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Significado de Lucas 16:1-9

Jesus conta a Seus discípulos a Parábola do Mordomo Injusto. Trata-se do gerente da propriedade de um homem rico que é demitido por má administração. Sem saber como vai viver, ele inventa um plano astuto. Ele convoca os devedores de seu ex-empregador e se vende como boa pessoa, reduzindo suas dívidas. Por ficarem sob a obrigação moral de pagá-lo, ele acredita que seu futuro esteja seguro. O homem rico o elogia pela maneira como ele inteligentemente usou suas riquezas para se auto beneficiar, encerrando, assim, a parábola e destacando que o objetivo dela: "ser astuto". Jesus, então, observa que os filhos das trevas eram mais astutos em usar a reciprocidade para fazer avançar suas ambições temporais do que os filhos da luz eram em relação às suas ambições eternas. Ele exorta os discípulos a serem astutos, usando uma boa mordomia dos bens terrenos para produzir amigos eternos.

Esta parábola não tem paralelo aparente nos relatos dos outros Evangelhos.

Depois de registrar as parábolas sobre a "Ovelha Perdida" (Lucas 15:4-7), "A Moeda Perdida" (Lucas 15:8-10) e "O Filho Pródigo" (Lucas 15:11-32), Lucas inclui outra parábolas de Cristo, chamada "A Parábola do Mordomo Injusto".

O trio anterior de parábolas havia sido dirigido aos fariseus e escribas (Lucas 15:2-3) e aparentemente foi contado publicamente na presença de cobradores de impostos e pecadores (Lucas 15:1). A Parábola do Mordomo Injusto foi contada por Jesus aos discípulos. Lucas faz essa distinção ao inserir uma breve observação entre o final da parábola sobre o Filho Pródigo e a parábola do Mordomo Injusto.

Agora, Jesus também fala aos discípulos. Este detalhe é significativo porque permite que os leitores saibam que aquela parábola teria uma aplicação direta a Seus seguidores.

Jesus conta a parábola primeiro (Lucas 16:1-8a), antes de explicar sua lição (Lucas 16:8b-9). Este comentário será subdividido de acordo com o seguinte esboço:

  1. A HISTÓRIA DA PARÁBOLA
  2. A LIÇÃO DA PARÁBOLA
  1. A HISTÓRIA DA PARÁBOLA

Jesus introduz Sua parábola descrevendo as duas figuras principais da história e um incidente recente que ameaçava dissolver o relacionamento entre elas.

As duas figuras principais são um homem rico e seu gerente. O homem rico aparentemente possuía uma propriedade que gerava renda a partir da produção agrícola, como trigo e azeite. O gerente era um mordomo de confiança. Ele administrava os negócios da propriedade do homem rico. Parte do trabalho do mordomo de confiança parecia ser emprestar produtos das colheitas do homem rico e coletar os devidos pagamentos. Ele parece ter uma longa lista de clientes que pagavam suas compras de forma parcelada.

Este gerente é denunciado ao homem rico como alguém que esbanjava seus bens. A parábola não implica necessariamente que o gerente era culpado de roubar ou desviar as riquezas de seu senhor. Aparentemente, a acusação era grave e, caso confirmada, o homem rico tomaria a decisão de demitir seu gerente. Verifica-se, ainda, que o mordomo recebe o benefício da dúvida, já que não foi demitido imediatamente. Parece haver uma auditoria.

Então, o homem rico chama a seu empresário e diz: "O que é isso que eu ouço sobre ti? Preste conta de sua gestão, pois não podes mais ser gestor."

O rico exige uma prestação de contas de seu gerente, dando a ele a oportunidade de se livrar das acusações. E ordena que ele preste contas de sua gestão. O homem rico queria auditar a contabilidade e ver se as alegações eram verdadeiras. Ele deixa claro que, caso fossem, o gestor teria seu trabalho encerrado.

Infere-se no relatório que um período de tempo se passou, permitindo a auditoria dos livros. É neste intervalo de tempo que a ação crítica da história acontece. O gestor sabe  que as alegações são verdadeiras e, portanto, sabe que está prestes a perder seu emprego.

Logo após a saída de seu senhor, o gerente pensa consigo mesmo sobre o que fazer. Ele já conhecia o resultado da auditoria. Ele sabia que seria demitido por desperdiçar os bens de seu senhor.

A história permite ao leitor entrar nos pensamentos do gerente em relação ao que precisa fazer para prover seu próprio sustento.

O gerente diz a si mesmo: 'O que devo fazer, já que meu mestre está tirando a gestão de mim? Seu futuro era sua maior preocupação mental. Por causa de sua má gestão, na verdade, corrupta, ele não poderá mais administrar nada para ninguém. Ninguém contrataria um gerente demitido por ter esbanjado os bens de seu patrão.

