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Significado de Mateus 13:36-43

Jesus explica o significado da parábola do trigo e do joio. É uma parábola sobre o que irá acontecer aos filhos fiéis do Reino e aos filhos infiéis do maligno em seus respectivos julgamentos.

Esse ensinamento não é encontrado em nenhum outro relato dos Evangelhos.

Mateus registra que Jesus deixou as multidões e entrou na casa depois de ensinar as parábolas do "semeador", "do joio do campo", do "grão de mostarda" e do "fermento". Uma vez na casa, Seus discípulos se aproximaram Dele e pediram que Ele lhes explicasse o significado da parábola do joio no campo. Jesus concordou com o pedido deles e começou a explicar a parábola do joio.

A parábola é uma profecia sobre o futuro. Tanto a parábola quanto a explicação de Jesus parecem ser multidimensionais. A profecia por trás da parábola descreve o fim de uma era e um momento importante no estabelecimento do Reino de Cristo. Dependendo de como Jesus fosse recebido pelos judeus, haveria dois cumprimentos possíveis a esta profecia. Um deles era o cumprimento quase imediato, no futuro próximo, durante a vida dos discípulos. O outro ocorreria num futuro mais distante. O reconhecimento dos dois cenários de cumprimento possíveis é fundamental para entendermos como os discípulos ouviram e meditaram sobre a parábola do joio no campo e o que isso significa para nós hoje. A explicação profética de Jesus se encaixa a ambos os cenários.

Começaremos examinando o que Jesus diz sobre o significado de cada um dos elementos e eventos da parábola. Consideraremos o cumprimento no futuro próximo, que provavelmente era como os discípulos entenderam, antes de considerarmos o possível cumprimento no futuro distante e suas implicações para nós hoje.

Nesta parábola, Jesus distingue entre os filhos do Reino e os filhos do maligno. Independentemente de ter uma realização próxima ou distante, a aplicação mais aparente é que os justos e os injustos não serão facilmente identiticados durante o nosso tempo nesta terra. Só Deus sabe. E Ele julgará a todos de acordo com Sua sabedoria. Todas as coisas serão trazidas à luz. Como Paulo afirma em Gálatas: "Não vos deixeis enganar, Deus não é escarnecido; porque tudo o que o homem semear, também colherá" (Gálatas 6:7).

Jesus começou Sua explicação da parábola do joio revelando o que os sete elementos da parábola representam no Reino dos Céus. Logo a seguir, Jesus explica o significado simbólico das ações e eventos da parábola.

O primeiro elemento descrito por Jesus é o semeador. Ele diz: Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O termo Filho do Homem era uma referência ao Messias (Daniel 7:13). Era um termo que Jesus costumava usar quando se referia a Si mesmo como o Messias (Mateus 9:6; 11:1912:8; 16:1317:22; 19:2820:18; 26:45). Quando levamos em conta essas referências da forma como os discípulos devem tê-las entendido, Jesus provavelmente estava ensinando que Ele era o Messias que semeia a boa semente.

Curiosamente, Jesus não identifica o proprietário da terra na parábola. Mas, considerando o contexto e outras explicações de Jesus, o proprietário da terra parece ser Deus, o Pai. Ele é o dono de toda a terra (Salmo 50:12).

O segundo elemento identificado por Jesus foi o campo. O campo é o mundo. Essa explicação é direta. O mundo é simplesmente este mundo. É o tempo e o lugar no qual habitamos e as circunstâncias que encontramos nesta vida. Haverá duas categorias de habitantes da terra nesta parábola, representadas pela boa semente e pela má semente. O Reino de Deus será estabelecido por algum tempo no mundo, mais exatamente no fim daquela era.

O terceiro elemento que Jesus descreveu foi a boa semente. Na parábola, a boa semente eventualmente se transformou em trigo, que era a colheita que o semeador desejava produzir. Jesus explicou que a boa semente simbolizava os filhos do Reino. Os filhos do Reino são considerados bons, porque amadurecem e produzem bons frutos que o semeador pretendia que produzissem.

Explicaremos mais adiante quem são esses filhos do Reino.

O quarto elemento inidicado por Jesus foi o joio. Em Sua parábola, o joio colocado estava em contraste com a semente de trigo. Em Sua explicação, o que o joio representa contrasta com o que a boa semente representa. Assim como a boa semente  representa os filhos do Reino, o joio representa os filhos do maligno.

