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Significado de Lucas 3:10-14

Depois das intensas advertências de João, as multidões vêm até ele perguntando o que deveriam fazer para receber o perdão e evitar a ira por vir. João diz a eles que coloquem em prática o mandamento de Deus de amar ao próximo como a si mesmos, sendo generosos com seus bens. Quando alguns cobradores de impostos e soldados chegam e fazem a João a mesma pergunta, João lhes dá uma resposta semelhante.

Não há paralelo aparente desta passagem nos outros Evangelhos.

Depois de apresentar a mensagem principal de João Batista – o "batismo de arrependimento para perdão de pecados" (Lucas 3:3) - e depois de demonstrar a intensa repreensão de João aos líderes religiosos que estavam entre as multidões que haviam vindo até ele (Mateus 3:7-10; Lucas 3:7-9), Lucas relata a resposta da multidão ao pregador no deserto:

E as multidões o questionavam, dizendo: "Então o que faremos?" (v. 10).

Especificamente, a multidão pergunta a João o que deveriam fazer em resposta ao que ele acabara de lhes dizer:

"Não comecem a dizer a si mesmos: 'Temos a Abraão por nosso pai'; pois eu vos digo que destas pedras Deus é capaz de criar filhos para Abraão. De fato, o machado já está colocado na raiz das árvores; assim, toda árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo'" (Lucas 3:8-9).

Para um judeu, toda a sua identidade e sensação de segurança estava envolta pela promessa de que eram filhos de Abraão. A promessa da aliança que Deus havia estabelecido com Abraão, de que o abençoaria e o protegeria, bem como a seus descendentes, estendia-se a eles. Alguns judeus, incluindo muitos líderes religiosos, haviam tomado a promessa de Deus como uma espécie de justificativa para suas próprias responsabilidades sob a aliança.

Em vez de seguirem a Deus pela fé, como havia feito seu pai Abraão, sendo obedientes à aliança à qual haviam prometido seguir, eles haviam distorcido e manipulado as leis e promessas de Deus para extorquir às pessoas e justificar-se em nome de Deus. A aliança de Deus claramente explicitava as consequências para a desobediência (Deuteronômio 28:15-68). No entanto, eles viam apenas o que queriam ver e ouviam apenas o que queriam ouvir.

Quando João lhes diz que precisavam se arrepender (mudar sua perspectiva para a perspectiva de Deus e ajustar suas ações), bem como dar bons frutos para evitar um julgamento doloroso, as multidões ficaram alarmadas, com razão. Elas não deveriam ter ficado surpresas, haja vista que o pacto de Deus com Israel estabelecia claramente quais eram suas responsabilidades antes receberem as bênçãos prometidas. Jesus resume tais responsabilidades em amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmos (Mateus 22:37-39).

Parece que João abalou os alicerces de seu pensamento de que ser filhos de Abraão era suficiente para poupá-los do iminente julgamento. João nem mesmo precisaria explicar-lhes isso, dadas as consequências explicitadas na parte das "maldições" da aliança/tratado com Deus (Deuteronômio 28:15-68). Porém, parece que o povo, agora, entende que seu curso de ação atual era insuficiente e que eles não estavam dando bons frutos – então o que deveriam fazer? O que os salvaria daquele resultado indesejável?

Pelo fato de crerem ser João um profeta e até mesmo de perguntarem em seus corações se ele era o Messias (Lucas 3:15), as pessoas naturalmente questionaram: Então, o que faremos?"

A multidão fez a pergunta certa.

Ao receber a pergunta, João responde da seguinte maneira: "O homem que tem duas túnicas deve partilhar com aquele que não tem nenhuma; e aquele que tem comida deve fazer o mesmo" (v. 11).

A resposta de João foi, essencialmente, a mesma do ensinamento de Jesus comumente referido como a "regra de ouro". Jesus diz:

"Em tudo, portanto, trate as pessoas da mesma maneira que você quer que elas te tratem, pois esta é a Lei e os Profetas" (Mateus 7:12).

A resposta de João alinhava-se com o provérbio:

"Não retenhais o bem àqueles a quem é devido, quando estiver em vosso poder fazê-lo. Não diga a teu próximo: 'Vai, e volta, e amanhã eu darei', quando tiver isso contigo.” (Provérbios 3:27-28).