E assim, ele começa a pensar em alternativas.

Primeiro, ele considera a possibilidade de um trabalho manual no campo. Era um trabalho respeitável. Porém, ele decide deixar de lado esta opção por ser fisicamente muito exigente. Ele diz a si mesmo: "Não tenho forças para cavar". Até aqui, temos que admirar a disposição do mordomo de encarar a realidade. Ele tem uma visão firme dos fatos e não está brincando com a realidade. Ele não apenas reconhece que não está apto a ser contratado como mordomo outra vez, depois de ter sido despedido por má administração. Ele também reconhece não estar apto para o trabalho manual.

Em seguida, ele pensa em mendigar. Como ex-gerente, ele provavelmente tinha conexões com pessoas ricas. Pedir-lhes dinheiro não seria algo tão difícil, não exigiria esforço algum. Porém, ele decide remover esta opção da lista também porque era algo pessoalmente degradante. Ele novamente pensa consigo mesmo: "Tenho vergonha de implorar".

Em seguida, o gerente chega a uma solução sagaz. Ele elabora um plano e imediatamente o coloca em ação. Ele diz para si mesmo: Eu sei o que hei de fazer para que, quando for despedido do meu emprego, me recebam em suas casas. Esta é a chave para entendermos a parábola: precisamos reconhecer que o cálculo do gestor corrupto, porém astuto, era que seu plano faria com que as pessoas o recebessem em suas casas.

Isso significava que, caso seu plano desse certo, as pessoas cuidariam de suas necessidades pelo resto de seus dias. Portanto, era um plano ousado com um enorme potencial de retorno. Veremos que o plano era criar um grande programa de perdão de dívidas, obrigado as pessoas a retribuir ao mordomo injusto, suprindo suas necessidades. Ele alavancaria a obrigação moral de pagamento das dívidas para seu benefício.

O desejo de pagar o que se deve faz parte do projeto humano. É natural retornarmos um sorriso quando alguém sorri para nós e tendemos a revidar quando alguém nos ataca. A reciprocidade era um valor social profundamente difundido no oriente próximo no primeiro século. Esta história infere que, devido às normas sociais daquele período, o plano do gestor obrigaria as pessoas a cuidar dele  pelo resto de seus dias. Sua ação às pessoas seria algo tão substancial e significativo que elas passariam a vida inteira retribuindo à sua gentileza. Ao fazer este cálculo, o mordomo foi extremamente astuto.

Ser astuto significa ser sábio e sagaz - estar um passo à frente dos outros. É a capacidade de entender o que está acontecendo e tomar as medidas necessárias para não ser pego de surpresa quando a situação for alterada. O plano do mordomo criaria um pouso suave quando, inevitavelmente, fosse demitido por seu patrão.

Seu plano era o de beneficiar aos devedores de seu senhor às custas de seu senhor. Tal benefício seria tão substancial que os devedores de seu senhor o receberiam em suas próprias casas. Assim, o gerente convoca a todos os que deviam dinheiro a seu senhor. O fato de ter convocado a cada devedor mostra que o mordomo tinha grande autoridade e continuava a projetá-la.

Ele diz ao primeiro devedor: "Quanto deves ao meu senhor?" O primeiro devedor responde: "Cem medidas de azeite." O valor que o devedor relata pode ter sido exato ou pode ter sido reduzido. O gestor, porém, não contesta sua afirmação. Ele simplesmente aceita a palavra do devedor. Então, De forma surpreendente, o gerente diz ao primeiro devedor: "Pegue sua dívida, sente-se e escreva que você deve apenas cinquenta medidas de azeite".

Agora compreendemos o plano do mordomo: reduzir pela metade o valor devido a seu senhor, uma quantia suficiente para levar os devedores a lhe dever hospitalidade pelo resto de seus dias.

Da mesma forma, o gerente diz a outro devedor: 'E quanto deves?' O devedor responde: "Cem medidas de trigo". Mais uma vez, o gestor simplesmente acredita no devedor e reduz o valor: “Escreva oitenta'.

Observe que o gerente age prontamente. Ele sabe que tinha apenas um breve espaço de tempo e então age com rapidez.

A parábola não descreve explicitamente todos os encontros. Lemos que o gestor simplesmente segue seu padrão de reduzir significativamente as dívidas dos devedores para com seu senhor. Devido a este perdão, os devedores ficavam em dívida com ele por sua generosidade. O gerente astutamente faz com que os devedores de seu antigo senhor ficassem em dívida com ele mesmo. Seu plano, posto em prática através da obrigação social da reciprocidade, levaria aquelas pessoas a acolhê-lo em suas casas assim que ele perdesse seu emprego.