O quinto elemento descrito por Jesus nesta parábola foi o inimigo. Ele explicou que o inimigo que semeou o joio é o diabo ("Diabolos"). Diabolos é o mesmo termo que Mateus usou quando narrou a tentação de Jesus no deserto. O diabo é Lúcifer, o arcanjo caído (Isaías 14:12), o inimigo de Deus. Na narrativa de Jesus sobre a parábola, o proprietário da terra disse que o joio havia sido semeado por "um inimigo" (Mateus 13:28). O inimigo de Deus é Satanás (Salmo 8:2).

O sexto elemento indicado por Jesus foi a colheita. Ela representa o fim dos tempos. O "quando" deste momento tem mais a ver com uma questão de maturidade ou prontidão do que com uma contagem regressiva do relógio. A colheita descreve o julgamento de Deus no fim dos tempos.

Explicaremos o que Jesus quer dizer com o fim dos tempos mais abaixo neste comentário.

O sétimo e último elemento apresentado por Jesus nesta parábola foram os ceifadores. Estes são os anjos de Deus. Os anjos, aqui, provavelmente se referem às formas de vida sobrenaturais criadas para servir a Deus e realizar Sua vontade. A tarefa dos ceifeiros é ajuntar os frutos no momento da colheita.

Depois de identiticar os vários elementos da parábola do joio no campo, Jesus, então, explica os eventos. Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, assim será no fim dos tempos; o Filho do Homem enviará Seus anjos para reunir em Seu reino todas as pedras de tropeço, e aqueles que cometem iniquidade, e os lançarão na fornalha do fogo. Jesus concluiu Sua explicação dizendo que os justos brilharão como o sol no Reino de Seu Pai. Essas observações têm fortes conotações de uma profecia de Daniel:

"E muitos dos que dormem no pó da terra despertarão, estes para a vida eterna, mas os outros para a desgraça e o desprezo eterno. E aqueles que têm discernimento brilharão como o brilho da expansão do céu, e aqueles que conduzem os muitos à justiça, como as estrelas para todo o sempre." (Daniel 12:2-3)

É interessante notar que quando os anjos recolhem os frutos no julgamento, o joio é recolhido e retirado do campo para ser queimado no fogo em uma fornalha de fogo, enquanto a colheita da boa semente é deixada para trás. Normalmente, na Bíblia, os justos são livrados do julgamento, como com Noé no caso do dilúvio (Gênesis 7:1-4) ou Ló em Sodoma (Gênesis 19:15). Mas, neste caso, são os ímpios os removidos. Esta remoção dos injustos ocorrerá no fim dos tempos, quando o Filho do Homem enviar Seus anjos para reunir o joio.

Os filhos do Reino permanecerão no Reino, e os ímpios serão erradicados. Esta representação parece indicar que o Reino de Jesus já estava em processo de inauguração na terra, ou já havia chegado à terra, e está sendo purificado. Em qualquer caso, Jesus executará a limpeza de Sua casa. Ele tirará do Seu reino os filhos injustos do maligno. Ele removerá de Seu reino todas as pedras de tropeço e aqueles que cometem iniquidade.

As duas categorias designadas por Jesus para o joio cobrem toda a gama de maldade, legalismo (pedra de tropeço), licenciosidade (ilegalidade), e outros.

Pedras de tropeço atrapalham ou prejudicam aqueles que caminham pelo caminho. Elas simbolizam os obstáculos e perigos do legalismo que estão no caminho daqueles que tentam trilhar os caminhos da justiça. Ainda que estejamos no caminho, iremos encontrar obstáculos difíceis de notar ou identificar. O legalismo tem uma aparência de justiça, mas leva à ruína. Esta categoria de joio se refere às pessoas que se comportam de forma extremamente religiosa. Talvez seja por isso que Jesus tenha escolhido esta ilustração, onde a diferença entre trigo e joio não é aparente por um longo tempo; é apenas no momento da colheita em que se poderá ver que o joio não tem fruto e o trigo sim. Os legalistas tendem a ser pessoas abertamente religiosas. E, embora seu comportamento possa levá-los a parecer autênticos filhos do Reino, eles não são bons, eles são realmente um joio tóxico.

A segunda descrição que Jesus dá para o joio são aqueles que cometem iniquidade.  Isso também pode ser aplicado aos fariseus, que abusavam das pessoas através da manipulação de regras, violando assim o espírito da lei (Mateus 23). Ou pode também ser aplicado a alguém que ainda é escravo de seus próprios apetites e paixões, corrompendo-se a si mesmo e aos outros através de práticas pagãs (1 Pedro 4:3).