Ao ensinar as pessoas a compartilhar sua segunda túnica ou seu alimento extra com aqueles que não tinham nada, João estava apontando às pessoas maneiras práticas de cumprir ao segundo maior mandamento:

"Amarás o teu próximo como a ti mesmo; Eu sou o SENHOR". (Levítico 19:18b)

Em outras palavras, ao invés de distorcerem as leis de Deus para manipular e extorquir uns aos outros, eles deveriam obedecê-las. Este ensinamento vinha diretamente do pacto/tratado de Deus com Israel, no qual Ele prometia que Israel seria abençoado caso seguisse a Suas leis. Grande parte das bênçãos seria a consequência natural de seguirem a Seus mandamentos; uma sociedade/equipe/organização que se trata de forma respeitosa e amorosa será naturalmente muito superior àquela que segue a moral pagã da exploração mútua.

E tudo começa com a consideração do próximo e suas necessidades, procurando as oportunidades dadas por Deus para servi-lo.

Alguns, hoje, se equivocam com o conselho de João de que aquele que tinha duas túnicas deveria compartilhar com aqueles que não tinham nenhuma; essas pessoas veem isso como um suporte para um sistema político de redistribuição de renda, como faz o comunismo. No entanto, a admoestação de João apenas se aplica à generosidade voluntária.

O comunismo é um sistema onde o governo dita o quanto o povo comum pode possuir. Por meio da coerção, o sistema retira daqueles que julga ter mais do que o valor alocado e redistribui parte àqueles que deseja favorecer, ficando com o restante.

Como a redistribuição é forçada, o comunismo não compartilha com o próximo no sentido bíblico. O comunismo ensina a virtude da generosidade ou do amor negando às pessoas os bens com os quais elas podem vir a ser generosas. O comunismo produz inveja em relação a quem tem mais do que nós. Isso é o oposto do amor. A inveja, assim, dá poder ao governo para tirar de uns e dar a outros. Isso é o oposto de ser generoso com o que temos, compartilhando com aqueles que não têm nada.

A política de redistribuição de renda forçada do comunismo se insurge contra a generosidade e o amor ensinados por João Batista e pela Bíblia:

"Quem rouba não deve mais roubar; mas deve trabalhar, realizando com as próprias mãos o que é bom, para que tenha algo a compartilhar com quem tem necessidade" (Efésios 4:28).

Devemos tratar os outros como gostaríamos de ser tratados, mas o que possuímos é nosso. Devemos ver ao próximo em sua necessidade, amá-lo e compartilhar nossas túnicas e nosso alimento com os que não têm nenhum, porém a escolha de fazer isso é nossa. Devemos fazer o mesmo com todas as nossas propriedades, incluindo nosso tempo, nosso dinheiro, etc., porque se não o fizermos, enfrentaremos o julgamento de Deus.

Se amarmos ao próximo como amamos a nós mesmos, confiarmos em Deus e formos generosos com nossos bens, "daremos bons frutos" (Lucas 3:9), evitando, assim, "a ira vindoura" (Lucas 3:7).

Antes de continuar, devemos ressaltar que João não estava falando sobre como receber o “Dom da Vida Eterna". Ele não estava falando sobre esse tipo de salvação, a justificação na presença de Deus. Os judeus tinham um problema diferente: eles pensavam que, por serem o povo de Deus, estavam imunes às consequências de seus pecados. João os remove desta falsa confiança e deixa claro que suas escolhas tinham consequências diante de Deus.

João provavelmente descreve aqui o que significava ser um participante de direito no Reino de Deus. O que João discute nesta passagem é apontado em outra parte das Escrituras como herdar o prêmio (Filipenses 3:12-14; Hebreus 12:14-172 Pedro 1:4-9).

"O Dom da Vida Eterna" é unicamente baseado na graça de Deus – ele é gratuitamente concedido (João 3:14-15). O recebimento desta dádiva não tem nada a ver com nossas obras, ou com nossa generosidade. Ela é recebida através da fé em Jesus Cristo como Filho de Deus (João 3:16; Efésios 2:8-9).

Todo crente pertence eternamente à família de Deus. Ele jamais perde seu status de filho de Deus (João 10:28-29, Romanos 8:31-39). Todo aquele que crê em Jesus nasce para a vida eterna como filho de Deus (João 3:16) e está eternamente salvo do eterno Lago de Fogo. Seu futuro eterno com Deus está seguro por causa da obra de Cristo. Ele é filho do Reino. Este é um grande conforto. Os crentes não precisam se preocupar com a pergunta sobre onde passarão a eternidade após suas mortes, porque receberam a graça da vida eterna por meio da fé em Cristo e em Seu sacrifício (Efésios 2:8-9).