O gerente habilmente adquire um belo pacote de indenização junto aos devedores de seu patrão, sem nenhum custo para si mesmo - embora com grandes perdas para seu mestre.

Por que o mordomo perdoa a apenas uma parte da dívida e não a toda ela? Não sabemos. Talvez ele tenha tido a discricionariedade de determinar uma margem de lucro aceitável para seu mestre. Assim, ao perdoar a apenas uma parte das dívidas, ele apenas reduziria a margem de lucro de seu senhor, algo que estava dentro de sua autoridade fazer. Ele não estava roubando aos bens de seu senhor. Ele estava agindo dentro de sua autoridade. Pode ser que o mordomo tenha recebido a permissão de incluir algum lucro para si mesmo. Ao perdoar a um dinheiro ao qual ele provavelmente não conseguisse recuperar, o mordomo se vende como uma boa pessoa e coleta hospitalidade como reciprocidade por suas ações.

Jesus termina Sua parábola descrevendo o que aconteceu após o mestre descobrir o que seu gerente havia feito. Ainda que o homem rico tenha descoberto que, de fato, o mordomo havia sido corrupto com seus bens e, portanto, deveria ser demitido, ele também fica sabendo do plano do gerente demitido de perdoar as dívidas de seus devedores antes de perder seu emprego. Neste ponto, poderíamos esperar que o homem rico explodisse de raiva e procurasse reverter às ações do mordomo. Porém, não é isso que ele faz. Esta não é a lição da parábola. O homem rico elogia a astúcia de seu gerente. O objetivo da parábola, portanto, é elevar o valor que Deus dá a Seu povo, fazendo investimentos astutos.

O rico elogia a seu funcionário corrupto. O termo grego para “elogio” neste versículo é a palavra "epainō". Ela significa "elogiar", "reconhecer" ou "aplaudir". A razão pela qual o mestre elogia a seu ex-gerente não era por sua justiça ou por seu desempenho administrativo, mas porque ele havia agido com astúcia.

O homem rico reconhece e elogia ao plano astuto e sagaz que seu gerente demitido  havia executado, visando não acabar desabrigado. O mestre sabia que tinha sido enganado. Porém, aparentemente, o mordomo agiu dentro de sua autoridade. Assim, o mestre aplaude à sua astúcia, reconhecendo a seu ex-gerente por sua habilidosa manobra. O mordomo havia encontrado uma forma de se vender aos outros como uma pessoa generosa. Ele “cai de pé” após ser demitido. Sua ação não foi meramente transacional, foi transformadora. O mordomo estabelece uma reciprocidade útil.

Aqui vemos o fim da parábola contada por Jesus a Seus discípulos. Neste ponto, podemos imaginar que os discípulos devam ter ficado confusos. Jesus sabe disso e imediatamente explica a Seus discípulos o significado da história.

  1. A LIÇÃO DA PARÁBOLA

Depois que o mestre elogia ao gerente injusto por agir com astúcia, Jesus começa a explicar aos discípulos a lição da parábola.

Jesus diz:  Porque os filhos desta época são mais astutos em relação à sua própria espécie do que os filhos da luz. E digo-vos: fazei amigos para vós mesmos por meio da riqueza da injustiça, para que, quando ela falhar, vos recebam nas moradas eternas.

Sua explicação consiste em uma Observação e uma Exortação, com uma Promessa. A observação era a de que o mundo entendia bem como se beneficiar usando a reciprocidade, enquanto os filhos do Reino de Deus, não. A exortação era para que Seus discípulos tivessem olhos para ver e começassem a usar seus bens materiais para beneficiar a outras pessoas, para que ganhassem benefícios transformadores de reciprocidade no céu, uma reciprocidade que jamais terá fim.

Os principais termos

As duas categorias de pessoas nesta passagem são: os filhos desta época e os filhos da luz.

Os filhos desta época provavelmente se referem a qualquer pessoa que seguia aos caminhos do mundo, ao invés dos caminhos de Jesus — ou seja, qualquer pessoa que não andasse na luz (1 João 1:5-6), podendo incluir tanto aos incrédulos que não tinham esperança no céu quanto os crentes que estivessem mais interessados nos assuntos terrenos do que na busca pelo Reino de Deus e a harmonia com Cristo.

De qualquer forma, a observação de Jesus de que os filhos desta época são mais astutos do que os filhos da luz enfatiza o uso da lei da reciprocidade pelos sistemas mundiais para alcançarem suas respectivas ambições. A principal admoestação de Jesus para se fazer amigos eternos por meio das riquezas da injustiça altera a aplicação no sentido de abrirmos mão dos ganhos terrenos para priorizarmos os ganhos celestiais.