Jesus está indicando que, durante o estabelecimento de Seu Reino, Ele varrerá todas essas pedras de tropeço e pessoas imorais. Em vez de entrarem no Reino, elas serão lançadas na fornalha de fogo. Os filhos do Reino permanecerão no Reino. Os filhos do maligno serão expurgados.

O fogo geralmente representa o julgamento de Deus nas Escrituras. A fornalha de fogo é o lugar de julgamento. O último lugar de julgamento para os incrédulos será o lago de fogo (Apocalipse 20:15), onde também a morte e o Hades serão lançados. Parece que haverá graus de julgamento, conforme indicado por Jesus de que punições de alguns ímpios seriam mais toleráveis que de outros (Mateus 10:15). Toda pessoa que não crê em Jesus será julgada, ou já está julgada, porque não crê em Jesus (João 3:18;  Apocalipse 20:15).

O fogo do julgamento de Deus também se aplica aos crentes (1 Coríntios 3:11-15; 2 Coríntios 5:10; Apocalipse 20:12). No entanto, o fogo do julgamento de Deus refinará os crentes, ao invés de consumi-los. Deus avaliará as obras dos crentes – aqueles que pertencem a Ele – e os recompensará por sua fidelidade ou falta de fidelidade. O apóstolo Paulo descreve esse julgamento como "Bema" ou "Tribunal de Cristo" (2 Coríntios 5:10). Paulo descreve esse julgamento também como julgamento pelo fogo. No entanto, esse fogo do julgamento se aplica a obras, não a pessoas (1 Coríntios 3:15).

Enquanto o joio aguarda o julgamento ardente, os que permanecem no Reino aguardam suas recompensas. Os que ficam são a boa semente, os filhos justos do Reino. Eles brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Seu brilho é um símbolo da imensa glória que terão por sua fidelidade ao Rei enquanto estavam no mundo.

A explicação de Jesus sobre o julgamento entre os filhos justos do Reino e os filhos iníquos do maligno tem algumas semelhanças com a visão que o Senhor deu ao profeta Jeremias pouco antes da destruição final de Judá e do exílio na Babilônia (Jeremias 24:1-10). Na visão de Jeremias, a divisão não é entre trigo bom e joio ruim, mas entre figos bons e ruins. Os  figos bons estão em um cesto e os figos ruins estão em outro (Jeremias 24:2-4). Os bons figos são levados para a Babilônia por um tempo, onde prosperarão e crescerão em seu amor por Deus (Jeremias 24:5-7). Os figos ruins permanecerão em Judá e enfrentarão destruição total por conta de terem abandonado a Deus (Jeremias 24:8-10). A visão de Jeremias dos figos bons e ruins ocorreu enquanto ele profetizava. Isso pode servir como uma espécie de prévia do que será a colheita final descrita por Jesus na parábola do joio.

Agora que examinamos o que Jesus quis dizer com cada elemento representado na parábola do joio do campo e Seu resumo quanto aos eventos relacionados à parábola, vamos considerar seus cumprimentos no futuro próximo e no futuro distante.

Os dois termos mais importantes na explicação de Jesus são os filhos do Reino e o fim dos tempos. Ambos os termos significam algo um pouco diferente em cada cenário.

O Cumprimento no Futuro Próximo

O cumprimento no futuro próximo diz respeito ao que teria acontecido se a primeira geração de judeus vivos durante a vida de Cristo na terra O tivesse aceitado como o Messias, ao invés de rejeitá-Lo.

É importante lembrar que Jesus havia vindo para trazer o Reino (Mateus 4:23). Quando pregou o chamado "Arrependei-vos, pois  o reino  dos céus está próximo" (Mateus 4:17), os amigos e inimigos de Jesus entenderam que o Reino estava literalmente  prestes a começar. Os fariseus e saduceus advertiram Pilatos que as reivindicações de Jesus de ser o Messias Real eram uma afronta ao reinado terreno de César (Lucas 23:1-2). Os discípulos pareciam acreditar que o Reino apareceria de repente, pelo menos até o momento antes da ascensão de Jesus (Atos 1:6).