No entanto, embora a fé em Cristo nos garanta salvação da condenação eterna no Lago de Fogo, ela não garante que entraremos e receberemos nossa herança no Reino dos céus. Podemos ser excluídos da honra (sendo lançados na escuridão exterior) e experimentar decepção (choro e ranger de dentes). É preciso uma fé obediente para alcançarmos a recompensa da honra (Mateus 5:19-20, 7:13-14; 1 Coríntios 3:11-15Filipenses 3:7-14; 2 Timóteo 2:10-13Hebreus 10:35-12:17; Tiago 2:14-261 Pedro 1:3-9; 2 Pedro 1:4-12Apocalipse 2:26, 3:21, 21:7; Romanos 2:7).

Jesus ensina que a vida eterna é um dom oferecido gratuitamente com base na fé Nele (João 3:16). Ele também ensina que nossa entrada no Reino é uma recompensa reservada apenas aos crentes fiéis em fazer a vontade de Seu Pai (Mateus 7:21; João 3:3).

Para saber mais sobre o que a Bíblia diz sobre esse dom, veja nosso artigo: "O que é a Vida Eterna? Como Ganhar o Dom da Vida Eterna."

Para saber mais sobre o que a Bíblia diz sobre "Herdar o Prêmio", veja nosso artigo: "Vida Eterna: Receber o Dom vs Herdar o Prêmio".

Pois bem. As multidões haviam feito a pergunta “o que faremos?” em resposta às advertências de João. O profeta responde que eles deveriam viver o mandamento de amar ao próximo como amavam a si mesmos. Agora, Lucas menciona dois outros grupos específicos de pessoas que também haviam vindo até João para perguntar-lhe sobre como deveriam viver.

O primeiro grupo era formado por alguns cobradores de impostos (v. 12) e o segundo grupo por alguns soldados (v. 14).

Antes de continuarmos, devemos considerar o que significava o termo “alguns soldados” usado por Lucas. Especificamente, qual era a filiação desses soldados? Há três possibilidades prováveis:

  • A primeira possibilidade é que esses soldados fossem soldados romanos, ou "legionários". Se assim fosse, estariam sob a autoridade do governador romano, Pôncio Pilatos. Pilatos tinha suas cortes estacionadas na capital romana da Judéia, na Cesaréia Marítima, localizada na costa do Mediterrâneo. Essas cortes viajavam com o governador durante deus deslocamentos por toda a província. As outras cortes estariam estacionadas em Jerusalém, na Fortaleza Antônia. Esses soldados eram gentios e cidadãos romanos que provavelmente haviam sido recrutados nas províncias de língua grega na metade oriental do Império Romano. Seus superiores provavelmente eram da Itália ou da própria cidade de Roma.
  • A segunda possibilidade é que esses soldados fossem soldados de Herodes Antipas. Herodes Antipas, o tetrarca do distrito da Galiléia, na Judéia, havia recebido seu próprio exército de soldados que o protegia e servia como auxiliares no apoio às legiões romanas. De acordo com o antigo historiador judeu Josefo, Herodes e seu pai, Herodes, o Grande, recrutavam muitas de suas tropas nas cidades romanizadas da Cesaréia Marítima e Séforis, localizadas perto de Nazaré, na Galiléia. Os soldados de Herodes ficavam concentrados na Galiléia e em sua capital distrital, Tiberíades, na costa ocidental da Galiléia. Os soldados de Herodes provavelmente consistiam de judeus e mercenários gentios – porém, sua afiliação cultural era pagã e sua lealdade servia aos interesses romanos.
  • Uma terceira possibilidade para esses soldados era a Guarda do Templo. Roma havia permitido que os judeus mantivessem sua própria força militar local para fazer cumprir as leis no templo de Jerusalém. Esses soldados eram inteiramente judeus e durante o ministério de João Batista estariam sob a autoridade de Anás ou Caifás, o sumo sacerdote (Lucas 3:2), portanto, filiado aos saduceus.

Lucas não especifica qual desses três tipos de soldados vieram a João. No entanto, é razoável especular que eles eram soldados de Herodes ou soldados pertencentes à guarda do templo, já que o ministério de João era direcionado a Israel. Seria incomum, ainda que não impossível, que os soldados romanos procurassem um radical judeu no deserto. Devemos deixar em aberto a possibilidade de os soldados pertencerem a qualquer uma dessas três filiações, mas a mais provável é a Guarda do Templo, soldados judeus submetidos a Herodes.

Talvez Lucas, que registra isso sob a orientação do Espírito Santo, não tenha especificado a classe de soldados intencionalmente, já que a resposta de João teria se aplicado a qualquer um desses tipos de soldados.

