguir as implicações da lógica de Jesus: se você ama apenas aqueles que o amam – e os intragáveis coletores de impostos também faziam isso – você não é melhor que eles. A única recompensa a ser esperada é a reciprocidade de outras pessoas. Caso a pessoa desejasse receber uma recompensa de Deus, ela deveria subir a um nível acima dos coletores de impostos.

É interessante notar a inclusão deste ensinamento de Jesus por Mateus, já que ele próprio havia sido um coletor de impostos antes de seguir a Cristo. Jesus acabaria por inserir Mateus no grupo dos doze discípulos mais próximos (Mateus 9:9).

Se a nossa visão de amor for puramente transacional, receberemos apenas a quantidade de amor oferecido a outros. Em outras palavras, este tipo de amor e suas recompensas são como a água. Ele nunca vai ultrapassar o nível da sua origem. Receberemos apenas a exata quantidade de recompensa do tipo de amor que oferecemos a outros. Jesus deseja que consideremos amar a outros de acordo com as leis da economia do Seu Reino, algo que é infinitamente maior do que as recompensas do mundo. Cristo deseja que Seus discípulos conquistem recompensas maiores, recompensas eternas que não podem ser destruídas (Mateus 6:19,20). Amar aos nossos inimgos é o caminho para tal resultado.

Jesus repete o mesmo entimema básico ao formular a próxima pergunta retórica: Se saudardes somente aos vossos irmãos, que fazeis de especial? Não fazem os gentios também o mesmo? Aos olhos dos zelotes e de muitos outros lídres religiosos, os gentios (romanos) eram ainda piores que os coletores de impostos. Eles eram a força bruta que governava pela opressão. Uma vez mais, se vocês saúdam somente aos vossos irmãos judeus, vocês não são diferentes dos romanos (que apenas saudavam os romanos). Até mesmo os gentios fazem isso. Portanto, seu amor não é melhor do que o amor dos gentios que não conhecem a Deus. Portanto, se vocês quiserem receber a recompensa de Deus, saúdem aos que não são seus irmãos. Imediatamente após o Sermão da Montanha, veremos Jesus interagindo com um centurião romano, não apenas o cumprimentando, mas elogiando publicamente sua atitude de fé.

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