Ao longo de Seu ministério, Jesus nunca pareceu desafiar ou corrigir essas suposições. Ele as deixou de pé – e em várias ocasiões até mesmo pareceu afirmá-las. Quando Ele enviou os discípulos para pregar que o Reino dos Céus estava próximo às ovelhas perdidas da Casa de Israel (Mateus 10:6-7), Jesus lhes disse: "Porque em verdade vos digo que não terminareis de atravessar as cidades de Israel até que venha o Filho do Homem" (Mateus 10:23). Em outro momento, Ele disse às multidões: "Se vocês estão dispostos a aceitá-lo, o próprio João é Elias, que viria [diante do Messias]" (Mateus 11:14). E Jesus repreendeu os fariseus por tentarem abafar os gritos messiânicos de louvor das multidões enquanto Ele entrava em Jerusalém durante Sua entrada triunfal (Lucas 19:39-40). As palavras, ações e silêncio de Jesus indicam que, se os judeus O tivessem aceitado como seu Messias, o Reino estava preparado para começar imediatamente.

Por um curto espaço de tempo após Sua ascensão ao Céu ainda parecia haver a possibilidade de uma inauguração imediata do Reino caso os judeus se arrependessem da rejeição ao Messias e O recebessem. Este pareceu ser o ponto crucial da mensagem de Pedro aos judeus no pórtico de Salomão:

"Portanto, arrependei-vos e voltai, para que os vossos pecados sejam apagados, a fim de que venham tempos de refrigério da presença do Senhor; e para que Ele envie Jesus, o Cristo por vós, a quem o céu deve receber até o período de restauração de todas as coisas sobre as quais Deus falou pela boca de Seus santos profetas desde os tempos antigos." (Atos 3:19-21)

De sua parte, o apóstolo Paulo demonstrou seu choque com a cegueira dos judeus durante aquela geração (que os levou a rejeitar a Jesus) e como isso havia resultado em um enorme benefício para os gentios (Romanos 11:11-12, 32).

O cumprimento desta profecia no futuro próximo estava completamente alinhado com as expectativas dos discípulos sobre Jesus e o Evangelho de Seu Reino. Quando eles ouviram Jesus explicar-lhes a parábola do joio do campo, eles devem ter entendido que a colheita do fimi dos tempos ocorreria dentro do seu período de vida (caso não fossem mortos na "revolução").

Eles provavelmente compreenderam a frase de Jesus “o fim dos tempos” como significando "o fim da era atual do domínio romano"; ou "o fim da era pré-messiânica". Este entendimento parece se refletir nas palavras de Mateus, no versículo 40. Quando Mateus cita a descrição da colheita por Jesus, ele usa o pronome grego "toutou", que significa "isto", em vez do artigo definido "tou" (traduzido como "o", conforme usado no versículo 39). Uma tradução mais literal da descrição do versículo 40 seria: "O fim desta era". O uso do pronome "toutou" sugere que Jesus pode ter especificado que a colheita aconteceria quando uma determinada era ou geração chegasse ao fim.

No cenário de futuro próximo, os discípulos devem ter entendido a expressão filhos do Reino descrita por Jesus como simbolizando os judeus. Jesus havia vindo à terra como o Messias judeu. Jesus disse à mulher siro-fenícia que Ele havia sido "enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mateus 15:24). E quando Ele se maravilhou com o centurião romano por sua grande fé, Jesus descreveu os judeus como filhos do Reino (Mateus 8:10-12). Os discípulos, naturalmente, devem ter aplicado esta expressão a seus irmãos e parentes de sangue.

Os discípulos pareciam acreditava que o tempo para a colheita estava próximo, quando  o Filho do Homem estabeleceria Seu Reino na terra enviando Seus anjos para reunir todo o  joio dos incrédulos – ou seja, todos os filhos do maligno entre eles – lançando-os na fornalha ardente do julgamento de Deus.

Jesus havia descrito o joio como pedras de tropeço legalistas e pessoas pecaminosas que cometiam iniquidade. Os discípulos podem ter entendido que as pedras de tropeço eram os fariseus e os saduceus incrédulos, cujo legalismo rígido tinha uma aparência de justiça, mas era de fato um fardo pesado demais para suportar. Seus atos de justiça própria e severas exigências afastavam as pessoas do coração da lei de Deus e de Seu Reino. Os discípulos podem ter associado aqueles que cometem ilegalidade com os herodianos incrédulos, que parcialmente tinham sangue judeu, mas cujo estilo de vida escandalosamente licencioso faria até mesmo o pagão César corar de vergonha.