É interessante notar que a maioria das parábolas de Jesus falam sobre crentes fiéis ou infiéis. No entanto, nesta parábola, Jesus estava encorajando aos fiéis, os filhos da luz, a maximizar suas oportunidades, a buscá-Lo plenamente, a buscar os tesouros eternos e não se distrair com a ilusão das riquezas mundanas. Ele exorta a Seus discípulos fiéis a  alcançar o máximo nesta vida, vivendo-a em preparação para a próxima.

Além disso, Jesus admoesta aos filhos da luz por não serem suficientemente astutos e por não usarem o princípio da reciprocidade. Jesus não precisaria dizer isso caso os filhos da luz já estivessem tomando sua cruz (Lucas 9:23-24) e se esforçando para entrar pela porta estreita (Mateus 7:13-14). No entanto, esta parábola parece ser um treinamento para se fazer investimentos eternos da forma mais astuta possível, um treinamento de otimização do uso de tempo e recursos.

O objetivo de Jesus era o de informar aos crentes que, a menos que fossem astutos, eles não alcançariam o benefício total de estar na luz. Eles não estavam aproveitando a lei da reciprocidade observada no mundo.

A Observação

A observação é que os filhos desta época são mais astutos em relação à sua própria espécie do que os filhos da luz.

O ponto principal desta parábola é entender como aplicar o princípio da reciprocidade. Os filhos desta época entendem a reciprocidade e a usam consistentemente a seu favor. Para usar exemplos contemporâneos, os vendedores dão presentes e viagens às pessoas com quem esperam negociar. Grupos de interesse especial fazem doações às campanhas políticas de quem esperam obter favores. Os homens investem dinheiro com as mulheres na esperança de obter um retorno romântico da parte delas. O sistema mundial é cheio de manipulações baseadas na reciprocidade. Os filhos desta época compreendem e usam este princípio com grande eficácia.

No entanto, enquanto os filhos desta época entendem bem como empregar o princípio da reciprocidade, os filhos da luz, não. Jesus usa esta parábola para instruir aos discípulos sobre como serem astutos e se beneficiarem, usando a este princípio de forma espiritual da forma como Deus deseja. A conclusão é: Deus deseja que Seu povo use todos os bens materiais que Ele nos confiou como bons mordomos, a fim de beneficiarmos a Seu povo. Quando o fizermos, criaremos enormes benefícios para nós mesmos, experimentados na próxima vida. O mordomo astuto conseguiu que as pessoas o hospedassem em suas casas terrenas pelos poucos anos que lhe restavam. Jesus, porém, implora aos discípulos a servir às pessoas de uma maneira tão intensa que elas não conseguirão retribuir nesta vida. A retribuição, portanto, será recebida nas moradas eternas.

Quando os crentes usam os bens materiais que lhes são confiados para servir aos outros, esperando as recompensas de Deus, eles alcançam um benefício surpreendente: a reciprocidade do Céu àqueles a quem ajudamos. Somos levados a crer que haverá um grande memorial eterno àqueles a quem ajudamos, bem como benefícios eternos decorrentes da ajuda.

Nesta passagem, o termo “filhos da luz” refere-se àqueles que creem em Jesus. Eles fazem parte da família de Deus. Eles têm a vida eterna porque creem em Jesus (João 3:16).

Para saber mais sobre como se tornar um filho da luz, veja o artigo Temas Difíceis: "O que é a Vida Eterna? Como receber o Presente da Vida Eterna."

Como membros da família eterna de Deus, os filhos da luz devem seguir a Jesus e buscar Seu Reino e Sua Justiça (Mateus 6:33; Lucas 12:31). Eles devem tomar sua cruz diariamente para segui-Lo (Lucas 9:23). Eles devem andar pela fé e não pela vista (2 Coríntios 5:7). Alguns dos filhos da luz são astutos e fazem essas coisas. Por que? Porque são astutos. Fazemos bem em procurar fazer isso. Se tivermos a compreensão adequada, enxergaremos a relevância disso. É esta compreensão adequada, uma verdadeira perspectiva da realidade, que Jesus procura transmitir a Seus seguidores. Quando deixamos de fazer isso, perdemos benefícios enormes.

Como parte de seguir aos caminhos de Deus, os filhos da luz devem reconhecer que são mordomos, tendo ao Senhor como seu Mestre. Todos os nossos bens materiais pertencem a Deus. Não levaremos nenhum bem material para o próximo mundo. Deus deseja que "gastemos" nossos bens com os outros. Ele deseja que usemos Seus bens materiais, confiados à nossa mordomia, a fim de beneficiar aos outros. Ao fazermos isso, seremos astutos e obteremos enormes benefícios eternos. Quando chegarmos ao céu, aqueles a quem nos beneficiamos nesta vida nos receberão em seus lares eternos.