O outro grupo, os cobradores de impostos, eram particularmente desprezados pelos judeus da época de João Batista. A maioria dos judeus naturalmente supunha que não haveria lugar no Reino de Deus para os cobradores de impostos, aos quais eles viam como traidores dos descendentes de Abraão pela cobrança de impostos para Roma. Um judeu típico lançava um olhar suspeito aos soldados pró-saduceus da Guarda do Templo; ele tinha pelos soldados herodianos o mesmo desprezo que sentia pelos coletores de impostos – eles eram traidores da Judéia. A maioria dos judeus sentia fortemente que os soldados romanos eram inimigos de Israel. Na opinião comum dos judeus da época de João, tanto os coletores de impostos quanto os soldados herodianos estavam irremediavelmente desqualificados para o jantar à mesa do banquete de Abraão no reino vindouro. Dependendo de como as pessoas viam os saduceus e os principais sacerdotes, os soldados da Guarda do Templo podiam ser perigosos.

Talvez os cobradores de impostos e os soldados também se sentissem desqualificados e distantes demais para que Deus aceitasse seu arrependimento e permitisse que participassem de Seu Reino. Porém, eles tinham fé e fizeram a pergunta a João.

João não os afastou nem lhes disse para abandonarem suas profissões. Ele os instrui a se arrepender, fazendo aos outros o que gostariam que os outros fizessem a eles dentro dos contextos de suas profissões. Em outras palavras, eles também poderiam fazer parte do Reino de Deus e serem considerados filhos de Abraão caso tivessem fé para viver o mandamento de Deus de amar ao próximo como amavam a si mesmos. Notavelmente, sua oportunidade de entrar no Reino era a mesma de todos os outros – nem mais, nem menos.

E alguns publicanos também vieram a ser batizados, e disseram-lhe: "Mestre, o que faremos?" (v. 12).

Mais uma vez, os cobradores de impostos não eram bem vistos pelos outros judeus, uma vez que eles próprios eram judeus que trabalhavam para Roma cobrando impostos de seu próprio povo em nome de Roma. Os judeus viam Roma como uma força de ocupação hostil. Sua presença era uma vergonha e humilhação nacional. A maioria do povo via a qualquer judeu que cooperasse com a imposição de Roma sobre povo de Deus como traição a Deus e a seus compatriotas. Os cobradores de impostos eram percebidos como traidores. E não apenas isso: os cobradores de impostos eram ainda mais odiados porque a maneira como ganhavam seu dinheiro era arrecadar mais do que o devido a Roma, ficando com a diferença. Muitos guardavam mais do que era justo, defraudando, assim, a seus conterrâneos (Lucas 19:8).

Portanto, eles eram vistos não apenas como agentes traidores e opressores, mas também como ladrões. Para muitos judeus, o que os cobradores de impostos faziam era imperdoável.

Alguns cobradores de impostos chegaram a ser batizados por João. Isso significava que eles desejavam se arrepender publicamente de seus pecados e evitar a ira vindoura (Lucas 3:7), participando, assim, do Reino vindouro do Messias (Mateus 3:2). Quando chegaram a João, perguntaram: Mestre, o que faremos?

O fato de chamarem a João de mestre mostra que aqueles cobradores de impostos tinham grande respeito por ele e o consideravam uma autoridade no Reino do Messias.

João dá-lhes uma resposta simples: Não recolhais mais do que aquilo a que vos foi ordenado (v. 13). Roma permitia-lhes cobrar uma comissão para sua própria compensação, mas isso era muitas vezes abusado e excedido.

Em outras palavras, João diz a eles para continuarem fazendo seu trabalho sem se aproveitarem de sua posição para roubar aos outros, embolsando mais do que deveriam. Eles deveriam respeitar às outras pessoas e tratá-las como queriam ser tratados. A resposta de João aos cobradores de impostos aplica os mesmos princípios (Levítico 19:18b; Mateus 7:12) às circunstâncias aplicadas aos outros que lhe haviam feito uma pergunta semelhante.

O que os homens aparentemente sentiam ser algo imperdoável era, de fato, algo ao qual Deus estava disposto a perdoar. Sabemos que alguns cobradores de impostos se arrependeram e entraram no Reino de Deus (Mateus 21:32). O discípulo de Jesus, Mateus, referido como "Levi" no Evangelho de Lucas (Mateus 9:9-13; Lucas 5:27-29) e Zaqueu de Jericó (Lucas 19:1-10) são dois desses cobradores de impostos mencionados por nome; ambos se tornaram discípulos de Jesus.

Em seguida, Lucas relata que alguns soldados o estavam questionando, dizendo: "E nós, o que faremos?" (v. 14a).

Conforme discutido acima, esses soldados provavelmente eram judeus do exército de Herodes Antipas ou Guardas do Templo. Porém, também existe a possibilidade de serem legionários romanos; neste caso, seriam gentios.