Este joio seria jogado na fornalha do julgamento ardente de Deus. Jesus diz que naquele lugar haverá choro e ranger de dentes. O choro é uma expressão de terrível tristeza. O ranger de dentes é uma expressão de intensa amargura e raiva (Atos 7:54). Os filhos do maligno expressarão ambos quando de seu banimento do Reino.

Os leitores irão se lembrar de que, quando Jesus se maravilhou com a fé do centurião romano, Ele disse que [alguns] filhos do Reino não se reclinariam à mesa do banquete no Reino, mas seriam "lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes" (Mateus 8:11-12).

O que levanta a seguinte questão: Como é que os filhos do maligno e alguns dos filhos do Reino experimentarão e expressarão a mesma tristeza e raiva diante do julgamento?

Na passagem de Mateus 8, Jesus adverte que os filhos do Reino ainda se encontram no Reino, porém serão excluídos do banquete de honra (Mateus 8:12). O ponto que Jesus levanta em Mateus 8 é que haverá gentios que serão honrados muito mais do que os judeus por causa de sua fé. Os filhos do Reino serão castigados. Eles perderão a honra. Mas ainda são filhos do Reino.

O exemplo particular que Jesus aponta em Mateus 8 é a fé do centurião romano. Haverá gentios sentados à mesa de honra com Abraão, Isaque e Jacó, enquanto alguns filhos do Reino serão excluídos do banquete. Esta é a figura das "trevas exteriores". Um banquete de honra no Oriente Médio ocorria no frescor da noite. A luz mais brilhante ficava no centro do banquete. As "trevas exteriores" era o lugar dos que não estavam presentes.

Os filhos do Reino excluídos da mesa de honra ficarão indignados (ranger de dentes), provavelmente contra si mesmos, por terem perdido a grande oportunidade de servir a Deus durante sua vida na terra. E eles ficarão tristes (chorando) por terem perdido tal oportunidade tão maravilhosa. Esses filhos do Reino ficarão tristes, mas ainda estarão no Reino. O ponto de Jesus em Mateus 8 não pretende ser uma declaração abrangente ou um tratado exaustivo sobre  a vinda do Reino. Seu objetivo era esclarecer um ponto específico. O ponto principal do ensino de Jesus nesta passagem de Mateus 8 é sobre a fé que produz grandes recompensas e, secundariamente, sobre a existência de gentios sendo honrados acima dos judeus no Reino por terem demonstrado maior fé. O propósito de Jesus era o de encorajar Seus seguidores judeus a aprender com a grande fé do centurião romano.

Como, então, pode haver choro e ranger de dentes no Reino entre o trigo filhos do Reino e na fornalha de fogo para o joio/filhos do maligno?

A resposta mais provável é que os filhos do Reino vão chorar de tristeza e ranger os dentes de raiva por motivos diferentes daqueles sentidos pelo joio. O mundo está repleto de raiva e tristeza. Podemos ver em Apocalipse que aqueles que se opõem a Jesus têm raiva Dele e choram por causa da dor que sentem. Porém, não há arrependimento em seus corações (Apocalipse 6:16). Por outro lado, Pedro chorou amargamente por sua ofensa contra Cristo, mas se arrependeu (Mateus 26:75; Lucas 22:62). Os incrédulos choram porque são inimigos de Deus. Os filhos do Reino choram porque falharam em agradar a seu Rei.

Infere-se da parábola do joio de Jesus que todos os filhos do Reino serão habitantes do Reino do Messias na terra. Para o cumprimento desta parábola no futuro próximo, os filhos do Reino eram o remanescente de judeus fiéis que criam que Jesus era o Messias durante Seu primeiro advento na terra.

No entanto, a possibilidade do cenário para o futuro próximo não ocorreu. Embora não nos sejam dados detalhes, parece que a janela de cumprimento foi fechada durante, ou no final, daquela primeira geração de judeus vivos na primeira vinda de Jesus.

A Realização do Futuro Distante

O cumprimento profético no futuro distante diz respeito ao que acontecerá agora que a primeira geração de judeus vivos durante a vinda de Cristo rejeitou a Jesus como o Messias, ao invés de aceitá-Lo.

Os mesmos eventos previstos se desdobrarão, mas com um contexto um pouco diferente em comparação com o cenário de futuro próximo. As principais distinções abordam os dois termos-chave na explicação de Jesus: o fim dos tempos e os filhos do Reino.