No entanto, escolher esta perspectiva e, consequentemente, ser capaz de ver esses benefícios, requer uma série de mudanças de atitude:

  • Devemos reconhecer que tudo pertence a Deus.
  • Devemos reconhecer que tudo o que está em nossa posse é Dele.
  • Devemos reconhecer que nossa escolha fundamental na mordomia é decidir a quem servir.
  • Devemos reconhecer a natureza fugaz de nossos bens materiais. Como o gestor astuto, devemos ter um senso de urgência, sabendo que o tempo de nossa administração terrena é breve (Tiago 4:14).
  • Devemos decidir que um benefício eterno e transformador é melhor do que um benefício temporal e transacional.

Infelizmente, parece que tal entendimento é raro. Tipicamente, os filhos da luz não são astutos e não fazem essas coisas. Muitos filhos da luz perdem o Reino e caminham pela estrada larga e entram pela porta larga que leva à destruição (Mateus 7:13-14; Lucas 13:24). Muitos filhos da luz são como as sementes que caem ao lado da estrada, no solo rochoso e entre os espinhos, produzindo pouco ou nenhum fruto (Mateus 13:3-7; Marcos 4:3-7Lucas 8:5-7). Apesar de receberem o dom da vida eterna e serem membros da família eterna de Deus, muitos filhos da luz não seguem a Jesus. Eles procuram estabelecer seus próprios reinos, como fazem os filhos deste mundo, em vez de construírem o Reino de Deus. Jesus implora a Seus discípulos que sejam astutos e saibam como se beneficiar de uma maneira real, duradoura e transformadora. Isso ocorre quando vemos os bens materiais como temporais e pertencentes a Deus, e usamos esses bens para beneficiar a outros.

Parte da perda dos verdadeiros benefícios do Reino é entender mal a melhor forma de administrar nossos bens materiais. Quando usamos nossos bens materiais para ajudar a outros, acumulamos enormes recompensas no céu. Jesus se refere a este princípio muitas vezes nos relatos do Evangelho (Mateus 6:19-20, 19:21; Marcos 10:21Lucas 12:33, 18:22). Aqui, no entanto, Jesus revela que parte deste tesouro será a reciprocidade celestial que ganharemos daqueles a quem servimos. Esta é uma reciprocidade eterna! É transformacional e não meramente transacional.

Jesus observa que os filhos daquela época eram mais espertos em usar a reciprocidade para alcançar a seus próprios tesouros do que os filhos da luz.

Os tipos de tesouros que os filhos desta época buscam são temporais e terrenos - dinheiro, poder, status, privilégio, etc. Os tipos de tesouros que os filhos da luz buscam são eternos e celestiais — tesouros no céu, posições de autoridade no Novo Céu e na Nova Terra, aprovação Divina, glória eterna, verdadeiro significado, comunidade eterna, etc.

Os filhos desta época entendem o que devem fazer para conquistar seus tesouros. Eles prestam atenção, eles manobram, eles tomam medidas ponderadas para vencer.

Os filhos da luz são menos astutos porque lhes falta: 1. Fé; 2. Conhecimento; ou 3. Perseverança.

  1. Eles não creem que Deus é dono de todas as coisas. Eles se veem como donos do que possuem.
  2. Eles não conhecem ou creem na palavra de Deus ou entendem as incríveis oportunidades diante deles.
  3. Eles desanimam e não têm paciência para continuar buscando aos tesouros eternos quando os tesouros temporais estão bem diante deles.

Jesus constantemente ensinou e encorajou aos discípulos e a outros filhos da luz a buscarem os tesouros eternos. Um exemplo disso é Mateus 6:20: "Mas, guardai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem destroem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam". Outros incluem: Mateus 13:44; Lucas 12:33Lucas 12:43-44; Lucas 18:22Lucas 18:29; Apocalipse 3:18.

Paulo também transmite algo muito semelhante sobre este ensinamento:

"Pois a aflição momentânea e leve está produzindo para nós um peso eterno de glória muito além de qualquer comparação, enquanto olhamos não para as coisas que são vistas, mas para as coisas que não são vistas; porque as coisas que são vistas são temporais, mas as coisas que não são vistas são eternas" (2 Coríntios 4:17-18).

Muitos filhos de luz carecem de astúcia porque não têm fé e não creem no que Jesus oferece. Muitos não entendem o incrível significado desses e de outros ensinamentos. Ou simplesmente se distraem ou se cansam de fazer o bem, conformando-se aos caminhos deste mundo.