Se esses soldados fossem parte das tropas herodianas judias ou guardas saduceus do templo, a aceitação de João teria sido comparável à sua aceitação e oferta aos coletores de impostos.

Se esses soldados eram legionários romanos, eles eram gentios desprezados, o que tornaria a aceitação e a oferta de João ainda mais notáveis. Apesar de inúmeras profecias dizendo o contrário (Gênesis 12:3; Salmos 86:9Isaías 49:6; 52:1556:6-8; Daniel 7:14Amós 9:11-12), os judeus geralmente consideravam aos gentios como excluídos do Reino messiânico. Além do mais, embora aqueles soldados pudessem parecer ser gentios humildes, eles eram membros de um exército opressor e inimigos do Messias e de Seu Reino.

Se este era o caso, seria mais notável que João não os tivesse recusado. Ele, entretanto, aplica os mesmos princípios de amor e justiça a eles (Levítico 19:18b; Mateus 7:12) aplicado a todos os outros.

E disse-lhes: "Não tirem dinheiro a ninguém à força, nem acusem falsamente ninguém, e contentem-se com o vosso salário" (v. 14a).

Eles também poderiam ser perdoados de seus pecados (Lucas 3:2) e entrar no Reino de Deus (Mateus 3:2), evitando, assim, a ira vindoura (Lucas 3:7) caso se arrependessem (mudassem sua perspectiva para a perspectiva de Deus).

De fato, Jesus afirma que os gentios, incluindo os soldados romanos, estariam em Seu Reino, enquanto os descendentes infiéis de Abraão perderiam o banquete messiânico ao elogiar a fé do centurião romano (Mateus 8:8-13):

"Digo-vos que muitos virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se-ão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus; mas os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; naquele lugar haverá choro e ranger de dentes" (Mateus 8:11-12).

Independentemente de os soldados serem gentios romanos, traidores pagãos do pertecentes ao exército de Herodes ou às tropas pró-saducéias da Guarda do Templo, o que João lhes diz para fazer era não tirar vantagem de ninguém abusando de sua autoridade pela força ou pela fraude (ou qualquer outra forma), visando não prejudicar às pessoas para benefício próprio.

João acrescenta o seguinte em suas instruções a eles: Contentem-se com seus salários. Essa linha adicional sobre o contentamento com seus salários pode ter sido uma diretriz para não abusarem de sua posição de autoridade para roubar dos outros por estarem descontentes com seus salários. O contentamento é uma virtude bíblica (Filipenses 4:11-13). Jesus desfere palavras duras àqueles que abusavam de sua autoridade para explorar aos outros (Mateus 23:4; 14).

A versão bíblica do contentamento contraria à concepção dos regimes autoritários, como a elevação da inveja proposta pelo comunismo. Quando a Bíblia emite o mandamento de "contentar-se com seu salário", isso é para nossa edificação e bênção; desta forma, evitamos as consequências naturais e autodestrutivas associadas à ganância. As autoridades humanas não podem mudar aos corações das pessoas (Romanos 9:30-32). As autoridades humanas são designadas por Deus para prevenir o mal, não para redimir os corações humanos (Romanos 13:3-5).

Quando as autoridades se colocam na posição de impor escolhas morais, elas usam sua autoridade indevidamente; elas devem criar limites dentro dos quais os humanos podem fazem escolhas, não devendo substituir as escolhas humanas. Embora Deus saiba o que é melhor para nós, Ele dá aos seres humanos o arbítrio para escolher. Porém, Ele revela Suas leis morais de causa e efeito através da criação (Romanos 1:18-21; Salmo 19), bem como através das Escrituras, para que os seres humanos tenham orientação para fazerem escolhas produtivas, escolhas que tragam vida em vez de morte (Deuteronômio 30:19; Gálatas 6:8). As instruções de João revelam a seu público as consequências morais de suas escolhas, incluindo o julgamento de Deus sobre a injustiça (Romanos 1:18-28).

Em suma, os ensinamentos e diretrizes de João Batista estavam conectados à Lei de Deus e à aliança/tratado de Deus com Seu povo, preparando o caminho para a vinda do Messias. Seus mandamentos também predizem muitas das mesmas coisas que Jesus ensinaria mais tarde. Isso é consistente com a afirmação de Jesus de ter vindo para cumprir a Lei e os profetas (Mateus 5:17).

Os ensinamentos de João soavam tão parecidos aos do Messias (Jesus) que muitos o confundiram com o Messias (Lucas 3:15-18). Este é o assunto da próxima seção de nosso comentário do Evangelho de Lucas.

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