O termo O fim dos tempos pode ter dois significados funcionais no cenário de futuro distante.

Primeiro, o fim dos tempos poderia simplesmente se referir ao fim de todas as eras, ou seja, o fim da vida nesta terra, como os humanos a conhecem, desde que Adão e Eva foram expulsos do jardim do Éden. Ou, então, Jesus pode estar sendo mais específico em Seu significado e estar falando sobre o fim daquela era atual ("toutou") ou seja, a era da história humana em que eles estavam vivendo. Aquela era foi também chamada de "a era dos gentios", já que marcou o início do plano visível de redenção de Deus entre os povos não-judeus.

A era dos gentios começou aproximadamente na mesma época quando a geração de judeus que estavam vivos durante o ministério de Jesus pereceu. A era dos gentios chegará ao fim quando o Messias retornar uma segunda vez à terra, desta vez para estabelecer fisicamente o Seu Reino. Dada a nossa posição atual na história, há pouca diferença para nós se Jesus geralmente quis dizer "o fim de  todas as eras" ou especificamente o fim daquela era atual, porque estamos na era final da história humana antes do retorno de Cristo. Para aqueles de nós que vivem na era atual, é como se estivéssemos nos últimos minutos de uma partida de futebol. O apito final significa o fim do jogo.

Se este for o caso, então, em termos práticos, isso significa que, em certos aspectos, vivemos sob um conjunto semelhante de condições que os judeus do tempo de Jesus viveram. O Reino está próximo. A colheita pode começar a qualquer momento. E devemos viver em estado de urgência para nos prepararmos e conduzirmos nossos assuntos de tal forma que sejamos considerados dignos de nosso Rei (Mateus 24:42;  Mateus 25:13Lucas 21:36).

O termo fim dos tempos também pode se referir a uma era ou momento específico dentro do próprio fim dos tempos. Apocalipse 20 descreve um longo período de tempo em que Satanás ficará preso por mil anos, antes de ser libertado novamente (Apocalipse 20:1-6). Presumivelmente, haverá pessoas durante esta era em particular que não confiam ou amam a Deus, mas que parecem segui-Lo, porque é a norma cultural. Eles parecerão justos, como apenas parecerão ser bom trigo.

O termo filhos do Reino também pode se aplicar aos gentios. Na medida em que a era dos judeus terminou e se iniciou a era dos gentios, o termo filhos do Reino se ampliou para incluir os gentios crentes em Jesus, bem como os judeus crentes. Em um sentido significativo, os gentios, agora, passam a ter a oportunidade de se tornar filhos do Reino.

Este mistério foi prefigurado e profetizado em todo o Antigo Testamento (Gênesis 25:23; Rute; Isaías 56:3-8; Jeremias 16:19-21Malaquias 1:11; Zacarias 2:11). Foi indicado no ministério de Jesus (Mateus 8:5-13; Mateus 15:21-31Mateus 22:1-14Lucas 23:47João 10:16). E foi revelado durante os eventos de Atos, primeiro com o eunuco etíope (Atos 8:27-40), depois através da visão e visitação de Pedro à família de Cornélio (Atos 10) e mais tarde pelas missões de Paulo e afirmado pelos apóstolos em Jerusalém (Atos 15). Paulo compartilhou sua visão sobre o desdobramento do mistério do Evangelho para a igreja de Éfeso:

"pelo qual, quando ledes, podeis entender o meu conhecimento no mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora, tem sido revelado aos seus santos apóstolos e profetas no Espírito, a saber, que os gentios são coerdeiros, e membros do mesmo corpo, e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho;" (Efésios 3:4-6)

Todos agora têm a oportunidade de serem adotados na família de Deus pela fé (João 1:11-12) e receber uma herança como filhos do Reino por serem fiéis ao Rei (Romanos 8:16-18;  2 Timóteo 2:122 Pedro 1:10-11). A expressão os filhos do Reino pode se aplicar aos crentes gentios adotados como filhos e enxertados na família eterna de Deus (Romanos 11).

Em relação ao termo filhos do Reino e sua aplicação aos gentios na explicação de Jesus sobre a parábola do joio, parece que a colheita do joio e seu lançamento ao fogo está correlacionado com o fato de que Deus julgará os incrédulos gentios, derrotando-os na batalha e usando seus corpos para alimentar as aves de rapina (Apocalipse 19:17-21). No entanto, não parece que todos os incrédulos na terra serão eliminados naquele tempo, apenas aqueles do grande exército que se reunirá para se opor a Jesus.