Quando nos distraímos, perdemos de vista as imensas recompensas disponíveis no céu.

A menos que nos tornemos mais astutos, é provável que percamos todas as recompensa por ignorância ou apatia. Não saberemos disso até o dia do juízo. Corremos o risco de acabar como as damas de honra que perderam a festa de casamento por não terem azeite (Mateus 25:1-13). Corremos o risco de estar entre os filhos do Reino que perdem o banquete e, em vez disso, são lançados na escuridão exterior (Mateus 8:11-12). Corremos o risco de nos tornar como o homem que observa tudo o que possuía ser queimado no Juízo de Cristo, sendo salvo por meio do fogo (1 Coríntios 3:15). Porém, será tarde demais.

Jesus não faz tal observação para admoestar aos filhos desta época a buscarem um tesouro melhor. Ele estava abordando a Seus discípulos, não aos incrédulos. Ele não estava dizendo a Seus discípulos que buscassem aos mesmos tesouros terrenos buscados pelos filhos desta época. Em Seu Sermão da Montanha, Jesus repetidamente lhes diz para não buscarem tesouros temporais (Mateus 6:1; 6:2; 6: 5; 6:16; 6:19-20).

A razão pela qual Jesus faz tal observação sobre os filhos desta época e os filhos da luz era porque Ele estava exortando Seus seguidores a se tornarem mais astutos em suas ambições, tal como os filhos desta época eram astutos. Ele desejava que Seus discípulos alcançassem tesouros duradouros. Aqui, Jesus exorta os discípulos a ver seus bens materiais como pertencentes a Deus e "gastá-los" para beneficiar a outros, a fim de que os destinatários de seus serviços os recebessem nas moradas eternas.

A Exortação e a Promessa

Depois de fazer a observação de que os filhos desta época são mais astutos em relação às suas próprias ambições do que os filhos da luz, Jesus os exorta.

Implicitamente, Ele os exorta a se tornar astutos como os filhos desta época. Ele desejava que eles usassem o princípio da reciprocidade para benefícios duradouros no céu. Jesus queria que eles olhassem para seus bens materiais como pertencentes a Deus, algo ao qual eles deveriam administrar. Porém, Ele desejava que eles enxergassem o desejo de Deus de que eles "gastassem" Seus bens, beneficiando e servindo aos outros.

Explicitamente, Jesus exorta aos filhos da luz a fazer amigos para si mesmos. Jesus desejava que Seus discípulos abençoassem aos outros, investissem nos outros, servissem ao próximo. Qualquer uso das riquezas materiais é um uso das riquezas de Deus, já que tudo pertence a Ele.

Jesus faz esta exortação na certeza de Sua autoridade divina.

A expressão Eu vos digo era uma maneira de os rabinos judeus acrescentarem peso ao que ensinavam. Porém, ao invés de dizer “Eu vos digo” eles diziam: "Como diz o rabino fulano". Ao citar a um rabino conhecido e venerado, eles mostravam como suas teses estavam em harmonia com as de grandes rabinos; assim, suas palavras também deveriam ser aceitas e aplicadas. Jesus raramente ensinava assim. Em vez disso, Ele se refere muitas vezes à Sua própria autoridade (Mateus 5:18; 5:20; 5:22; 5:28; 5:32; 5:34; 5:39; 5:44; 6:2; 6:5; 6:16; 6:29; 8:10: 8:11; 10:15; 10:23; 10:42; 11:24; 12:6; 12:31; 12:36; 13:17; 16:18; 16:28; 17:12; 17:20; 18:3; 18:10; 18:13; 18:18; 18:19; 18:22; 19:9; 19:23; 19:24; 19:28; 21:43; 23:36; 23:39; 24:2; 24:25; 24:34; 24:47; 26:13; 26:21; 26:34).

Sua maneira de ensinar surpreendia ao povo (Mateus 7:28-29) porque era ousada e soava presunçosa. Pelo fato de Jesus ser o Messias e ser Deus, não havia autoridade superior à qual Ele pudesse apelar. Portanto, era apropriado que Ele ensinasse dessa maneira. Toda vez que Jesus o fazia, Ele destacava Seu selo divino e garantia o que ensinava. Quando essa garantia divina é seguida de uma promessa (como acontece nesta passagem), ela funciona como uma assinatura no final de um contrato.