A aplicação parece se encaixar melhor para aos filhos do Reino no futuro distante do que para os judeus crentes. A parábola de Jesus sobre o trigo e o joio teria, então, uma aplicação profética para Israel.

No ensinamento de Jesus sobre o centurião romano, em Mateus 8:10-12, os gentios fiéis honrados à mesa principal juntamente com Abraão, Isaque e Jacó, não são chamados de "filhos do Reino". Neste caso, Jesus se refere aos "filhos do Reino" como sendo unicamente os judeus. Se, da mesma forma, tomarmos esta parábola do trigo e do joio e a aplicarmos apenas aos judeus, ela pode explicar a predição de Romanos 11 a respeito de Israel:

"Pois não quero que vós, irmãos, sejais desinformados deste mistério — para que não sejais sábios em vossa própria avaliação — de que um endurecimento parcial aconteceu a Israel até que a plenitude dos gentios tenha entrado; e assim todo o Israel será salvo; assim como está escrito, 'O LIBERTADOR VIRÁ DE SIÃO, ELE REMOVERÁ A IMPIEDADE DE JACÓ.'' ESTA É A MINHA ALIANÇA COM ELES, QUANDO EU TIRAR OS SEUS PECADOS.'" (Romanos 11:25-27)

É possível que a declaração "todo o Israel será salvo" seja devido a Israel ter sido limpa de toda injustiça pelo recolhimento e queima do joio, as sementes do maligno. Um remanescente justo de Israel permanecerá. Este remanescente de judeus fiéis são os filhos do Reino. Isso também se alinha com a promessa de Deus em uma bela profecia de Zacarias:

"Porque haverá paz para a semente: a videira produzirá o seu fruto, a terra produzirá a sua produção e os céus darão o seu orvalho; e farei com que o remanescente deste povo herde todas essas coisas. Acontecerá que, assim como foste uma maldição entre as nações, ó casa de Judá e casa de Israel, assim eu te salvarei para que te tornes uma bênção. Não tenhais medo; que as vossas mãos sejam fortes." (Zacarias 8:12-13)

Se os filhos do Reino se referem apenas aos judeus crentes, e não aos gentios, então a diferença para Israel entre o cumprimento num futuro próximo e o cumprimento num futuro distante é focado na questão do momento em que a colheita ocorrerá, um cumprimento de longo prazo criado pelo adiamento de Seu retorno. E esse adiamento gerou um enorme benefício e oportunidade para abençoar a outras bilhões de pessoas. As Escrituras observam que essa extensão de tempo permitiu que um grande número de gentios nascesse fisicamente e recebessem a maravilhosa oportunidade de crer em Jesus e nascer espiritualmente em Sua família (Romanos 11:11-12;  2 Pedro 3:9).

Princípios Gerais da Parábola do Joio

O Novo Testamento apresenta um ensinamento semelhante ao da parábola do trigo e do joio e que pode ser aplicado a todos os crentes, judeus e gentios:

  1. Deus é o verdadeiro juiz. Podemos ser enganados pelas aparências, mas Deus não será enganado ou zombado (Gálatas 6:7). Ele será capaz de peneirar corretamente o trigo do joio (Mateus 13:41). Todas as coisas serão trazidas à luz e tudo o que está oculto será revelado (Mateus 10:26).
  1. A rejeição dos judeus a Jesus como o Messias não anulou essa profecia, mas adiou seu cumprimento. Nem todo o Israel é verdadeiramente Israel (Romanos 9:6). E todo o Israel será salvo (Romanos 11:26).
  1. Deus usou o cumprimento adiado, causado pela rejeição dos judeus a Jesus, para trazer salvação aos gentios (Romanos 1:16;  11:11).
  1. Todos receberão o que merecem no julgamento de Deus (Gálatas 6:7-8;  1 Coríntios 4:5). Os ímpios enfrentarão a Sua ira pelo mal que fizeram (Mateus 13:41-42). Os justos serão recompensados e receberão honra de Deus em Seu Reino por sua fidelidade (Mateus 13:43).

Jesus termina Sua explicação com a admoestação de prestarmos atenção e levar Suas palavras a sério: Aquele que tem ouvidos, ouça.

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