O que Jesus quis dizer com Sua exortação explícita aos filhos da luz para que fizessem amigos para si mesmos por meio da riqueza da injustiça é que eles usassem astuciosamente suas riquezas materiais neste mundo para abençoar e servir a outras pessoas. As riquezas pertencem a Deus e Ele deseja que a usemos para beneficiar aos outros. Ao fazê-lo, nos beneficiamos. Neste caso, a recompensa de Deus vem através daqueles a quem abençoamos e servimos com nossos bens materiais, e eles nos receberão nas moradas eternas. Eles nos acolherão e concederão hospitalidade não apenas por nossa curta vida aqui nesta Terra, mas para sempre.

O termo “riqueza dos injustos” significa simplesmente as riquezas deste mundo. São os bens temporais almejadas por aqueles que pouco ou nada se importam com Deus, incluindo dinheiro e outras riquezas materiais, como casas, alimentos ou propriedades. Também pode incluir status social, poder ou influência. Essas riquezas são descritas como injustas, não porque sejam inerentemente más ou porque são alcançadas por meios ilícitos (a malignidade é amar ao dinheiro — 1 Timóteo 6:10). Essas riquezas são descritas como injustas por não terem valor eterno. Podem ter algum valor neste mundo, mas um dia elas se acabarão. E quando acabarem, serão inúteis.

Jesus exorta a Seus seguidores a fazer uso astuto das coisas temporais, antes que elas percam seu valor.

A razão pela qual isso é uma atitude astuta é porque podemos nos aproveitar das riquezas de valor limitado e de curta duração usando-a de forma a produzir benefícios e bênçãos eternas.

Isso é semelhante ao que o gerente injusto faz na parábola. O gerente aproveita-se das dívidas das pessoas - dívidas que não tinham valor inerente ou duradouro ao gerente - e fazia amizade com esses devedores no curto espaço de tempo.

Jesus estava exortando Seus discípulos a serem como aquele administrador injusto a este respeito: usar astuciosamente seus tesouros terrenos, sem valor eterno, para abençoar generosamente às pessoas e fazer amigos eternos que os receberão em seus lares eternos.

A exortação vem com uma recompensa: Para que te recebam em seus lares eternos.

A frase “receber nos lares eternos” pode ser uma figura de linguagem da parábola ou uma aplicação literal de como será a vida no Novo Céu e na Nova Terra.

Na parábola, o gerente injusto cancela grande parte das dívidas devidas a seu senhor  como forma de fazer amizade com os devedores de seu senhor, para que eles o acolhessem e o recebessem em suas casas quando ele não estivesse mais empregado.

Parece provável que não se tratava simplesmente de uma figura de linguagem e que há algo específico e concreto na analogia de Jesus. Parece que uma parte do tesouro que depositamos no céu por meio das boas ações feitas na terra inclui receber a gratidão daqueles a quem servimos na próxima vida.

Considere o que Jesus e os escritores bíblicos dizem sobre a vida no novo céu e na nova terra.

Locais de Moradia

Em outro lugar, Jesus promete aos discípulos que na casa de Seu Pai havia muitas moradas (João 14:2). Parte da razão pela qual Jesus retornou ao céu é para preparar lugar para os que estarão com Ele por toda a eternidade (João 14:3). Aparentemente, haverá moradas reais no Novo Céu e na Nova Terra onde as pessoas viverão. É evidente que as pessoas apreciarão hospedar uns aos outros nessas moradas. Aqueles que prestaram ajuda na vida na terra serão proeminentes nas listas de convidados.

A Nova Jerusalém

O Novo Céu e a Nova Terra também serão um lugar de negócios e comunidade. Haverá uma Nova Jerusalém (Apocalipse 21:10) onde os reis e rainhas entrarão e sairão trazendo consigo sua glória e o fruto de seu trabalho (Apocalipse 21:24-25). Haverá culturas e nações redimidas na Nova Terra e todos trabalharão em harmonia com Deus e compartilharão Sua glória com Seu povo (Apocalipse 21:26).

O quadro que esta passagem do Apocalipse apresenta é uma comunidade multicultural de nações, todas vivendo sob a unidade da ordem perfeita de Deus, onde algumas pessoas reinarão com Deus. Haverá muitos deslocamentos lá. Quando viajamos para longe de casa, precisamos de um lugar para ficar. O Novo Céu e Nova Terra não parece ser diferente do nosso mundo neste aspecto. Também parece razoável que uma parte da glória desses reinos envolva eventos e pessoas acolhidas nessas moradias.

Relacionamentos Eternos

A Bíblia também nos ensina que na vida vindoura nos lembraremos das pessoas que conhecemos nesta Terra (2 Samuel 12:23; Lucas 16:19-25). Teremos relacionamentos redimidos (1 Coríntios 13:12; Hebreus 12:22-23). Todas as mágoas e ofensas serão perdoadas e seremos reconciliados por meio de Cristo — toda a nossa dor passará (Isaías 65:16-17; Apocalipse 21:4). Nossas memórias terrenas serão redimidas (1 Coríntios 3:14). Os crentes se conhecerão no novo Céu e na Nova Terra (Mateus 26:29). Crentes como Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e Elias são e serão reconhecíveis na vida futura (Mateus 8:11; Lucas 13:28-29Marcos 9:4-5). Assim será com todos os crentes.

Tomadas em conjunto, essas passagens e outras mencionadas abaixo, sugerem fortemente que seremos capazes de recordar as memórias de nosso tempo juntos na Terra. As pessoas no Novo Céu e na Nova Terra se lembrarão da bondade concedida a elas. E, aparentemente, na vida que está por vir, estarão ansiosas por retribuir às gentilezas. Uma das maneiras de alcançarmos isso é receber as pessoas em seus lares celestiais (moradas eternas), conforme Jesus ensina nesta parábola.

Este pensamento notável é um exemplo específico ensinado por Jesus a Seus discípulos em Lucas 14 sobre como tratar aos pobres e esquecidos — pessoas que não têm meios terrenos para retribuir materialmente nossa bondade.

"Mas, quando derdes uma recepção, convidai os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos, e sereis abençoados, pois eles não têm meios para vos retribuir; porque sereis recompensados na ressurreição dos justos" (Lucas 14:13-14).

Se formos uma bênção para aqueles que não podem nos pagar nesta vida, Jesus ensina que eles ficarão felizes em nos retribuir na vida futura. E, de acordo com o ensinamento de Jesus sobre a Parábola do Gestor Injusto, uma das maneiras pelas quais eles podem nos retribuir é recebendo-nos em suas moradas celestiais. Isso também pode ser parte do estabelecimento de "um bom alicerce para o futuro" que Paulo ensina a Timóteo ao exortá-lo a "instruir aqueles que são ricos neste mundo presente... ser generoso e estar pronto a partilhar" (1 Timóteo 6:17-18). Este tipo de recompensa não é transacional, mas transformacional.

Algo fascinante dos ensinamentos de Jesus na parábola do Gerente Injusto e Lucas 14:13-14 é que os filhos da luz  podem abençoar e recompensar uns aos outros no Céu. Nem toda recompensa e bênção concedida na vida futura vem diretamente das mãos de Deus. Como ocorre nesta vida, os crentes serão capazes de abençoar uns aos outros com seus dons e posses do lado de lá.

É bom lembrar que os últimos nesta vida serão os primeiros na próxima (Lucas 13:30). Isso pode incluir as viúvas fiéis, órfãos e pobres que sejam membros da família de Deus — aqueles que esta época considera como "os menores" (Mateus 25:40).

Não podemos levar nossas riquezas terrenas conosco para o céu. Os tesouros terrenos não são eternos. Porém, podemos usar as riquezas desta época para fazer amigos eternos. Se formos astutos, levaremos a sério a exortação de Jesus e usaremos nossas riquezas injustas para fazer amigos eternos.

Pessoas são mais importantes do que dinheiro. E a maneira como usamos nossas riquezas injustas é valorizar, amar e servir aos outros. Paulo ordena aos efésios que trabalhem para que possam ter algo a dar como bênção aos outros (Efésios 4:28).

A exortação de Jesus está relacionada tanto à "regra de ouro" (Mateus 7:12) quanto ao segundo maior mandamento (Mateus 22:39; Marcos 12:31). É outra maneira de irmos além dos limites (Mateus 5:41) ou de dar a uma pessoa nossa camisa e nosso casaco também (Mateus 5:40).

Nossa generosidade não deve ser apenas direcionada a fazer coisas muitas vezes percebidas como "desagradáveis". Podemos (e devemos) também ser generosos em nossa hospitalidade, serviço e lazer. Podemos partilhar os produtos das nossas vinhas. Podemos convidar pessoas para ficar em nossas casas. Podemos servir-lhes refeições. Podemos fazer festas para celebrar seus sucessos e bênçãos.

Corações grandes e generosos sempre fazem amigos (Provérbios 11:24-25; 28:27). Isso é verdade, mesmo que alguém não seja particularmente "rico" quanto ás riquezas desta época. Sabemos que não tem a ver com quantidade, mas com o coração (Lucas 21:1-4, 2 Coríntios 9:6-7). Não importa se temos muito ou pouco, podemos dar graciosamente uns aos outros, construindo comunhão e cultivando relações harmoniosas uns com os outros.

Devemos usar com astúcia o que temos e ser gentis com outras pessoas, fazendo amizade com elas. Jesus nos ensina que uma das razões para fazermos isso é que elas nos recompensarão com seus tesouros e posses eternas no Novo Céu e na Nova Terra.

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